Violência na Escola – algumas pistas

No post anterior procurei mostrar que em Portugal, quem está fora das escolas, vê este problema barricado em dois lados: o esquerdo e o direito. De um lado a culpa é da sociedade, do meio, da cultura, blá, blá, blá… Do outro, a culpa não pode morrer solteira e temos que castigar, mas…

A verdade é que a Escola Pública se centrou nos alunos em vez de se centrar nas aprendizagens. Esta realidade tornou irrespirável o ambiente em muitas salas de aula – é verdade que alguns professores lidam melhor com estas coisas que outros, mas a todos é comum uma verdade: ensinar é tarefa quase impossível e aprender é algo ainda menos verosímil.
Como o centro de tudo são os meninos e meninas sem educação, ninguém quer saber o que se aprende ou, melhor, o que eles aprendem: tudo gira em torno duma mentira!

Como é que isto se expressa? Do que falámos, Nós os que estamos lá, quando falamos disto?
Situações de hoje que parecem “normais” e que passam sem qualquer punição:
– o professor a falar e ao mesmo tempo, “todos” os alunos falam uns com os outros ignorando todos os pedidos e ordens dos professores;
– os alunos que se levantam e vão aos lugares dos outros dar “croques”, picar, riscar, bater, insultar… E tudo parece normal;
– alunos que não passam uma única linha, que não resolvem um único exercício, que não têm material… ” Eu não tenho lápis, não passo… E não quero saber… Mas, o que é que quer… Ó… passe o Stor”
– alunos que lançam bocas, que fazem ruídos, insultam quando os professores falam ou tentam manter a ordem…
O que vos digo é real: em boa parte das salas de aula deste país, algumas destas situações são diárias – ninguém ensina, ninguém aprende e todos se enganam mutuamente.

E se cada um de nós pensar mais em violência e menos em indisciplina, hoje é normal os alunos insultarem-se uns aos outros – um minuto num corredor de uma escola e qualquer “estranho” ficaria… “Então porco, estás bom?” “Ó filho-da-puta vais levar no focinho”, “A tua mãe é uma puta”… Isto, sem exageros, são os sons nossos de cada dia.
Depois a dimensão física das agressões é horripilante – roubos, murros, empurrões, cuspidelas… TODOS os dias em todas as escolas.
Pensem só nisto: se em Mirandela está como está, imaginem como estão Porto, Lisboa… Setúbal… Pensem…
(continua)

Comunicado da Associação Ateista Portuguesa

 

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) não pode deixar de se congratular com a decisão histórica do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, em Estrasburgo, ao considerar a presença de crucifixos nas salas de aula "uma violação do direito dos pais de educar os seus filhos de acordo com as suas convicções" e "uma violação da liberdade religiosa dos estudantes".

 

A escola laica é o reflexo de um Estado laico onde, ao contrário dos estados confessionais, a liberdade não é apanágio da religião oficial mas um direito de todas, direito igualmente conferido aos ateus, cépticos, agnósticos e livres-pensadores.

 

Perante a agressividade de várias religiões na disputa do mercado da fé, esta decisão histórica deve servir de aviso às professoras que pretendem dar aulas de burka, às comunidades que pretendem ver as escolas transformadas em madraças e a todos os prosélitos que querem uma escola ao serviço das suas crenças.

 

A jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem remete para o foro privado as práticas religiosas cabendo aos Estados respeitá-las e defendê-las.

Intransigente na defesa da laicidade do Estado, que o mesmo é dizer, do direito de todos os cidadãos à crença, descrença ou anti-crença, a AAP reitera a sua satisfação e solidariedade pela sábia decisão tomada pelo referido Tribunal.

Reduzir o espaço de confronto religioso entre os fundamentalistas de várias religiões é contribuir para a paz e a liberdade, dois valores fundamentais da democracia.

 

Espera ainda a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) que o Governo português exerça a vigilância que deve em relação aos abusos que ainda persistem, por incúria, nas escolas e hospitais públicos.