Em Israel, a autocracia consolida-se

uma política externa digna de um regime totalitário não é suficiente. Netanyahu e os seus extermistas querem acabar com a separação dos poderes. E estão a consegui-lo.

Iniciativa Chavascal

Há uma semana, o líder da Iniciativa Liberal indignou-se com Augusto Santos Silva, que, à margem das comemorações do 25 de Abril, acusou a IL de falta de integridade política. Caiu o Carmo e a Trindade e foi grande a choradeira.

Claro que a internet não perdoa e logo surgiram uma série de pérolas, com os mais variados insultos de dirigentes da IL a várias figuras da política portuguesa, como este em que Rui Rocha apelida Marcelo Rebelo de Sousa de imbecil.

Mas a pérola das pérolas foi revelada hoje. A convite da IL, o YouTuber Tiago Paiva teve direito a visita guiada na AR, conduzida pelo deputado Bernardo Blanco. No plenário, o YouTuber subiu ao púlpito e mandou António Costa para o ca*alho.

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Paulo Raimundo Em Curso

Foto: MANUEL DE ALMEIDA / LUSA

Os processos internos dos partidos interessam-me tanto como os das empresas privadas. Não sou apologista do modelo comunista de eleição – chamemos-lhe assim – do secretário-geral do partido, mas também não sou propriamente um entusiasta da alternativa proposta pelos partidos do bem, assente em campanhas difamatórias, compra de votos, quotas pagas em cima da hora, de militantes que vivem aos 20 na mesma casa, e facadas em geral.

Devo dizer, aliás, que a prática do PCP tem uma vantagem, que é a transparência: toda a gente sabe ao que vai quando entra no partido, e toda a gente que está fora, a rachar outro tipo de lenha, sabe o que a casa gasta. E, que se saiba, só lá está quem quer. A mim interessa-me, sobretudo, que o PCP cumpra as regras da democracia no Parlamento, nas autarquias que governa e na sua acção política em geral. O que se passa no interior do edifício na Soeiro Pereira Gomes é lá com eles.

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O estranho caso da aliança entre Montenegro e Ventura

Miranda Sarmento, líder da bancada parlamentar do PSD escolhido por Luís Montenegro, apelou aos seus colegas conservadores para votarem no candidato da extrema-direita para a vice-presidência da AR, alegando tratar-se de uma prática parlamentar, pese embora aquilo que está consagrado no regimento seja apenas a possibilidade de propor alguém para lugar, cabendo aos deputados decidir se aprovam ou não.

E se o critério são práticas parlamentares fundadas na tradição, seria de esperar que a maioria dos deputados do hemiciclo, incluindo os parlamentares do PSD, se mantivessem fiéis aquela outra que se traduz na boa velha máxima, “fascismo nunca mais”, mantendo a robustez do cordão sanitário à volta dos herdeiros da ditadura salazarista.

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Mónica Quintela, os funcionários públicos e o estado a que o PSD chegou

Mónica Quintela, uma das mais altas oficiais da deprimente bancada parlamentar do PSD, mostrou ontem ao país porque é que o maior partido da oposição é cada vez menos alternativa e cada vez mais parecido com o CH.

Podem ouvir a intervenção completa da deputada aqui, mas, resumidamente, Mónica Quintela defendeu, com todas as letras, que teria sido bom que os funcionários públicos ficassem alguns meses sem salário, com todas as consequências que isso traria, que era para aprenderem. Como se fosse sua a culpa pela bancarrota de 2008. E não, isto não é uma posição isolada dentro do partido. E o efusivo aplauso da sua bancada é revelador disso mesmo. [Read more…]

Gabriel Mithá Ribeiro e o racismo de Schrödinger

Ainda me lembro, até porque não foi assim há tanto tempo, quando Gabriel Mithá Ribeiro, durante 15 anos membro do PSD, lançou um livro de elogio à “nova direita europeia”, que na verdade é velha, bafienta e descendente da direita que nos deu a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto e as ditaduras que, felizmente, acabaram todas derrotadas. A mesma direita que invadiu e matou (continua a matar) ucranianos, impunemente, todos os dias. É desta direita que falamos.

Para apresentar o seu “Um século de escombros”, que começa com dedicatória aos faróis ideológicos do agora deputado do Chega – Viktor Orbán, o Cavalo de Tróia de Putin na Europa e na NATO, Donald Trump e Jair Bolsonaro, entre outros extremistas que tem como referência – teve ao seu lado Maria Luís Albuquerque, então colega de partido que aceitou fazer a apresentação da obra de glorificação de neofascistas. À sua frente Passos Coelho, que também não faltou à chamada. Diz-me com quem andas…

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Grupo parlamentar do CH estreia-se na AR com dedicatória a Vladimir Putin

André Ventura usou o termo “ocupar” para assinalar a chegada do seu partido à Assembleia da República. Tal como Putin, farol europeu da área política e ideológica do CH, Ventura quer ocupar o Parlamento por Portugal e pelos portugueses, que maioritariamente o desprezam, a ele e às suas ideias, tal como Putin quer ocupar o Donbass e outras áreas da Ucrânia, pelas populações russas e pelos “irmãos” ucranianos. Só lhe faltou afirmar que vinha para desnazificar o hemiciclo, mas o sector neo-nazi do CH poderia não achar muita graça, e Ventura já tem dissidências que cheguem com que se preocupar.

O sistema de Ventura

Na passada Sexta-feira, no Parlamento, a criminalização da riqueza injustificada de titulares de cargos públicos e um conjunto de medidas anticorrupção foram aprovados, por unanimidade, por todos os partidos e deputados não-inscritos com assento parlamentar.

Todos?

Quase todos. Houve um deputado, o autoproclamado combatente anti-sistema, que faz da luta contra a corrupção uma bandeira, apesar do seu contributo parlamentar na matéria ser um redondo zero, que esteve ausente. Estava demasiadamente ocupado, com os seus amigos neofascistas, a passear por Bruxelas e a tirar boas fotografias, nomeadamente com Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita RN, que desviou 6,8 milhões de euros de fundos europeus para contratar assistentes para o seu partido, valor que se destinava a dar suporte aos representantes do partido no Parlamento Europeu. [Read more…]

Sondagem do ISCTE/ICS: qual é mesmo a admiração?

Sondagens, nunca é demais dizê-lo, valem o que valem. Nem sempre acertam, às vezes falham por muito, mas, regra geral, não andam muito longo dos desfechos eleitorais. Bem sei que agora é moda dizer que as sondagens perderam toda a sua credibilidade, após o fiasco lisboeta, mas o histórico diz-nos outra coisa.

Vem o introito a propósito da última sondagem do ISCTE/ICS para o Expresso/SIC, que coloca o PS na zona da maioria absoluta, BE em queda livre, PCP a definhar mais um bocadinho, PSD muito aquém do necessário para sonhar com a governação, CDS à beira da extinção, PAN perto disso, IL a crescer menos que o perspectivado pela bolha do Twitter e CH a capitalizar à grande com o clima de guerrilha instalado na direita dita tradicional, para não falar no enorme contributo de Rui Rio, que teima em apresentar-se – aos olhos de parte significativa do eleitorado – como potencial muleta do PS.

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Governe, Dr. Costa. De preferência à esquerda

Não percebo a polémica em torno da “coligação negativa” que aprovou o alargamento dos apoios sociais no combate aos efeitos económicos da pandemia. Por vezes, parece que nos esquecemos que quem realmente manda é o Parlamento, não o governo. Agora, no momento em que não convém a António Costa que assim seja, como em 2015, quando lhe correu tão bem que conseguiu governar, apesar de ter ficado atrás de Pedro Passos Coelho. A democracia representativa, quando nasce, é para todos. E o PS, que governa minoritariamente, e que até rejeitou acordos escritos com os antigos parceiros da Geringonça, que poderiam ter evitado mais este balázio no pé, já devia ter percebido isso.

As contas são algo complexas para um ignorante como eu, mas, grosso modo, a coisa custará uns 40,4 milhões de euros por mês. 3,3% da primeira injecção de 1200 milhões na TAP. 1%, se considerarmos as estimativas que apontam para um investimento total de 3700 milhões até 2024. Substituindo TAP por Novo Banco, estes 40 milhões equivalem a uma miserável percentagem de 0,4% dos 11.263 milhões que já torramos no banco “bom”, até Maio de 2020. 2,2% do custo anual da corrupção em Portugal, estimado em 1820 milhões pelo relatório de 2018, The Costs of Corruption across the EU, do grupo parlamentar dos Verdes/Aliança Livre Europeia. Mas como este é ano de autárquicas, prevê-se um aumento substancial nesta rubrica, pelo que aquela percentagem ainda deve descer. Peanurs, como dizia o outro. E com tanta despesa por executar, tantas cativações e a bazuca quase quase a chegar, não há de ser por 40 milhões por mês que não se ajudam as muitas vítimas das medidas de confinamento.

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Estão à espera da invasão à Assembleia da República?

Foto: @adn

A invasão que manifestantes pró-Trump fizeram ao Capitólio esta semana devia, não só fazer corar de vergonha todos aqueles que defenderam o (ainda) Presidente dos EUA, com argumentos sobretudo económicos, mas também reflectir sobre a complacência que existe, em Portugal, do mesmo tipo de discurso que levou um apresentador de televisão à presidência da “maior democracia do mundo”.

Hoje, no Plenário da Assembleia da República, foi a discussão uma petição assinada por cerca de 9000 cidadãos contra conferências de extrema-direita em Portugal (num caso que remonta a 2019) e pela ilegalização de grupos de cariz fascista, racista e neo-nazi.

Entre vários argumentos, os peticionários usam a Constituição como argumento máximo para defenderem as suas posições, citando o tão badalado art. 46º/4 que proíbe, e cito: “associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.”

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Pior do que o cego…

Estamos, diariamente, a assistir à destruição de qualquer resquício de ética republicana que pudesse ainda existir. E, pior, as perspectivas de tal ser travado estão completamente fora de hipótese, a avaliar pela postura dos partidos com representação parlamentar que, em teoria, poderiam fazer algum tipo de diferença.

Desde logo, temos um Presidente da República (doravante PR, pois não merece mais do que uma sigla), que está transformado num autêntico porta-voz propagandista do Governo e da sua agenda. E que todos os dias nos aparece na televisão a vender a política do governo, seja de fato e gravata, seja de calção de banho.

Da mesma forma que cria, conjuntamente com o Governo, um conveniente princípio de não recondução nos cargos, com que justifica a não recondução da incómoda Procurador Geral da República, Joana Marques Vidal e, recentemente, do também incómodo Presidente do Tribunal de Contas, Vítor Caldeira.

Houvesse um mínimo de coerência, e o PR, para dar o exemplo da regra por si defendida, não se recandidatava.

Mas, há mais.

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Hortense Martins, o documento falsificado e o grau de culpa que não foi “particularmente elevado”

Em 2011, já no desempenho de funções parlamentares, a deputada socialista Hortense Martins assinou um documento, no qual renunciava às funções de gestora, exercidas na cadeia hoteleira do pai, apesar de nelas se ter mantido por – pelo menos – mais dois anos. Perante este crime de falsificação de documento, punível com até 3 anos de prisão efectiva, o MP pediu o arquivamento do caso e uma multa de 1000 euros. Mil euros, foi a astronómica quantia que a parlamentar desembolsou para que o seu  crime fosse arquivado. Sem que nada de particularmente incómodo lhe tenha acontecido. Até porque, reza a lenda, o grau de culpa da arguida não foi particularmente elevado. [Read more…]

Taxas e as taxinhas à direita

No hemiciclo, PSD, CDS e IL opuseram-se (o Chega optou pela abstenção, o que na prática vai dar ao mesmo) às propostas que determinaram o fim das comissões praticadas por alguns bancos nas transacções através da aplicação MB Way, para operações de baixo valor. E qual é a lição a reter deste episódio? Simples: que a direita portuguesa só é contra taxas e taxinhas quando as mesmas são colectadas pelo Estado, para garantir as suas funções essenciais. Se for para engrossar os lucros da banca, estarão, como sempre estão, do lado dos banqueiros. Uma luta comum de conservadores, ultraconservadores, liberais e extrema-direita. O cheiro até pode ser diferente, mas os donos daquilo tudo, com uma excepção ou outra, costumam ser os mesmos.

Moisés Ferreira ARRASA o youtuber André Ventura, o deputado que andamos a sustentar e que não quer fazer nada

O neofacho de serviço, que falta constantemente ao serviço, foi novamente arrasado no Parlamento. Por faltar constantemente ao serviço. Traduzido para chegófilês, André Ventura anda a mamar milhares de euros do Estado para faltar ao trabalho. Um parasita parlamentar, que, segundo a revista Sábado, faltou a mais de 54% das reuniões das comissões parlamentares a que pertence, e que na semana passada foi ao Parlamento pedir uma comissão de inquérito para fiscalizar a aquisição de equipamentos de combate à pandemia, quando, para esse efeito, já tinha sido aprovada uma comissão eventual. Com a Olá, é “fruta ó chocolate”. Com o Chega é “baldas ó incompetência”. [Read more…]

Uma questão de saia

O Ricardo M. Santos, antigo membro desta casa, deixou na efemeridade do facebook um dito tão genial que consegue abarcar duas áreas ao mesmo tempo: a política e a ortografia (que é, neste país de parolos, uma questão política, quando devia ser apenas científica). Tudo veio a propósito da saia com que o assessor do Livre entrou na nova legislatura.

Escreveu, então, o Ricardo, o seguinte:

“”O assessor do Livre foi de saia para criar um fato político.”

Santana Lopes seria capaz de dizer esta frase, mas a sério. Não é que o Ricardo não seja sério, mas, ao contrário de Santana, sabe que nem o chamado acordo ortográfico (AO90) conseguiu tirar o C de “facto”. Por outro lado, isso também não é exactamente verdade, porque, desde que o AO90 foi imposto, até o Diário da República transforma “factos” em “fatos”. [Read more…]

Às vezes fico pensando que a burrice é uma ciência

Santana Castilho*

 

As últimas notícias sobre o nosso sistema de ensino ilustram quão certeiro foi o pensamento de António Aleixo, poeta do povo: “Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes fico pensando que a burrice é uma ciência”.

  1. João Costa veio, em artigo de 30 de Maio passado (Observador), defender-se das críticas às suas teorias sobre flexibilidade e inclusão. Abalroada pela demagogia que a domina, a prosa do secretário de Estado assentou num maniqueísmo primário e populista. Segundo ele, uns querem sucesso e inclusão para todos (ele e prosélitos), outros (os que lhe criticam os métodos), preferem reprovar os alunos. Escapou-lhe considerar que o que separa a turma dele (perita em baixar a fasquia dos pobres em vez de lhes conferir os meios para chegarem onde os ricos chegam) da turma dos outros é a recusa, por parte dos segundos, a certificar a ignorância. E que o grande combate a favor da inclusão começa fora da Escola, sob responsabilidade alheia aos professores, colada, outrossim, à pele dos políticos promotores da mediocridade. E continuará na Escola, quando substituirmos proclamações palavrosas, papéis e burocracia por meios, recursos e dignidade para quem ensina.
  2. Outro Costa, este António, fez-me recordar a eloquência de Américo Tomás (nos anos 60, disse o então Presidente da República numa inauguração: “É a primeira vez que estou cá desde a última vez que cá estive”). [Read more…]

Gente que sabe onde está

Golpes de teatro, golpes de rins, golpes baixos. Só faltou mesmo um golpe de estado para compor o ramalhete. Foi uma semana particularmente animada, esta, que culminou numa sexta-feira a fazer lembrar os mais delirantes absurdos dos Monty Python. Mas, ao contrário destes, sem nenhuma piada – a não ser para um muito reduzido número de protagonistas/usufrutuários das manhas da política, dos truques do mercado e dos atalhos da lei.

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Os professores não têm fundações

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Fotografia: Lusa/António Cotrim@Público

Ligas a televisão. Joe Berardo, em prime-time, a gozar com as caras de Mariana Mortágua ou Cecília Meireles, e através delas 10 milhões de caras portuguesas, mais uns milhões no estrangeiro. O senhor ali, na comissão de inquérito, como quem está no café a comentar a bola de palito na boca, a dar tanga ao país. De tal forma que conseguiu pedir ao deputado Duarte Alves que não o ofendesse: “Se é para brincar, vou-me embora”, disse. E continuou a brincadeira: “Como português, como cidadão, tentei ajudar os bancos”.

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Em causa: a honestidade no Parlamento

Se no caso Silvano se trata de uma campanha para queimar Rui Rio ou não, tanto faz. É coisa para o PSD se ocupar, se quiser, não para interessar a maioria dos cidadãos. Os Portugueses têm direito a terem representantes que cumpram as regras, tal como lhes é exigido que as cumpram e como faz parte do Estado de Direito. Do alto do seu privilégio de fazedores de regras, os deputados têm uma obrigação redobrada de as cumprir. Para os cidadãos, o que está em causa é o que muito bem coloca neste artigo Paulo Ferreira, analisando a questão nas suas diversas vertentes:

“Uma é “atirar” a quem expõe ou critica estas práticas esquecendo os factos concretos, a sua legitimidade e decência. É a lógica de “matar o mensageiro”, de acusar genericamente a plateia de “virgens ofendidas”, de defender que o problema não está nos actos mas sim no seu conhecimento público. Nesta abordagem, a única solução para o problema é a censura. [Read more…]

A campanha contra Rui Rio no caso José Silvano

Parece-me óbvio que todas estas notícias sobre o deputado José Silvano têm como objectivo último atingir Rui Rio. Uma campanha laboriosa que começou no momento exacto em que ele foi eleito líder do PSD. Não sei se por não ser aquele que os barões do Partido queriam, não sei se por vir do Porto, mas por algum motivo pouco nobre é de certeza…
O facto de não gostar de Rui Rio, nem dos seus tiques de pequeno ditador, não me impede de ver a realidade. Claro que ele se pôs a jeito. E a reacção que teve a mais um caso demonstra que a sua tão propalada seriedade e verticalidade ficou nas calendas gregas. Mais concretamente no primeiro mandato como presidente da Câmara do Porto, onde, por não ter maioria absoluta, teve de governar com o PCP.
Quanto ao resto, alguém acredita que o caso José Silvano, um dos coveiros do Vale do Tua, não acontece amiúde em todas as bancadas parlamentares? Acredito que não aconteça no PCP (não me falem do Partido de Ricardo Robles) e sei que o deputado do PAN não tem ninguém com quem partilhar a password. Os outros, parafraseando o linguajar refinado de António Oliveira, é tudo o mesmo putedo. No CDS, no PS, no PSD – onde o escolhido foi Silvano por ser o braço-direito de Rui Rio.
No meio disto tudo, vamos fingir que Ferro Rodrigues não sabia. Que não é conivente e não pactua com esta prática generalizada.
Um presidente da Assembleia da República digno, com um pingo de sentido de Estado, tinha enviado de imediato todo o processo para o Ministério Público. Mas como sabemos, ele está a cagar-se tanto para o sentido de Estado como se esteve a cagar em tempos para o segredo de Justiça.

“Quem não deve não teme” – mas evita responder a questões?

Declarações do deputado ubíquo:

  • “Não registei a minha presença, não mandei registar, não auferi qualquer vantagem monetária”
  • “Não pedi a ninguém para me registar tal como estou convencido que nenhum deputado terá feito mesmo quando no exercício de cargos partidários ao longo dos anos”
  • “Sou um homem honrado, com mais de 30 anos de vida pública e nunca ninguém me apontou qualquer irregularidade”
  • “Dada a dimensão mediática que este caso atingiu, todos deverão perceber que sou eu o primeiro a querer que tudo seja devida e rapidamente esclarecido”

O deputado mostra-se surpreendido pela dimensão mediática do caso. E que caso é este? Trata-se, apenas, da fraude quanto à sua participação num plenário do Parlamento. José Silvano não ver porque é relevante uma questão de ética, ocorrida numa casa onde se deve dar o exemplo, revela tudo sobre si mesmo. Não teme mas recusa-se a responder a uma questão muito simples: como é que alguém usou a sua password? Só falta vir a brigada do spin dizer que foi um ataque dos hackers russos. [Read more…]

E as unhas estavam pintadas?

O deputado e secretário-geral do PSD José Silvano tem o dom da ubiquidade, mas por interposto dedo.

a password do Senhor deputado José Silvano terá sido utilizada por pessoa diferente do Senhor deputado, enquanto este se encontrava ausente do plenário

A questão central é saber se os dedos que digitaram a password em causa tinham ou não unhas pintadas. Como se sabe, a manicure é um tema central quanto ao respeito institucional no Parlamento.

Já agora, aquela conversa pró-privado, tão popular na direita dos colégios privados, da saúde privada, dos seguros como alternativa à segurança social, do estado mínimo e por aí fora, dizia, esse amor ao que é privado também é para servir de modelo nesta situação? A questão coloca-se porque, no privado, uma situação de fraude como esta é motivo para despedimento com justa causa.

Manicura São Bento, arranjamos unhas no Parlamento

Já acompanhei alunos em visitas à Assembleia da República. De uma maneira geral, ficam espantados com o comportamento de alguns deputados que, enquanto alguém está a discursar, passeiam pelas bancadas, lêem o jornal ou conversam em pequenos grupos de costas para o púlpito. Numa dessas ocasiões, um aluno chegou a dizer-me: “Se nós fizéssemos o mesmo, o professor marcava-nos falta disciplinar.”

Na sala de aula, já, por várias vezes, fui obrigado a censurar comportamentos, o que faz parte do ofício, como é evidente. Entre outros, dei por mim espantado com uma aluna a pôr creme nas mãos de uma colega, acto que foi interrompido prontamente, ainda que com algum espanto por parte das minhas vítimas.

Isabel Moreira foi fotografada a pintar as unhas durante o debate do Orçamento. Não me parece pior do que estar a conversar enquanto outra pessoa fala. Parece-me igualmente mau. Entretanto, alguém defendeu a deputada, afirmando que há deputados que lêem o jornal no Parlamento. O problema está, evidentemente, em ter defendido o comportamento da deputada.

É demasiado fácil dizer mal dos deputados e desprezar a importância do seu trabalho – o que os torna estranhamente próximos dos professores -, mas a verdade é que estamos a falar de pessoas que foram eleitas pelo povo e que devem encarar a sua presença no Parlamento tendo em conta que são observados e que, portanto, servem de exemplo. Se um dia alguém estiver a pintar as unhas numa aula, serei obrigado a dizer qualquer coisa como “Mas já chegámos ao Parlamento?!”

Entre o mesmo e o mesmo

Santana Castilho*

Levando de rojo leis e senso comum e assediando moralmente milhares de professores, o ministro e a secretária de Estado da Educação mostraram no Parlamento, na semana passada, não terem meio bosão de consciência. Tiago Brandão Rodrigues reafirmou, quanto à contagem do tempo de serviço efectivamente prestado pelos professores, que nove anos, quatro meses e dois dias são, na aritmética do Governo, iguais a dois anos, nove meses e 18 dias. Alexandra Leitão, com a ligeireza que lhe conhecemos, epitomou a trapalhada que criou sobre os concursos como um “não problema”. A isto já responderam os sindicatos com uma greve fofinha, visando, para perturbar pouco, apenas as reuniões de avaliação dos anos sem exames nacionais. Assim vamos, entre o mesmo e o mesmo.

Várias alterações curriculares vão ser acolhidas em decreto-lei, destacando-se do quadro a generalização da “flexibilidade curricular”, a retoma da nota de Educação Física para a média de acesso ao ensino superior e o novo regime jurídico da educação inclusiva. 

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Fernando Negrão against the world

JC

Hoje é o dia da estreia de Fernando Negrão nos debates quinzenais com o governo, na qualidade de líder da bancada parlamentar do PSD. Um líder que não lidera todos os deputados da sua bancada, ou não estivesse em curso a tal rebelião com que Negrão não contava, mas que, ao contrário daquilo que o próprio afirmou, não foi suficiente para se demitir do cargo. [Read more…]

Maria Luís Albuquerque não leva Portugal a sério

Foto: Lusa@Dinheiro Vivo

e como tal está-se um bocado nas tintas para o cargo para que foi eleita, tendo ficado, na última sessão legislativa, a apenas uma falta de perder o mandato de deputada. Ainda tive esperança que fosse desta, que ter que pagar ordenado e mordomias a uma indivídua que torrou milhões em swaps e nos Banifs desta vida, que ajudou a varrer para debaixo do tapete para nos aldrabar com a fraude da saída limpa, é uma maçada, mas a senhora lá se safou e, para grande tristeza minha e de uma quantidade significativa de portugueses, continua a acumular o cargo com as funções exercidas no sector da pirataria especulativa. A parte boa no meio disto tudo é saber que, enquanto o laranjal for liderado por gente desta, que não leva nem é para ser levada a sério, estaremos a salvo de novas aventuras além-Troika. A parte má é que convinha termos uma oposição útil e responsável no Parlamento. Esta já praticamente só serve para envergonhar diariamente a direita.

Comissões

Um dos problemas das comissões parlamentares transmitidas em canal aberto pelas televisões é o da contradição, ou talvez paradoxo, que reside na tensão entre a bondade, em abstracto, da sua transmissão por razões de transparência democrática, e o facto funesto de tal transmissão intervir dramaticamente na disposição de muitos deputados os quais, enquanto têm consciência da presença das câmaras, falam para a audiência, que julgam ignara, esquecendo qualquer espírito analítico, chafurdando na mais básica demagogia, enfeitando de pesporrência as suas discursatas. Mal liguei a televisão e logo a tonitruante voz de Carlos Abreu Amorim me empurrou para outro canal, onde o Delgado, mostrando a verdade da tese de Einstein sobre a infinitude da estupidez humana, exortava o Ministro da Defesa a cobrir os céus, 24 horas por dia, de vigilantes helicópteros e drones – é engraçado ouvir o Delgado, que sempre se mostrou tão alerta em relação às questões do défice, propor uma iniciativa para a qual, provavelmente, nem todo o Orçamento do Estado chegaria. Com um nó no estômago, voltei à Comissão. Contrariado, mas voltei. Alguém tem de testemunhar, senão não se acredita.

O Parlamento ainda mais como centro de negócios 

Já temos os escritórios de advogados, dos deputados ex ou actuais, que fazem a legislação e os pareceres, tarefa da responsabilidade da Assembleia da República. Os saltitões entre áreas tuteladas e correspondentes posições no privado é uma realidade. E agora há isto.

PSD quer empresas de deputados a participar em concursos públicos

 O que eu acho delicioso nisto é ouvir as luminárias do PSD manifestarem-se contra o socialismo, que gasta o dinheiro dos contribuintes e depois querem ir, e vão, ao pote.

Os políticos que temos 

Estão espelhados neste vídeo. Tal é a redoma onde se encontram fechados que nem lhes importa que todo o país assista. 

Podia ser diferente? Sim, mas não era a mesma coisa. Ainda poderiam acabar a falar sobre como é que acabámos a transferir boa parte dos nossos rendimentos para os diversos bancos que temos salvo, cá e lá fora (sim, que factura dos irmãos limão, entre outros, também cá chegou).