Ana Paula Laborinho defende a morte das variedades do português

lusofoniaEm entrevista ao Expresso, Ana Paula Laborinho, Presidente do Instituto Camões, deixa escapar uma série de vulgaridades consentâneas com a Igreja da Lusofonia, cujo evangelho, mais oral do que escrito, está carregado de frases épicas acerca da dimensão internacional da língua e de palavras economesas como “geoestratégico”. Como qualquer sacerdote, crente ou não, é necessário parecer-se deslumbrado, que é uma maneira de se fingir iluminado. E ai de quem se atreva a criticar o deslumbramento! Será classificado como “xenófobo” e “racista”, antes de e em vez de ter direito a argumentação.

O chamado acordo ortográfico (AO90) é, neste contexto, alfaia religiosa que não pode ser posta em causa e, portanto, não pode ser pensada, apenas defendida.

Ana Paula Laborinho, depois de (não) responder a uma pergunta acerca da relação entre língua e “identidade de uma nação”, continua a (não) responder a uma outra: “Tendo em consideração a questão da identidade, é preciso um Acordo Ortográfico?” Ana Paula Laborinho (não) respondeu como se segue:

O Acordo Ortográfico é um instrumento até de internacionalização. É a tentativa de, enquanto língua internacional e num contexto de ensino, não termos de ensinar o português nas suas diversas variedades.

Uma pessoa não percebe o que é que o AO “internacionaliza”: a identidade? A língua? A ortografia? O queijo da Serra? Não me admiraria que fossem os quatro, tantas são as virtualidades do divino instrumento.

O resto da resposta mantém-se na senda do desastre sintáctico e, portanto, semântico. Doravante, os professores de Português, inspirados pelas palavras de Ana Paula Laborinho, poderão definir como um dos seus objectivos “tentar não ter de ensinar o português nas suas diversas variedades.” Não será fácil: um professor não está habituado a tentar não ensinar e, ainda menos, a tentar não ter de ensinar. [Read more…]

Um amplo debate entre os países lusófonos?

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© FRANCISCO LEONG/AFP (http://bit.ly/1ZyvyKi) | http://bit.ly/1TAFD4R

Exactamente porque está transformado numa questão política e não naquilo que deveria ser: uma questão linguística. E educativa, já agora.

António Fernando Nabais

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Hoje, no Diário de Notícias, durante uma entrevista ao excelente António Fernando Nabais, o jornalista Pedro Sousa Tavares fez o seguinte comentário:

Afinal, houve um amplo debate entre os países lusófonos…

Na página Acordo Ortográfico Não!, Francisco Belard reagiu:

Faltou corrigir o jornalista quando, no final, disse que “houve um amplo debate entre os países lusófonos”».

Efectivamente, ainda ontem, recordei que, «neste contexto, “reabrir o debate” não será a opção mais feliz, pois existe um prefixo a mais. Salvo iniciativas pontuais (uns colóquios aqui, umas audições ali, umas audiências acolá), o debate sobre o AO90 nunca foi aberto, por isso, é um erro mencionar-se uma reabertura».

Para terminar este pequeno texto, gostaria de saudar o Diário de Notícias pela escolha do entrevistado. Excelente!

Pro memoria, eis a entrevista, numa versão em português europeu:

“Está instalado o caos ortográfico”
Entrevista
Diário de Notícias, 09 DE MAIO DE 2016
Pedro Sousa Tavares

Um dos grandes críticos do Acordo, António Fernando Nabais, diz que as declarações do Presidente são um sinal de esperança [Read more…]

Acordo Ortográfico: Antônio Houaiss reconhecia o valor diacrítico das chamadas consoantes mudas

Foi no mural do Francisco Belard que descobri o vídeo republicado no fim deste texto. É possível assistir a um excerto de uma entrevista, em 1990, a Antônio Houaiss, eminente linguista brasileiro e um dos impulsionadores do acordo ortográfico.

O estudioso brasileiro começa por reconhecer que fazia sentido a oposição dos portugueses, já que as modificações ortográficas decorrentes do acordo eram em maior quantidade do que as que ocorreriam no Brasil. Houaiss, prescindindo de ser linguista, limita-se, então a ser um negociante, fazendo referência ao preço a pagar pela unidade ortográfica, que, mesmo que tivesse sido alcançada, nunca seria suficiente para criar uma quimérica uniformização da escrita, ao contrário do que afirmam os vendedores da banha da cobra acordista que propagam aos quatro ventos a ideia de que, agora, se escreve da mesma maneira em toda a lusofonia. [Read more…]