O antimalária

Comecei hoje a tomar um comprimido para prevenir os efeitos de um mosquito lixado que vive em certas zonas e que mata milhões de pessoas, especialmente crianças.

Tenho que tomar sete dias antes de viajar, durante todo o tempo que estiver no território e mais sete dias depois de voltar. Isto dá 24 comprimidos que comprei sem participação do Estado o que me levou a desembolsar noventa e um euros e quarenta cêntimos, a que tenho que acrescentar mais uns euros (poucos) do repelente, e um completo arsenal medicamentoso que já tinha comprado por ter viajado ao Brasil e Argentina.

A malária é uma doença em várias vertentes, antes de tudo o mosquito gosta de águas paradas e não tratadas, lixeiras e esgotos a céu aberto. Ora quem vive nestas condições não tem capacidade financeira nem para mandar fechar os esgotos e tratar as águas nem para comprar os comprimidos.

Para vencer o mosquito bastava pois, sanear o território, a doença é endémica, o mosquito morreria com o tempo. Foi com o urbanismo e a medicina pública que se derrotaram doenças que durante séculos mataram milhões de pessoas. As famosas “pestes” que grassavam em Lisboa deviam-se à falta de sanidade pública(sabiam que apesar do génio de Pombal e a sua equipa de engenheiros, os prédios da Baixa Pombalina, não têm uma só sanita de origem?)

Depois, e apesar de haver milhões de pessoas a sofrerem com a malária, só há bem pouco tempo se começou a investigar a sério no combate à doença (ainda nos lembramos todos que o melhor medicamento era o “gin tónico” porque a água tónica tem quinino). Temos em Portugal uma investigadora que já recebeu um prémio muito importante a nível mundial pelas descobertas que fez sobre os malefícios que o parasita faz ao nosso fígado.

Esta conversa toda, bem necessária, por sinal, é tambem porque estou a sentir uma série de efeitos colaterais que vêm na “bula” ( calor, vermelhão na face, zumbidos…) mas espero que logo que o corpo se habitue isto passe.

E se eu aderisse novamente ao “gin tónico” e me deixasse de modernices ainda por cima caras?

Miguel, já compraste os comprimidos? Vendo com desconto…

Será desta?

 Foi hoje anunciado que em 2011 estará finalmente disponível uma vacina contra a malária, resultado dos esforços de uma equipa que reúne especialistas espanhóis e moçambicanos.

Não se sabe ao certo quantas pessoas morrem com malária todos os anos, mas o número não é inferior a 3 milhões, sendo certo que muitos casos não chegam ao conhecimento das autoridades de saúde.

Em muitos casos, os afectados são crianças com menos de 5 anos. Aliás, a OMS estima que em África morre uma criança a cada 30 segundos vítima de malária.

Pode ser difícil criar uma vacina contra a malária mas reduzir ou eliminar o número de casos necessitaria apenas de uma melhoria das condições sanitárias em que vive a população e da introdução de redes mosquiteiras. Uma rede mosquiteira custa menos de um euro mas não parece ser uma prioridade para muitos governos africanos. 

É certo que, em muitos casos, são os cidadãos que resistem ao uso da rede. Porque faz calor, porque lembra uma mortalha, porque não crêem que seja prioritário. Mas também isso poderia transformar-se se houvesse um investimento na informação. Isso significaria, por parte desses governos, um genuíno interesse na vida e na saúde do seu povo. Não porque haja perspectivas de lucro nos bastidores mas porque essa vida é o mais precioso bem de um país.

Enquanto houver uma minoria que se serve do poder para promover os seus interesses, continuaremos a ver África condenada ao sacrifício dos seus filhos. Continuaremos a ver gerações a quem, numa fuga desesperada da fome, da malária, da sida, da guerra, nada mais arresta do que dar à costa da Europa e mendigar a vida digna a que tinham direito por nascença.