Em causa: a honestidade no Parlamento

Se no caso Silvano se trata de uma campanha para queimar Rui Rio ou não, tanto faz. É coisa para o PSD se ocupar, se quiser, não para interessar a maioria dos cidadãos. Os Portugueses têm direito a terem representantes que cumpram as regras, tal como lhes é exigido que as cumpram e como faz parte do Estado de Direito. Do alto do seu privilégio de fazedores de regras, os deputados têm uma obrigação redobrada de as cumprir. Para os cidadãos, o que está em causa é o que muito bem coloca neste artigo Paulo Ferreira, analisando a questão nas suas diversas vertentes:

“Uma é “atirar” a quem expõe ou critica estas práticas esquecendo os factos concretos, a sua legitimidade e decência. É a lógica de “matar o mensageiro”, de acusar genericamente a plateia de “virgens ofendidas”, de defender que o problema não está nos actos mas sim no seu conhecimento público. Nesta abordagem, a única solução para o problema é a censura.

A outra é ter a honestidade intelectual suficiente para fazer um diagnóstico justo e equilibrado, ter vontade de mudar a essência do problema, alterar práticas e, no fundo, definir para os representantes democráticos dos cidadãos nada mais nem nada menos do que isto: as regras são para cumprir.

Há muito que o Parlamento e os partidos precisam de fazer essa reflexão.”

O que, verdadeiramente, está em causa, é simples. Que se tenta, na maioria dos comentários, desviar o mais possível o assunto do que está em causa, a causa dos Portugueses, é óbvio. E enquanto assim for, Portugal é muito mais bonito por fora, do que é por dentro. O que penaliza, acima de tudo, os Portugueses.

Srs. Deputados, os Srs. servem os Portugueses. E o exemplo vem de cima.

E quem diz deputados, diz autarcas e por aí fora.

Entretanto, a propósito de checks and balances, aguardamos com interesse a análise da Procuradoria-Geral da República, “com vista a decidir se há algum procedimento a desencadear no âmbito das competências do Ministério Público”.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Pior do que as tropelias que esta gente faz, os deputados em geral, mas dos partidos do arco da governação em particular, é a falta de coerência, de princípios e, de ética, perante tudo aquilo que apregoam e afirmam defender para o país, naquelas bancadas.
    Esta gente, e agora em especial o PSD, foi aquela “trupe” que cortou salários, reformas e pensões, ” a bem da Nação”, foi quem bloqueou várias carreiras profissionais, como por exemplo, a dos professores, adiou investimentos na área da saúde,… mas para eles, nada fica por salvaguardar no meio de uma crise económica.
    Desta forma, percebemos todos que aqueles que elegemos se respaldam num conjunto de mordomias, dissimuladas em despesas de representação, subsídios de deslocação e rendas, eu sei lá que mais, cujas regras nem assim cumprem, como se vivessem uma vida à parte, do conjunto dos cidadãos, mesmo os que têm mais posses.
    Se isto não é uma “NOMEMKLATURA”, só pode ser um bando de mafiosos.

    • Rui Naldinho says:

      .. de princípios e de ética, perante tudo aquilo que apregoam… país

      NOME(N)KLATURA, e não como erradamente está escrito

  2. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Não posso deixar de misturar o caso Silvano com Manuel Alegre, pois a tirada “ética republicana” de Manuel Alegre sobre as touradas, aparece ao mesmo tempo da vigarice da troca da utilização de passwords entre deputados.

    E não é por acaso, tenho a certeza.
    Preferiria ver Manuel Alegre utilizar a sua “ética republicana” nos casos das vigarices bancárias que tolheram e tolhem os portugueses, ou nos casos mais comezinhos como é o das moradas dos parlamentares ou mesmo, no caso das passwords.
    Mas não. A ética republicana de Manuel Alegre é puramente taurina, nos dias que correm.

    E no fundo, nada de novo. Manuel Alegre, tal como os seus “camaradas” (com e sem aspas) do Arco da Governação, branqueia os actos da classe política, preferindo lides noutros campos que “entretenham o pessoal” sem tocar na classe à qual pertenceu muitos anos.

    Manuel Alegre actua de um modo pedante, como alguém que, no alto da sua cátedra, pretende fazer passar uma mensagem onde a liberdade, a ética e o republicanismo cheiram a mofo…

    Em todo o caso os comportamentos de um e outro, dão para perceber o tipo de classe política que nos regula.


  3. Misturar Manuel Alegre com Silvano e sua partner apanhados num acto de irregularidade/ilegalidade é atirar areia para os olhos e branquear as coisas.

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Misturei e misturo, porque falo de ética republicana. Faça favor de ler o que escrevi.
      Não comparo actos. Nada do que escrevi refere actos.
      Refiro ética ou, se quiser, falta dela em qualquer dos personagens.
      A ética de um espírito crítico como Alegre, deveria levá-lo a denunciar os actos ilegais que nunca o vi referir, tal como as vigarices bancárias, as casas dos deputados e as passwords.

      A posição que Manuel Alegre ocupa na sociedade deveria fazer com que a sua ética republicana fosse usada para apontar o dedo aos vigaristas deste país. Se quiser usar a mesma postura que Ana Gomes usa: ao chamar os bois pelos nomes, deixando outros assuntos para outras fases. Chama-se a isso priorizar os temas.