A Caixa Geral de Depósitos é um Banco de capitais públicos, ou seja, propriedade dos portugueses. Na hipótese de existirem lucros, os mesmos deveriam supostamente aliviar a carga fiscal, na hipótese de prejuízos o mesmo terá que ser suportado pelos contribuintes. Se no caso da Banca privada poderemos trocar argumentos sobre o que deve ou não ser o papel do Estado, na CGD a questão é claríssima.
Sabendo que cabe aos accionistas nomear e destituir administrações, respondendo estas perante os primeiros, que deliberam as orientações estratégicas, no caso da CGD, é pacífico que enquanto o capital for público, cabe ao governo nomear as administrações e traçar as grandes opções.
A crise financeira que assistimos no final da passada década, abalou os alicerces do sistema, pela exposição da Banca comercial à Banca de investimento, isto para utilizar uma linguagem simples. Poderemos discutir se é justo chamar os contribuintes a cobrir as perdas dos accionistas, se uma vez intervencionada até que ponto poderá o Estado condicionar a condução dos destinos de instituições privadas, até mesmo se deveriam ter sido ou não nacionalizadas. O caso da CGD é diferente, porque estando obrigado a um aumento de capital, o Estado financiou, como sempre o fez, como sempre o fará, porque precisamente o Banco é público.
Perante a lista de incumpridores que causaram sérios prejuízos à CGD, olhar para a lista é logo revelador do maravilhoso compadrio que reina no capitalismo tuga, não surpreende que muitos suspirem pelos saudosos, para eles, tempos do corporativismo protecionista que atrasou durante décadas o desenvolvimento do país. Mas não se pode apontar o dedo apenas aos devedores, há que apurar responsabilidades. Das duas uma, ou existe crédito concedido por incompetência dos quadros responsáveis pela análise de risco, o que manifestamente não acredito, ou existiram decisões ao mais alto nível que ignoraram as referidas análises. E se assim foi, convém sabermos exactamente quem e quando tomou tais decisões. Mesmo que algumas tenham prescrito e aqui entramos noutra questão, que é saber o que foi feito para tentar recuperar o crédito mal parado antes das prescrições.
Chegados aqui, sabendo quem foram os elementos das administrações responsáveis, saberemos também quem foram os políticos que os nomearam. E se é verdade que por via das prescrições a esmagadora maioria destes senhores não pode ser julgada, não se livram da censura moral que toda a sociedade lhes pode dispensar. Muitos andam por aí tratando das suas vidas na política, estejam no governo ou oposição e não custa acreditar que mais uns quantos continuem diariamente a negociar com o Estado. E provavelmente arquitectando perdas futuras com que nos entreteremos a discutir daqui a dez ou quinze anos.
É tempo de dizer basta e colocar um ponto final no regabofe, não existe aqui qualquer sigilo bancário, trata-se apenas de denunciar quem nos ficou a dever e quem o permitiu. Claro que esperar que tal aconteça em Portugal…
«Na hipótese de existirem lucros, os mesmos deveriam supostamente aliviar a carga fiscal»
Ilegal dentro do mercado único, e irrelevante fora. O estado é o criador de dinheiro, com ou sem impostos.
«O caso da CGD é diferente, porque estando obrigado a um aumento de capital»
No mercado único não é, porque é a única coisa que pode fazer para evitar o colapso.
«Mas não se pode apontar o dedo apenas aos devedores»
Excepto quando são dívidas soberanas, claro. Principalmente quando é o FMI.
«ou existe crédito concedido por incompetência dos quadros responsáveis pela análise de risco»
E qual é o banco onde isso não acontece todos os dias, sendo que sabem que podem todos combinar taxas (LIBOR, etc) e que são demasiado grandes e importantes para falhar?
A única razão pela qual a CGD é diferente é que pode passar a ser um benefício no dia em que nos livrarmos do monetarismo.
O apuramento de responsabilidades na CGD, sendo obrigatório, por imperativo de consciência para a maioria dos cidadãos, nunca poderá dissociado da restante Banca. Por variadissimas razões. Por ex: Berardo pediu dinheiro à CGD para ir comprar ações do BCP.
A ideia de que a Banca privada é um caso à parte, tornou-se num embuste dos grandes. Uma grande treta, contada a incautos. Basta ver o que custou ao contribuinte, o BES, o BANIF e o BPN, isto para não falar dos empréstimos aos outros bancos, ainda que ressarcidos à posteriori.
Mas poderíamos falar na privatização dos CTT, uma verdadeira asneira, sem que daí viesse grande benefício para o cidadão. Mas foram-nos vendidas todas as certezas. Os investidores quiseram foi criar um Banco, à conta da carteira de clientes institucionais, via certificados de aforro do BdP, e da rede de balcões, já existente. Nada a que não estejamos habituados.
Diga-me quantos empresários de referência há neste país, do PSI 20, que não estejam sentados em negócios de renda fixa, sem risco.
Quem mete a cabeça no cepo, são as pequenas e médias empresas. Os outros traficam influências várias e dão emprego a ex governantes. A CGD afundou com essa gente.
Os laranjas, lembraram-se agora que a CGD era um banco publico. Enquanto servia para dar cobertura a Banco do PPD, também conhecido pelo BPN, estava tudo bem. O chaparro de Boliqueime deveria também ser inquirido, mas essa vaca sagrada ninguém incomoda.
Ja me esquecia. Também serviu para dar cobertura ao bandido Ze das Socas e os seus amigos, cuja formação inicial foi na JSD, como toda os laranjas sabem e querem esconder.
A cgd foi um autêntico regabofe e quem beneficiou com isso foram os administradores que, apesar dos prejuízos por culpa própria, continuaram a receber salarios milionarios e outras benesses sobre lucros que não existiam. Os devedores são os caloteiros do costume; chegaram, encheram os bolsos e foram a sua vidinha e hoje estão a gozar do rendimento dos milhões roubados aos contribuintes que são quem tem de pagar a fatura. Como sempre a justiça encolhe-se e não atua porque não querem incomodar estes energumenos sem escrúpulos justficando-se com a prescrição. Mas será que para roubos deste tamanho hajam prescrições?
Eu não percebo, Almeida. Então os empréstimos da Caixa não foram feitos num mercado aberto e tal, regulado por uma “mão invisível” e tal e coiso, onde empresários liberais de sucesso procuraram crédito e tal, para negócios e tal e coisa, procurando maximizar os lucros e tal, num sentimento egoísta e tal que, ao assegurarem os seus auto-interesses e tal. contribuem para a eficiência geral da economia e tal e coisa e, consequentemente para o interesse geral e tal?
Então V. Exa. queria que o Estado e tal, interviesse de modo regulatório e tal, distorcendo o mercado e tal, e impedindo os empresários e tal de fazerem os seus negócios e tal, em perfeita liberdade e tal e coiso?
E deve alguém e tal, colocar na praça pública e tal, a lista dos devedores coisos que, devido à crise económica e tal, e aos comunas e sindicatos e tal, que impedem as empresas de serem eficientes e tal, tiveram azar e tal e não conseguiram pagar os milhões e tal, porque isto de empreendedorismo envolve riscos e tal?
Ó Almeida, creia V. Exa. que me está a desiludir. Qualquer dia ainda me vem dizer que, depois disto tudo, há tipos que deviam ir para a cadeia e tal só porque puseram o mercado a funcionar e tal e aproveitaram a mão invisível para se aliviar e tal.