A prova

Já se sabia que a tese de a Huawei ser um perigo para a segurança dos EUA tinha uma forte possibilidades de ser um bluff. Agora, a prova está aí. Como era óbvio, a questão sempre foi uma guerra comercial, onde os americanos exerceram toda a sua força para tentar não perder o controlo comercial e técnico das futuras redes 5G.

Se havia um perigo de segurança há uns meses, este continua a existir agora.

O que é que mudou, então? Por um lado, diversas empresas americanas começaram a fazer pressão para que a barreira colocada à Huawei fosse levantada, pois os seu negócios estavam a ser afectados. E se há argumento a que Trump é sensível, o lucro é, porventura, o principal. Ver, por exemplo, a anacrónica decisão de reforçar o investimento nas central de carvão (“beautiful, clean coal“).

Por outro lado, a pressão americana não funcionou também como esperado entre os europeus, alvo primário da campanha americana, com os governos e operadores de telecomunicações europeus a tornarem óbvio que não são o exército de broncos que é o seu eleitorado.

O perigo de segurança, na verdade, é real. A possibilidade de a tecnologia ser um cavalo de Tróia ou um buraco na fechadura para espiar não pode ser ignorada. Mas, para os europeus, isso é válido tanto para produtos chineses como para os americanos. E estes últimos já têm registo de terem sido usados para espiar e invadir os seus parceiros. A estratégia não pode, portanto, passar por escolher este ou aquele parceiro, mas sim por se estabelecer um desenho tecnológico que tenha em consideração os perigos.

Fizeram figura de parvo certos cronistas, políticos e órgãos de comunicação social que aderiram à campanha americana. Alguns deles até vendo a salvação do ocidente, face a uma China opressora e cada vez mais forte, nesta iniciativa de Trump. Estão sempre a tempo de ganhar juízo.

Mais uma vez se torna clara a estratégia de Trump. Toca e foge, criando o caos pelo caminho, para no fim tudo ficar igual, apesar da gabarolice de ter resolvido o problema que o próprio criou. Foi assim com a Coreia do Norte, com o muro no México, com o Irão e, agora, com a Huawei.

Comments

  1. Carlos Almeida says:

    Provavelmente Trump já percebeu que não iria ganhar a guerra com a Huawei, principalmente porque não teve o feedback esperado na pressão sobre a Europa, relativamente às redes 5G instaladas pelas empresa chinesa.
    Não sei da situação do 5G em outros países da Europa, mas por exemplo em Espanha, há cerca de 2 ou 3 semanas que já existe 5G a funcionar em 15 cidades, com instalações da Huawei.
    Curiosamente ou talvez não, a RTP que dá com grande pompa a informação de um teste de transmissão de vídeo feito pela Altice entre a “Altice Arena” e as torres de Monsanto, “esqueceu-se” de dar essa noticia sobre 5G em Espanha.