Crónicas do Rochedo XIV – Uma direita musculada numa Espanha dividida

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O referendo da Catalunha veio provar que em Espanha ainda existe uma direita “musculada”, profundamente saudosista dos tempos de Franco. Uma direita que está desejosa de dar uns sopapos, de tirar a poeira ao revólver guardado na escrivaninha e disposta a empurrar Rajoy para o colo da ala dura do PP. “Empurrar” é simpatia minha, pois não me parece que D. Rajoy se sinta muito incomodado com a possibilidade.

Esta direita cohabita com uma esquerda ainda mais folclórica que o nosso Bloco. Um misto de saudosistas da cortina de ferro, anarquistas de cubata na mão (mas de Havana 7, que Bacardi é coisa de meninos) e deslumbrados do anticapitalismo internacional. No fundo, estão bem uns para os outros.

E depois temos a confusão: temos os independentistas da Catalunha, os independentistas da Galiza, os Independentistas do País Basco, os Independentistas da Andaluzia, os Independentistas das Baleares (sim, das Baleares que não são catalães e gostam tanto destes como dos de Madrid). Depois temos as Asturias, Castela, Leão e Estremadura sem esquecer as Canárias. Com excepção dos primeiros, os restantes até nem se importam de ficar juntos. Uma enorme salgalhada. E ainda me deve faltar aqui um ou outro movimento independentista mais discreto. Já para não falar nos casos de Ceuta e Melilla…

Os que conheço melhor são os Galegos e os das Baleares. E, se o leitor já estava confuso, então que dizer quando, dentro destes, temos vários níveis diferenciadores? Sim, as Baleares, por exemplo, são compostas por quatro ilhas: Maiorca, Ibiza, Menorca e Formentera. Os de Ibiza não suportam os de Maiorca, os de Menorca estão postos em sossego e os de Formentera são assim uma espécie de extensão de Ibiza. O que os une? Um certo ódio a Madrid. Mas não gostam que se lhes diga que são catalães. Não senhor, não são. A sua língua é o maiorqui, uma mistura de catalão com castelhano e de forte influência do francês. Os maiorquis querem, uma parte deles, ser independentes e reclamam a realização de um referendo. Já agora, estão na coligação de esquerda que governa a ilha e estão à frente de alguns “ayuntamientos” (as nossas câmaras municipais).

Já os Galegos independentistas dividem-se na ala que quer juntar-se a Portugal e a ala que quer a total independência. Temos os que falam galego e os que falam português, melhor dito, o português antigo muito similar ao que se ouve nas aldeias do nosso interior. E querem pertencer à CPLP. Tal como os maiorquis, os partidos independentistas galegos são todos de esquerda. Porém, tanto num sítio como no outro, existem moderados e de direita. Além de serem mais cautelosos e hesitantes, estão menos organizados – uma vez tentei explicar a um galego amigo que era do BNG (esquerda) como era possível a um tipo de direita que fosse independentista galego votar num partido como o BNG que era profundamente de esquerda (marxista-leninista)?

Um enorme quebra-cabeças este nosso vizinho…

 

 

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Há duas regiões de Espanha que sempre se reclamaram fora dos domínios da Coroa. País Basco e Catalunha.
    Não vou dizer que outras regiões não almejem o mesmo desiderato. Mas a Catalunha e o País Basco ao longo do século XX, isto para não recuarmos aos tempos de Navarra e Aragão, sempre se deram mal com a monarquia e o poder central, com o Franquismo em particular, e mais recentemente com o regime monárquico saído da Constituição Espanhola de 1978.

  2. antonioio silva says:

    Num tempo que vivemos na aldeia global há sempre quem queira semear a confusão. Eu não acredito que a Espanha se deixe vencer pelos que querem dividir para reinar.