Quem nos dera isto em Portugal

Ora imaginem isto em Portugal: um ministro da Economia que se disponibiliza para, durante uma hora, responder seriamente, num formato de webinar, a todas as perguntas que cidadãos lhe queiram colocar. Sem mídia, sem politiquice, falando abertamente e informando com conteúdo sólido e sem slogans políticos. E que termina o encontro com um amigável “voltarei de bom grado”.  E que, por acaso neste webinar foi tratado por você, mas noutros foi tratado por tu, sem que isso lhe tenha causado qualquer mossa.

Foi o que aconteceu mais uma vez na série de webinars “Europe Calling”, sob o tema: “Como pode a transformação na Europa ser bem sucedida?- Um diálogo de cidadãos europeus” com Robert Habeck, Vice-Chanceler e Ministro Federal da Economia e da Acção Climática da Alemanha, no qual participaram mais de 7.000 pessoas

E assim fica bem patente a diferença entre o que acontece em Portugal, onde a sociedade civil organizada é sistematicamente menosprezada pelos governantes, e a seriedade com que é encarada noutros países.

E isto é um indicador de muita, muita coisa.

A UE é o eixo franco-alemão. O resto é paisagem

agora fazei o favor de ler o artigo do Henrique Burnay, no Expresso. Totalmente grátis.

Uma (dupla) lição para a selecção nacional

O que se passou ontem no Grupo E do Mundial foi sensacional. Antes da competição, poucos duvidavam que seriam a Espanha e a Alemanha a passar. A única dúvida era qual das duas passaria em primeiro. Hoje, chegaram a estar as duas eliminadas, mas a Espanha lá se safou, apesar da derrota contra o Japão-sensação. E que isto sirva de lição para a selecção (efectivamente, a selecção) nacional. Uma dupla lição: para não subestimar adversários teoricamente inferiores e para não se encolher perante os gigantes. Porque os gigantes também caem e ontem caíram dois. Se Portugal jogar tanto quanto sabe, com humildade e determinação, o caneco pode mesmo vir cá parar.

Alemanha e a Guerra na Ucrânia – uma entrevista

Invasão da Rússia destruiu muitas crenças de longa data na política externa da Alemanha

Janis Kluge é investigador político e economista da Stiftung Wissenschaft und Politik (Berlim) e deu uma entrevista ao DN. Merece uma leitura atenta.

A música de Rammstein é vinho de outra pipa…

Foi preciso que, na Base Aérea de Rammstein, Alemanha, o Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin (no  Encontro de Líderes do Exército) estivesse presente para o governo alemão retomar o esforço europeu em prol do armamento do exército ucraniano.

Depois de semanas e semanas em que as elites políticas alemãs não queriam ceder, a exemplo do que aconteceu com o famoso Nordsteen 2, bastou a palavra de um alto dirigente americano para tudo mudar. Ou seja, só os EUA conseguem impor o que quer que seja aos dirigentes políticos alemães. Fica a pergunta: porque será? Responda quem saiba…

Alemanha com “o gás de fora”…

There’s a structural problem Germany is waking up to: the competitiveness of its heavy, energy-intensive industry (chemicals, engineering, metals) is based in no small part on cheap Russian gas; take that away, and made-in-Germany may not that different to, ehem, made-in-Spain (Javier Blas, Bloomberg).

E onde diz Espanha podem substituir por Portugal ou outro exemplo. Por cada foto de Bucha ontem ou de Mariupol amanhã, fico na dúvida se os dirigentes alemães conseguem dormir em paz. O capitalismo selvagem é para o lado que dorme melhor. Provavelmente, eles também….

Vilnius

Junto à embaixada da Alemanha

Schröder: O mais perigoso dos idiotas úteis de Putin*

Foto: Alexey Druzhinin/Afp/Getty Images via Expresso

O antigo Chanceler alemão, Gerhard Schröder é o exemplo de alguém que traiu o seu eleitorado e a sua nação sendo, hoje, um gigantesco embaraço para a Alemanha, a Europa e o mundo ocidental.

Este homem liderou a Alemanha entre 1998 e 2005, eleito pelo SPD (o equivalente ao nosso Partido Socialista) e que após deixar o cargo foi trabalhar para o governo de Putin. Sim, não vamos brincar com as palavras, ele foi trabalhar para a Rosneft e a Gazprom,  empresas da área da energia da Rússia e já se sabe que ninguém, muito menos um ex Chanceler alemão, vai trabalhar para uma grande empresa russa sem a aprovação e supervisão de Putin. E é hoje lobista de Putin.

Segundo o Expresso, o desconforto na Alemanha é enorme. Hoje. Ontem nem tanto…Como nós, portugueses, os entendemos. A vergonha e desconforto com Durão Barroso ainda hoje não desapareceu.

 

*Forma como foi apelidado pelo jornal britânico “The Telegraph”

O perigoso trilho da personificação do mal

É indubitável que Vladimir Putin é um déspota, sem escrúpulos. E a questão essencial não é se há outros ou não. Até porque sabemos que há.

A questão essencial é se só agora ele se revelou como tal.

Obviamente que não. E, no entanto, todo o chamado “Mundo Ocidental”, do qual fazemos parte, hoje chocado e revoltado com a sua ofensiva bélica sobre a Ucrânia, num conflito armado que dizima vidas inocentes, não se inibiu de fazer negócios, de engrossar fortunas, e até, ficar na sua dependência.

Já se sabia quem era Vladimir Putin quando a Europa – leia-se França e Alemanha -, aceitou ficar em grande parte dependente do gás russo. Ou quando Portugal foi à Rússia vender vistos gold. Ou quando a OTAN começou a expandir-se para o outrora Bloco de Leste, rumo à fronteira com a Rússia, em violação do compromisso por si assumido de não fazer tal.

Tudo isto foi acontecendo enquanto jornalistas, activistas e opositores a Putin, eram assassinados; enquanto os envenenamentos se tornavam uma espécie de instrumento de política internacional russa, etc.

Da mesma forma que o “Mundo Ocidental” sabe bem quem é e que é Xi Jiping e a China. E se a China resolver invadir a Ilha Formosa, ou Taiwan, ou que se lhe quiser chamar, o mesmo “Mundo Ocidental” que deslocou para a China a sua indústria, e que se tornou dependente dos seus fornecimentos de bens e capitais, vai bradar “Sacanas dos chineses! Maldito Xi Jiping!”. [Read more…]

Alemanha VS Rússia: incidente diplomático na África do Sul

Não, não é montagem. A embaixada russa na África do Sul fez mesmo um tweet em que agradece o apoio de “um grande número” – e que grande número este é – de indivíduos e organizações sul-africanas, na sua luta contra o “nazismo” na Ucrânia. E a embaixada alemã no país respondeu mesmo com outro tweet, acusando os russos de cinismo e de chacinar crianças, mulheres e homens em proveito próprio, sob o falso pretexto de lutar contra o nazismo. O tom continua a subir e esta Alemanha não parece, de todo, a Alemanha a que nos habituamos nos últimos anos. Agora que já “não precisa” do gás russo, agora que já nem o Schalke 04 precisa do petro-rublos da Gazprom, os tempos de vassalagem ao Kremlin serão apenas uma recordação do passado. Por enquanto…

Já agora, “combater o nazismo na Ucrânia” é tradução directa para russo do americanismo “armas de destruição maciça no Iraque”. As ideologias mudam, mas o modus operandi é o mesmo.

Putin e alguma esquerda portuguesa e a União Nacional entram num bar – A ironia do destino – Crónicas do Rochedo 51

A 12 de Março de 1938 Hitler anexa a Áustria. Afinal a maioria da população até era alemã, justificavam os nazis. Anos antes, em 1918, a Alemanha assinara um tratado em que assumia nunca anexar este seu vizinho mesmo sabendo que uma parte dos seus habitantes falavam alemão.

Por essa altura, anos 30, a mesma Alemanha nazi afirmava que as populações de etnia alemã na Checoslováquia e em especial na chamada região dos Sudetas, eram perseguidos e mal tratados. Por isso, explicavam, a Alemanha via-se forçada a anexar essa região. Foi o primeiro passo para a posterior anexação de toda a Checoslováquia.

Por essa altura, as entranhas do Estado Novo olhavam para as investidas de Hitler com uma visão utilitarista. Se, por um lado, Salazar preferia Mussolini a Hitler, por outro lado via em Hitler e no nazismo uma forma de impedir o crescimento do comunismo. Mas não é sobre esta matéria que quero falar. Prefiro abordar aquilo a que chamo de “uma ironia do destino” de alguma da nossa esquerda actual na sua relação com Putin.

Voltando então aos anos 30 do século passado: a maioria dos apoiantes de Salazar olhavam para estas iniciativas de Hitler em 1938 com fascínio. Entendiam que o homem até tinha razão, os austríacos até eram uma espécie de bávaros. E os sudetas eram maioritariamente habitados por alemães, caramba. Mais, gostavam de relembrar que a Alemanha tinha sido humilhada pelas potencias ocidentais no final da I Guerra Mundial e que reinava a hipocrisia por parte destas. E nem era verdade que Hitler fosse entrar em guerra com o resto da Europa, ele não era parvo. Foi de tudo isto que me lembrei quando vi, nos últimos dias, o discurso tanto do PCP como de certos “intelectuais” da nossa esquerda, um discurso entre o apoio a Putin ou o justificativo da sua acção: afinal, a culpa é dos Aliados que humilharam a “Mãe Rússia” após a queda da União Soviética e, sublinharam o facto de tanto a Crimeia como as duas outras regiões hoje “anexadas” são de maioria étnica russa. E o Kosovo, pá, o Kosovo”. Ontem a União Nacional, hoje a esquerda intelectual. A mesma luta.

Este discurso não é apenas estúpido.

[Read more…]

Rui Rio prestou um péssimo serviço ao regime democrático português

Rui Rio prestou um péssimo serviço ao regime democrático português, ao não ter tido a vontade, a coragem e a determinação de se demarcar categoricamente de André Ventura e do discurso desonesto, manipulador e de ódio da extrema-direita. Para quem tanto gosta de aludir à Alemanha, e elogiar o seu sistema político, Rio deveria estar mais atento ao exemplo de Angela Merkel, que sempre defendeu o cordão sanitário em torno da AfD, mesmo quando isso significou entregar o poder ao Die Linke, o homólogo alemão do BE, na Turíngia.

Rio falhou quando se enterrou em ambiguidades para se esquivar a dizer aos portugueses se conta ou não com a extrema-direita, deixando a porta aberta a entendimentos. Falhou ao ser incapaz de enumerar as características extremistas do Chega, que são inúmeras e evidentes, situação que vem reforçar a ideia de que a porta está e estará aberta a entendimentos. Falhou quando se deixou enredar na teia de Ventura, permitindo-lhe marcar o passo do debate, fazendo o seu jogo e respondendo às suas perguntas. Falhou quando gastou tempo precioso, que nestes debates é escasso, para responder a vacuidades como a questão da prisão perpétua. Quem não consegue debater com Ventura sem ser capturado por ele não tem condições para liderar o país. Vice-primeiro-ministro de António Costa é o máximo que poderá aspirar. E mesmo assim…

Marxismo cultural na República Bolivariana da Alemanha

Um governo que resulta de um acordo entre os homólogos alemães do PS, PAN e IL decidiu aumentar o salário mínimo em 25%, criar um programa de construção de 400 mil habitações sociais, para baixar as rendas, e legalizar a cannabis, entre outras medidas progressistas. Se acontecesse por cá, logo surgiria um palerma qualquer a gritar:

  • Extrema-esquerda! Marxismo cultural! Venezuela!

Ou outra dessas palernices que mantêm a direita radical e extremista divertidas. Como acontece num país onde a maioria da população já atingiu a maturidade política, a coisa circunscreve-se aos primos neo-nazis do CH, devidamente afastados dos democratas por um robusto e bem-definido cordão sanitário. Lá chegaremos. Estamos há tempo demais no jardim de infância.

A pegada liberal a puxar para o fundo

O êxito dos partidos liberais junto dos jovens nesta altura do campeonato – ao fim de mais de três décadas de triunfante neoliberalismo, com os seus brutais efeitos no aumento da desigualdade, o predadorismo ambiental, a obstinação na competitividade e a maximização do lucro a todo o custo, o crescimento e poder desmesurado das multinacionais, o espezinhamento do bem-comum, uma globalização insana, etc. – ultrapassa a minha capacidade de entendimento e esboroa a minha já parca confiança no ser humano.

Nas recentes eleições legislativas na Alemanha, a faixa etária dos 18 aos 24 anos votou quase tanto nos Verdes (23%) como no partido liberal FDP (21%), o qual recebeu a maior parte dos seus votos exactamente desta faixa etária.

Vá se lá perceber isto. Pergunto-me se, por via das redes sociais, da magia dos unicórnios, start ups, hubs e labs os jovens já vêm formatados para servir o grande capital e insuflados de individualismo. [Read more…]

A eleição mais importante de ontem na U.E.


Tal como se previa, para governar a Alemanha, serão necessários 3 partidos. Ou apenas 2, caso o SPD e CDU resolvam entender-se, hipótese que não pode ser descartada, embora nenhum dos grandes partidos a deseje. [Read more…]

Alemanha, primeiras projecções

Primeiras projecções dos resultados eleitorais na Alemanha (ARD e ZDF) revelam um empate técnico entre CDU/CSU e SPD. Verdes, em terceiro lugar, poderão vencer em Berlim, actualmente governado pelo SPD. Coligação que governará o motor da Alemanha é ainda uma incógnita e poderá assumir vários formatos, com Verdes, FDP e Die Linke na calha para ser junior partners dos dois grandes partidos, que poderão governar sozinhos. A melhor notícia, no meio da indefinição e incerteza reinantes, é que o crescimento da extrema-direita estagnou. Depois de em 2017 ter entrado em força no Bundestag, com 94 assentos conquistados, ambas as projecções apontam para a perda de 7 a 10 deputados. Haja cordão sanitário!

Paulo Portas mentiu

Na sua homilia de Domingo à noite, Paulo Portas mentiu. É mentira que o cordão sanitário que mantém a AfD fora do sistema político alemão se aplique também ao Die Linke. O Die Link tem coligações regionais e locais com SPD e Verdes. E foi Merkel quem vetou a tentativa de acordo que incluía o seu partido e a AfD, na Turingia, permitindo ao Die Linke governar, com o SPD e Verdes como parceiros minoritários. Não foi só a equivalência absurda entre Lula e Bolsonaro. Lula tem as suas falhas mas não é comparável a Bolsonaro e tem tanto de extremista como o Irrevogável. Porém, no caso alemão, Paulo Portas mentiu. E fê-lo deliberadamente, porque Portas pode ter muitos defeitos, mas ser ignorante não é um deles.

Extermínio Social Democrata

Foto: Nuno Pinto Fernandes/ Global Imagens@JN

Na Alemanha, potência e motor da Europa, existe um cordão sanitário que só por uma vez esteve em risco de ser quebrado, na Turíngia, na eleição regional de 2020. Angela Merkel, que classificou a participação da CDU numa aliança presidida pelo FDP que incluía a AfD de “imperdoável”, impôs a retirada do partido do acordo e o líder regional dos conservadores caiu. E notem que foram os conservadores, não os liberais, quem se afastou da extrema-direita, o que não deixa de ser interessante de analisar à luz daquilo que apregoa o próprio liberalismo.

Como resultado, subiu ao poder Bodo Ramelow, candidato do Die Linke, apoiado pelo SPD, Verdes e com a abstenção da CDU. Ao optar por esta solução, Angela Merkel deu um claro sinal à Europa. Um sinal que certa direita radicalizada se recusa, por cá, a aceitar. Merkel disse-nos: não se fazem alianças com fascistas. E, se for necessário fazer uma cedência ao Bloco de Esquerda lá do sítio, nos antípodas do partido de Merkel, que assim seja. Mas não com a extrema-direita. Nunca. [Read more…]

Quando os doidos tomam conta da casa

As medidas para um suposto combate à pandemia estão a enlouquecer os decisores políticos, um pouco por todo o lado. Na vertigem diária dos meios de comunicação com os números de infectados e de falecidos acontece de nos esquecermos de coisas que aconteceram nos dias anteriores. Ainda se lembram daquela reunião de madrugada em que Merkel decidiu uma coisa para nas horas seguintes pedir desculpa e decidir o seu contrário?

Agora foi em Espanha. Aliás, aqui em Espanha as contradições são tantas que era preciso criar um segundo Aventar e temático. A última foi ontem: decidiram que era obrigatório o uso de máscaras nas praias e piscinas. Perante os protestos, hoje decidiram que afinal já não é obrigatório.

[Read more…]

Crónica do Rochedo 42 – Grécia: O Elefante na Sala

O gigante do mercado de viagens de turismo, TUI, através do seu presidente Marek Andryszak, lançou um comunicado a informar quais as tendências nas actuais reservas do mercado alemão para a temporada de férias de verão deste ano.

Pela primeira vez, as ilhas gregas atingem o primeiro lugar como destino escolhido pelos alemães (principal mercado para o turismo da Europa). Aliás, Grécia e Turquia são quem mais sobe. Já Portugal e Espanha quem mais desce. No Top 15 das reservas já contratadas pelos alemães, o Algarve aparece num assustador 15º lugar e Espanha vê a eterna número 1 das escolhas dos alemães, Maiorca, descer para segundo lugar, ultrapassada pela grega Creta. Algo inimaginável nos anos anteriores à pandemia. E a Riviera turca à frente das Canárias. Aliás, nos cinco primeiros lugares, a Grécia coloca três destinos e a Turquia um – só a espanhola Maiorca , em segundo lugar, se intromete nesta guerra. Antes da pandemia, a guerra pelo top 5 era dividida entre as espanholas Canárias e Maiorca com a Turquia a tentar espreitar. Como chegou aqui a Grécia em tão curto espaço de tempo? Pelo preço? Não. Com campanhas de marketing? Não.

[Read more…]

A vacina muçulmana


Os dois cientistas por trás da vacina da Pfizer são filhos de imigrantes turcos na Alemanha. Ugur Sahin e Özlem Türeci, da BioNtech, começaram a estudar o vírus ainda a Europa não sabia o que a esperava, em meados de Janeiro, e são os parceiros da farmacêutica que, aparentemente, está mais próxima de disponibilizar a tão ansiada vacina.

Sublinho a ironia de sermos “salvos” da pandemia do século por filhos de imigrantes, ainda por cima muçulmanos, enquanto outros, com menos sorte, se afogam no Mediterrâneo, numa outra pandemia sem fim. Ou são perseguidos e espancados por grupos de extrema-direita. Ou são estigmatizados e enfiados no mesmo saco que a minoria terrorista. Ou são usados como arma de arremesso por demagogos oportunistas com agendas totalitárias. Não sei quanto a vós, mas eu vi aqui um belo raio de sol neste 2020 sombrio. Quanto à extrema-direita xenófoba e racista, bem, é lidar.

Merkel terá mesmo potencial?

Trata-se do gigantesco acordo comercial conhecido sob o lema “carros por comida”, prenhe da lógica comercial insustentável que tem sido seguida a passo estugado pela UE nos últimos anos, em estridente contradição com os anúncios “verdes” da mesma UE.

É o acordo que vai contribuir para

  • o agravamento da crise climática,
  • a devastação das florestas tropicais e da biodiversidade sul-americana,
  • o aumento de atentados aos Direitos Humanos,
  • novos ataques à produção agrícola na Europa (sobretudo de pequenos produtores),
  • a acentuação de assimetrias e vulnerabilidades
  • a redução de padrões de saúde
  • o ataque aos direitos dos trabalhadores,
  • o aumento do sofrimento animal e, como é hábito,
  • é um acordo que resulta de um processo pouco transparente e contribui para esvaziar a democracia por via da harmonização regulatória em comissões técnicas sem escrutínio e com forte influência de lobistas.

A despeito de tudo isto, bem como dos muitos protestos da sociedade civil e de moções contra o acordo UE-Mercosul aprovadas nos parlamentos da Holanda, Áustria e da Valónia, os governos dos países-membros – com a Alemanha e Portugal na linha da frente – estão determinados a levar por diante a conclusão do acordo, de preferência já durante a actual presidência do conselho da UE, que a Alemanha assume até ao final do ano. [Read more…]

Óptimas notícias:

Alemanha pede tecto salarial no futebol europeu.

É mesmo?

É impressão minha, ou von der Leyen assume nesta crise uma posição europeia que contraria a egoísta do seu país? Com as palavras: “Estamos numa encruzilhada” (…) “Este vírus vai dividir-nos definitivamente em ricos e pobres, em favorecidos e desfavorecidos? Ou sairemos desta situação mais fortes e melhores, com as nossas comunidades mais coesas?”, questionou. “Vamos dar mais credibilidade à nossa democracia, como um bloco forte e um actor fiável a nível mundial?”  von der Leyen parece mesmo estar a avisar a Alemanha, Áustria, Holanda e Finlândia, de que a emissão dos chamados coronabonds – emissão conjunta de dívida – é imprescindível, se não se quiser aumentar mais ainda a desigualdade, por via de juros mais elevados para os países fracos e vice-versa, ao sabor dos todos poderosos mercados. A Europa, mais uma vez, a derrapar.

Covid-19: porque morrem tão poucos na Alemanha?

AL

Na Alemanha, no momento em que escrevo isto, existem cerca de 15 mil infectados com o novo coronavírus. É o quinto país com maior número de infectados, atrás da Itália e do Irão, na casa dos 18 mil, de Itália, que ultrapassou os 41 mil, e da China, que ainda detém o recorde de 81 mil infectados.

Quando olhamos para o número de mortes por covid-19, contudo, a disparidade é gritante. Em Itália morreram 3405, na China 3132, no Irão 1284 e na vizinha Espanha perderam a vida 833 pessoas. Na Alemanha, o número de vítimas mortais não vai além das 44. O que explica esta disparidade? Objectivamente, não sei. Não tenho dados que me permitam lá chegar. Mas desconfio que o gráfico em cima poderá explicar alguma coisa.

Preto no branco: a aposta na exportação e na globalização desatada produz pobreza e desigualdade social

Não é nada de novo: há os vencedores e há os vencidos do actual modelo de globalização. A quimera de que o “livre comércio” é bom para todos não passa disso, de uma quimera batida à exaustão para justificar a expansão do modelo dominante, que não só aumenta a desigualdade, como fomenta aberrações “compensatórias” e atentados contra o clima.

Mas não deixa de ser irónico e bombástico que, no seu último relatório sobre a Alemanha, venha o FMI atestar à campeã europeia das exportações o efeito tóxico da sua aposta desproporcionada na exportação: a Alemanha, com os seus volumosos excedentes de exportação, não só produz desequilíbrios massivos na zona do euro, como também aumenta os desequilíbrios sociais na própria Alemanha. Milhões de alemães pouco beneficiaram do aumento das exportações, enquanto os crescentes excedentes alemães das últimas duas décadas foram acompanhados por um aumento acentuado dos rendimentos de topo na Alemanha, constata o FMI. Actualmente, os 10% mais ricos possuem 60% dos activos líquidos, sendo este o valor mais elevado na zona do euro.”

Mas, mas… não era a Alemanha que detinha a “receita” para a Europa??? E vem agora o Fundo Monetário Internacional, esse galeão da economia neoliberal, puxar publicamente as orelhas à campeã??? Espantoso.

Tão espantoso quanto inconsequente. A Alemanha prossegue inabalável, ignorando o aumento da pobreza no país1 , bem como os efeitos do modelo para as “periferias” e propulsionando a globalização baseada no consumo predador de recursos naturais a nível da UE e global.

A discrepância entre as constatações de fracasso social e destruição ambiental por um lado, e a progressão triunfante da ideologia neoliberal por outro, é cada vez mais gritante. Porém, a gritaria não passa de música maviosa aos ouvidos das multinacionais e dos governantes incapazes que lhes servem de sabujos.


1 Segundo o 5º Relatório do Governo Alemão sobre Pobreza e Riqueza, referente a 2017,  15,7% da população vive abaixo ou no limiar da pobreza. Trata-se de quase 13 milhões de pessoas. Um aumento de 3% em relação a 2002.

 

A propósito,

o comércio livre é o proteccionismo dos mais fortes.

O homem branco nunca é terrorista: sofre de perturbações mentais

UPNRS

Imagem via Uma Página Numa Rede Social

Em Bottrop, na Alemanha, um homem tentou atropelar várias pessoas na noite de 31 de Dezembro. Segundo o jornal digital Notícias ao Minuto, que cita “as instituições judiciais e policiais de Essen”, tratou-se de “um ataque dirigido, motivado pela hostilidade do condutor contra estrangeiros”. Terrorismo, portanto.

Felizmente – para o agressor, claro – o criminoso sofrerá de problemas mentais. Talvez por isso o termo “terrorismo” não seja referido uma única vez na peça jornalística, nem como hipótese. Porque tudo fica sempre mais simples quando o delinquente é branco e não um perigoso emigrante do Magrebe, do Médio Oriente ou do Corno de África. Esses nunca sofrem de problemas mentais, são sempre terroristas. Já um homem branco, naturalmente bom e inofensivo, só por perturbação mental poderia levar a cabo tamanha barbaridade. E quem discordar é um perigoso esquerdalho, empenhado na instauração de uma ditadura Estalinista.

 

A insustentabilidade à vista e os tomates nos olhos

Toda a gente sabe que andamos a teimar num sistema de crescimento insustentável e destruidor.

Toda a gente sabe, mas (quase) toda a gente faz de conta que não. Aos que, há décadas, andam a alertar para os limites do planeta e a demonstrar os estragos feitos, aplica-se-lhes o carimbo de profetas da desgraça, paranóicos.

A reacção dos decisores aos profusos sintomas da destruição acontece de má vontade, ao relanti, a fingir e só depois de muito estrago – até irreversível (exemplo de fingimento aqui).

Os problemas são gritantes a nível mundial (exemplo aqui).

E, por norma, os custos das externalidades negativas são transferidos para a comunidade, esvaziando e contrariando o princípio do causador- pagador.

Demos uma olhadela à Alemanha, país considerado um caso de sucesso do sistema prevalecente e que gosta de arvorar em bem comportado também em termos ambientais. E, aqui chegados, vejamos apenas dois exemplos: [Read more…]

Para que não restem dúvidas sobre quem realmente manda

Europe

Imagem via The Globalist

Na imagem, cada país surge com a bandeira do seu principal parceiro comercial. A Alemanha domina a Europa, a Federação Russa o seu quintal e a China os dois anteriores, mais uns subúrbios mediterrâneos. Da grande América de Trump apenas uma bandeira no seu enclave no Médio Oriente. Para que não restem dúvidas sobre quem realmente manda.