Escavacar um monte negro de costa a costa para construir a casa do coelho

O sacro-santo Cavaco Silva falou. Mais uma vez. Sempre que Cavaco fala, especialmente depois de findado o seu tempo enquanto figura activa e parte integrante da política portuguesa, tem um condão: o condão de unir a esquerda.

Cavaco Silva falou e disse. Deixando de parte a baixeza de certas partes do seu discurso, apontou a este governo os traços da incompetência, da desfaçatez, dos números de circo. Não está errado, isso é certo. Teria toda a razão de ser, se tais críticas não fossem feitas por… Cavaco.

Cavaco Silva, o mesmo que agora aponta tantos epítetos negativos ao governo, é o mesmo Cavaco Silva que, no seu segundo mandato enquanto primeiro-ministro (PM), acumulava “casos e casinhos” semana sim, semana não. O mesmo Cavaco que agora enumera os truques deste governo e descreve a bandalheira em que se encontra o Estado de Direito Democrático da República, era o mesmo que, nos seus dias enquanto chefe de governo, via passar-lhe por debaixo do nariz os Dias Loureiro, os Duarte Lima, os Oliveira e Costa, à boleia dos BPNs da vida. Este Cavaco é o mesmo que, enquanto Presidente da República, usava e abusava da comunicação institucional da Presidência para se defender e desmentir acusações de que era alvo. É certo que vivemos hoje na época dos cliques, das vinte e quatro horas ininterruptas de serviço informativo; nos anos 90, tínhamos de esperar pelo fim‑de‑semana, todas as semanas, para sabermos qual era o novo caso em que estava mergulhado o governo de Cavaco. Agora, aparentemente, é o Cavaco dos ataques e das acusações tendo como alvo o Partido Socialista. A memória afecta toda a gente, é um facto, mas não devia afectar Cavaco Silva que, para todos os efeitos, apresenta lucidez quando fala, dentro de casa, da casa dos outros. [Read more…]

Volte sempre, Cavaco Silva!

Sempre que Cavaco abandona o seu retiro presidencial para fazer política, interrompendo a luxuosa transumância entre o Convento do Sacramento e a propriedade na Herdade da Coelha, permutada com o impoluto amigo Fernando Fantasia, três coisas acontecem.

A primeira é o cerrar de fileiras dos partidos à esquerda. Não que se vão entender todos para ressuscitar a Geringonça, mas parece-me evidente que Cavaco tem o poder de, aparecendo, recordar muita gente daquilo que foi o cavaquismo. Que teve todos os defeitos do Costismo e de outros ismos mais.

A segunda é a menorização da liderança do PSD. Montenegro, o primeiro político da história deste país que se propôs a estar 5 anos em campanha para umas Legislativas, tem sido uma desilusão. Não consegue impor-se, apesar da sucessão de casos em São Bento, não consegue travar a ascensão do CH, que se faz, sobretudo, à custa de antigos eleitores do PSD, não se liberta, ele próprio, dos casos e casinhos que o ensombram, entre ajustes directos, ligações opacas em Espinho e uma mansão não declarada, e não descola nas sondagens, pese embora o valor relativo dos estudos de opinião. Teve que vir Cavaco para provocar a agitação que Montenegro é incapaz de causar. [Read more…]

Quando o cavaquismo censurou Herman José

O ano era 1996, o primeiro-ministro António Guterres e a Igreja Católica ainda não tinha vergonha de demonstrar publicamente o seu enorme poder e influência. No olho do furacão estava o sketch “A última ceia”, integrado no programa Herman ZAP, alvo de tentativa de censura pelas forças alinhadas à direita. Marcelo Rebelo de Sousa, então líder do PSD e da oposição, juntou-se ao coro de críticas da restante direita e da Igreja Católica, num esforço conjunto de cancelar o pai de todos os humoristas, mas a direcção da RTP, na altura liderada por Joaquim Furtado e Joaquim Vieira, não cedeu e deixou o episódio ir para o ar.

Desfecho diferente teve um episódio idêntico, em 1988, quando um sketch de outro programa de Herman José, Humor de Perdição, foi censurado em directo. O primeiro-ministro de então chamava-se Cavaco Silva e o controle da RTP tinha sido por ele entregue a Coelho Ribeiro, um operacional fascista da máquina da censura do Estado Novo, que o cavaquismo reciclou e colocou em posição de poder, onde teve a oportunidade de regressar à actividade censória, que, pelo menos nest caso, executou com distinção.

Cavaco Silva, que colocou um alto quadro da ditadura salazarista a controlar a RTP, não tem autoridade nem moral para falar em ataques à liberdade de expressão ou à democracia, na medida em que foi directamente responsável por alguns episódios de censura e de algumas tentativas de amordaçar a democracia. Já tem é idade para ter juízo, deixar de ser hipócrita e não fazer estas figuras.

Novas do submundo do cavaquismo

Duarte Lima acusado de se ter apropriado de 5 milhões de euros de Rosalina Ribeiro. Tudo normal, portanto.

A longa noite cavaquista

14101158833082Cavaco Silva entrou para a política, pelo menos, em 1980, tendo sido Ministro das Finanças de Sá Carneiro durante um ano.

Se fizermos de conta que só se está na política quando se ocupa determinados cargos, Cavaco Silva, nos últimos trinta e seis (36) anos, esteve, então, na política, cerca de vinte e dois anos, incluindo a já referida passagem pelo Ministério das Finanças, uns meses como líder do PSD na oposição em 1985, dez anos como primeiro-ministro (1985-1995) e outros dez anos como Presidente da República (2006-2016).

Se em vez de fazer de conta, formos sérios, a verdade é que, desde 1980, com mais ou menos poder, mais ou menos exposição, Cavaco Silva esteve sempre na política. Os momentos em que se afastou corresponderam a escolhas estratégicas, como quando deixou de ser primeiro-ministro para preparar a primeira candidatura à Presidência ou quando soube esperar dez anos, depois de perder com Jorge Sampaio, até conseguir o seu objectivo, tendo regressado, entretanto, ao Banco de Portugal e à docência universitária, duas formas de poder, porque, no mínimo, conferem prestígio e são, ainda, tribunas privilegiadas. [Read more…]

E tudo o BES levou – até as elites, diz Cadilhe

José Xavier Ezequiel
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Mesmo os media ‘sérios’ não conseguem desdenhar a oportunidade de, todos os anos por esta altura, alinharem na parvoíce do ano. Sendo que este Verão, até ver, o que está a dar são as banhocas dágua fria. Mesmo que a maioria dos consumidores da silly season não faça a mais pequena ideia do que é a esclerose múltipla. Ou se isso e a banhoca têm mesmo alguma coisa a ver uma com a outra.

Em contrapartida, o Económico resolveu convidar dois (relativamente) velhos marretas, do tempo em que o jornal ganhou nome, e pô-los a entrevistar, como deve ser, alguns dos cromos do tempo em que Portugal ainda parecia ter futuro.

Quinta-feira, 21 dagosto, foi a vez do ‘controverso’ ex-ministro das finanças do cavaquismo, Miguel Cadilhe. Entre outras frases a dar para o floreado-histórico-auto-indulgente, é muito interessante vê-lo afirmar que:

“Portugal está de luto e a elite está posta em causa com o fim do BES.”

Qual elite, caro Miguel Cadilhe?

Aquela que Salazar nos deixou, e que o cavaquismo se apressou a recuperar, feita de nomes tão sonantes como os Espírito Santo, esses que agora se afundam na ignomínia da pirosíssima fraude novo-rica?

Ou à elite nova-rica-propriamente-dita, aquela que Miguel Cadilhe ajudou a construir durante o advento do cavaquismo e dos BCP’s e dos BPN’s e da hoje pouco lembrada Caixa Económica Faialense?

Se é a alguma destas que Miguel Cadilhe se refere, não vejo aqui elites dignas desse nome. E isso, na verdade, explica muito do Portugal que não temos.

Esta Europa não.

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Ele gostava de votar, de votar com convicção num partido, movimento, pessoas que verdadeiramente representassem o interesse da parte maior do povo, em que orgulhosamente se inclui. Sou povo, diz com a verdade de quem é. O discurso da esquerda, que bem conhece de a ter militado (e depois abandonado, por não mais ser possível pertencer-lhe assim), não lhe chega. Atento, há muito que esse voto perdeu sentido. Votar em quem?, pergunta-me todo perdido e chateado de vida, indisponível para a comunhão de fé com essa esquerda titubeante, de pensamento omisso sobre a Europa, e sobre o lugar de Portugal nessa economia de competição inter-pares. Um jogo que gera a desigualdade anacrónica que também em Portugal está a liquidar a recente classe média patrimonial em que também ele, que é povo, até ver se inclui.

Ele até nem se importava de votar na esquerda dos governos, que já o enerva a vocação opositora de quem espera a sublevação histórica dos deserdados do capitalismo para tomar o poder. Bem conhece o cartório de culpas comprometidas com o cavaquismo dessa esquerda. Mas lá está: com Seguro a puxar a carroça é que nem pensar, e Costa tarda, tarda, zanga-se com quem insiste para que de uma vez por todas se chegue à frente, diz que por ora Lisboa lhe basta, que ainda tem lá muito que fazer.

Ele gostava de votar, mas diz-me que esta Europa merece o castigo da abstenção dos povos. Por uma vez, a abstenção tem um outro significado. Um sentido político que aponta o dedo à Alemanha do euro-oportunismo comercial e financeiro e dos egoismos da «emigração interior» dos alemães. Um sentido político, ouviste Angela?

Rede Ferroviária de Portugal em 1988

O troço Guimarães-Fafe encerrara três anos antes. Cavaco Silva era primeiro-ministro desde 1985.

Diz o Nu ao Roteiro

Ok, o pessoalzinho rançoso do costume não larga Cavaco Silva, trabalho encomendado por aquele a quem adulam. Acusam-no de prefácios vingativos para efeitos de revisionismo da própria imagem. Porém, uma vez que Cavaco se colocou à compita com os piores actores políticos que Portugal já conheceu, a tralha socratesiana, deixemos que a História diga de sua justiça de ambos. Já me convenci de que a única saída que o PR teve foi esperar a putrefacção política do Primadonna na sua Mentira, o que de facto aconteceu. [Read more…]

Conversa de café

adão cruz

Estava eu no café e na mesa ao lado dois amigos conversavam. Um deles tinha o Jornal de Notícias aberto de par em par e dizia para o amigo:

-Já viste isto, pá, quatro ou cinco páginas sobre os pupilos do Cavaco? Este já foi dentro. Qualquer dia vai ele.

-Eh pá, não mandes bocas foleiras, porque o homem nem sequer foi acusado. [Read more…]

BPN: ao cavaquismo o que é do cavaquismo

A oferta pelo governo do BPN ao BIC vale também pelo simbolismo. Começa por ser uma prenda à cleptocracia angolana e ao homem mais rico de Portugal, Américo Amorim, aquele que se dá bem com todos, hábito que lhe vem do PREC, altura em que multiplicou a fortuna. Quanto a isso nada de estranho, mais uma variante da caridade agora tão presidencialmente institucionalizada.

Mas sendo o BIC presidido pelo reformado Mira Amaral (18.156 euros mensais, paga-lhe a CGD após 18 de meses de trabalho), o ministro de Cavaco responsável entre outras barbaridades pela destruição da indústria nacional, pode dizer-se que de uma devolução se trata: o cavaquismo tinha um banco, assaltou-se a si próprio levando-o à falência, e recupera-o com capital injectado e metade dos trabalhadores, naturalmente nós pagaremos as indemnizações aos que vão ser despedidos, além dos 2,4 mil milhões de euros que já se sabia.

Tudo está bem quando acaba bem. Dias Loureiro e Oliveira Costa sorriem, um no seu exílio, o outro aguardando um julgamento de que já conhecemos o resultado, começou a temporada de verão na Aldeia da Coelha. Não me voltem é a falar da Grécia como exemplo chocante de esbanjamento de dinheiros públicos em proveito da casta dominante: esse Euro-2011 já o ganhámos nós, marcando golos na própria baliza.

A grande vitória…


53,37% dos portugueses, decidiram-se pela greve ao frete que o esquema vigente insistiu em apresentar como grande oportunidade para a resolução dos problemas do país.

Portugal conta com um Chefe do Estado eleito por perto de um quarto do eleitorado e as reacções ao glorioso evento, foram visíveis no passatempo prodigalizado pelas tv. Uma sala ou um hall a abarrotar com umas vinte pessoas, resumiu o auspicioso acontecimento e o discurso de “vitória”. Os grandes planos foram constantes, evitando-se o vexame de qualquer tipo de comparação com outros programas, entre os quais o Preço Certo manifesta maior poder de fidelização.

Desde o primeiro minuto do anúncio do “vencedor”, teve início uma generalizada manobra de diversão, apontando os porquês da fraca participação no acto. Um dia seco, frio mas solarengo, não era susceptível de servir de argumento e assim, a CNE está com as culpas todas e o cartão único do cidadão, serviu perfeitamente. A televisão oficial teve o desplante de dizer que se verificavam gigantescas de filas, com gente ansiosa por exercer o seu direito. Imagens comprovativas do despautério, nem vê-las! Outros, falam abertamente de trafulhices, fraude, cacicagem, golpada – a conhecida chapelada – e outros truques que há muito desapareceram do nosso dia a dia.

Tudo continuará como dantes e não se prevê qualquer grande actividade do “vencedor”, a não ser o prosseguir da sua cooperação estratégica para não se sabe bem o quê. Fala da “grande diferença” da sua votação, mas vistas as coisas como elas realmente aconteceram, os 25% de eleitores da Cavacolândia – traduzidos em 53% de votos contados -, não são significativos para qualquer intuito de um neo-sidonismo sem pingalim e cavalo. A única semelhança com o pretérito presidente de há noventa anos, será a “sopa dos pobres”. Não funcionou o incutir do medo pelo que aí está para chegar e aqueles que desde há dois anos têm trombeteado a chegada da 4ª República, a presidencial, bem podem mudar de conta bancária. Em comemoração da centenária, o país percebeu quem é esta gente.

Já não estamos “pelos ajustes”. Lá se foi a legitimidade.

Fernando Ulrich (BPI) ou as dúvidas de um banqueiro

Membro da comissão de honra de Cavaco Silva e administrador do BPI – posições, aliás, irrelevantes –Ulrich veio a público lançar dúvidas sobre a relação CGD – BPN. Terá a Caixa beneficiado da transferência, para os seus activos, dos dinheiros depositados no BPN? Eis a questão do desassossego de Ulrich.

O destino do dinheiro é, ao que parece, causa provável de insónias do banqueiro. Já o  Estado ter injectado à volta de 5 mil milhões de euros, na promíscua instituição BPN, deixa Ulrich imperturbável. Que  a origem do dinheiro seja o erário público, em grande parte suportado por impostos cobrados a cidadãos de baixos salários, ainda o deixa mais indiferente. Primeiro a banca e em último dos últimos o povo do trabalho, do desemprego e de vidas amarguradas.

Outra curiosidade: Fernando Ulrich afirmou haver muita coisa do BPN por saber. Há certamente. Mas, adiantamos, também se sabe com rigor que ex-governantes cavaquistas, com Oliveira e Costa e Dias Loureiro à cabeça, têm fortes responsabilidades no caso Só que sobre este capítulo, e por certo em ordem a obedecer ao sacro-santo segredo de justiça, Ulrich opta por esquivo silêncio. “Compreendi-te”, diria o histórico Vasco Santana, de voz cheia e embriagada, ao estilo do ‘Pátio das Cantigas’. Ai esta vida de banqueiro…, entoamos nós.

A cáfila…


O sr. Cavaco Silva anda em não-campanha eleitoral, isto é, continua a ter a sua agenda presidencial cheia de iniciativas que substituem facilmente os famosos outdoors, tarjas ou autocolantes.

Há uns tempos, depositou uma coroa de flores – que mania, esta republicanagem tem em depositar coroas, preferindo-as aos barretes! – no monumento de Salgueiro Maia. Bem vistas as coisas, deve-lhe o cargo. Ele e todos os outros “tacheiros” que por aí (ainda) andam. Seria interessante sabermos o que diria o capitão, acerca de todos os ataques que as Forças Armadas têm sofrido às mãos da cáfila que nos arranjaram.

Vá pró cavaco que o parta!

O Presidente da República, e candidato à reeleição, esteve ontem particularmente inspirado para  comunicar com o povo.

Ao repetir corriqueiro auto-elogio, advertiu em tom messiânico: “é preciso escolher o candidato mais preparado…” – e quem é ele, quem é? Cavaco Silva, nem mais. 

Depois de intensa e prolongada reflexão, confessou ao jeito de humilde crente: “espero que as promessas às vítimas do mau tempo em Tomar, Ferreira do Zêzere e Sertã sejam cumpridas…” – e quem mostra assim ser um homem de fé, quem é? Cavaco Silva, obviamente.

Por fim, a comunicação social desafiou-o a falar da ‘revisão das leis laborais”, mas o PR argumentou que esse tema estava fora da agenda política; e do alto da sua cátedra, proclamou: “é essencial encontrar um rumo da produtividade e da competitividade da economia” – quem é capaz de ser o português mais visionário, quem é? Cavaco Silva, quem havia de ser!? [Read more…]