merece ser censurado? Sempre seria um argumento mais aceitável do que o aproveitamento político da tragédia, por parte do CDS-PP, que culminou com a moção de censura, condenada ao fracasso, hoje apresentada no Parlamento.
Monção de sem surra
Falta-me pachorra para dissertar sobre moção de censura do CDS. Por isso, telegraficamente, limito-me a três notas:
1. Obviamente que há motivo para uma moção de censura. Se a incapacidade de resposta nesta situação não serve, não vejo que outros motivos se possam evocar no futuro.
2. É de uma escandalosa hipocrisia ser o CDS a lançá-la, ou não tivesse sido a respectiva líder diretamente responsável pela pasta que, durante cinco anos, nada fez para resolver um problema de longa data. Perdão, fez. Piorou o panorama com a sua lei do eucalipto. Estivesse a direita no governo e já o PCP ou o Bloco teriam tomado a dianteira neste campo. Ou até talvez mesmo o PS o tivesse feito.
3. Se para o CDS a moção de censura era premente, porque é que não a fez logo depois de Pedrogão Grande? Há um número de mortos a partir do qual tal iniciativa se justifica? Deve haver, porque, segundo Cristas, nenhuma calamidade aconteceu durante os seus mandatos, como se não tivessem morrido, por exemplo, 9 pessoas em 2013 e 6 em 2012. Sim, há uma questão de escala. Mas, como muito bem lembraram diversas vozes a propósito de Pedrogão Grande quando dissertavam sobre se havia 64 ou 65 mortos, algumas delas ligadas ao CDS inclusivamente, “um morto é uma tragédia“. Excepto quanto se está no governo, assim se pode depreender.
[Gráfico baseado no extracto do Relatório da Comissão Independente, disponibilizado no DN]
Banif, TVI e Altice
Fotografia: Vítor Rios/Global Imagens@DN
Não passou muito tempo desde o estranho caso da estação televisiva que criou artificialmente o pânico sobre uma instituição bancária, que atravessava um momento de particular vulnerabilidade. Dita estação, curiosamente, era propriedade de uma empresa que tinha como accionista de referência uma outra instituição bancária, maior e mais poderosa, interessada em engolir o pequeno e fragilizado concorrente.
Como seria de esperar, porque estamos em Portugal, paraíso à beira-mar plantado onde vale quase tudo, o truque funcionou, seguindo-se uma avalanche de levantamentos e fecho de contas, fragilizando ainda mais a pequena instituição que acabaria por ser adquirida, por meia dúzia de patacos, pelo predador proprietário da TV incendiária, que aguardava calmamente na penumbra. [Read more…]
Inferno fiscal
Os parasitas que (des)governam Portugal procuram anestesiar cidadãos baixando impostos directos, aumentando em simultâneo os indirectos. À partida sabem que a esmagadora maioria dos portugueses não dão conta do alastramento deste vírus, pode-se olhar para o montante retido em IRS ou total no último recibo do ano, mas poucos fazem o cálculo numa factura, até porque apenas aparece o IVA. Esta praga avança silenciosa pelos bolsos de quem aufere rendimentos ou cria riqueza. Contas feitas no final o contribuinte paga sempre mais, para o Estado o céu é o limite, enquanto a despesa pública segue desgovernada e sem travões, alimentando a tralha clientelar que faz render votos… Imposto é roubo!
Paradoxal Natural
Pedro Guimarães
Paradoxal: grandes cadeias de distribuição apoderam-se de pretéritos ecológicos para vender os seus produtos produzidos industrialmente e embalados individualmente em plástico, explorando assim os recursos de uma série de tótós classe média alta que acreditam que estar a comprar produtos mais saudáveis do que em qualquer outro sítio qualquer. A contradição entre ecologia e capitalismo está ali escarrapachada à entrada: o mote #gonatural envolto num jardim de plantas de plástico (réplicas muito convincentes). Nothing natural about it. #gonatural
Levante-se o réu
Num bizarro acórdão recente (de 11.10.2017) do Tribunal da Relação do Porto, lavrado por um presumível juiz denominado Neto de Moura, a pena ligeira aplicada num caso grave de violência doméstica foi justificada com um patético conjunto de argumentos, ora bíblicos, ora literalmente lapidares, uns mais trogloditas do que outros, mas todos eles inconcebíveis à luz da civilização e da mais elementar formação cívica.
O caso daria para muitos considerandos sobre o carácter frequentemente insano e disfuncional da justiça portuguesa. Como não tenho tempo, nem as criaturas me merecem tanto latim, lembro apenas que, ao contrário do poder político, do poder militar e até do poder económico, o poder judicial nunca teve o seu 25 de Abril. Os detentores deste (enorme) poder são, ainda assim, equiparados a órgão de soberania – tendo porém um sindicato e direito a fazer greve, outra bizarria do sistema democrático lusitano – embora não sejam eleitos nem escrutinados por ninguém, a não ser por eles próprios. [Read more…]
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