Liberalismo explicado às criancinhas
Aguarda-se, a todo o momento, uma aula magistral por eminente teórico defensor do liberalismo económico sobre o papel da proibição de particulares e/ou empresas investirem onde e em quem bem entenderem. (ver notícia)
A derrota da Huawei

Huwaei Mate 30 Pro
Tal como se antecipava, as dificuldades da Huawei face ao bloqueio americano iriam fazer-se sentir mais ao nível dos serviços (Google Play e Google Apps) do que quanto ao acesso a materiais (processadores, sistema operativo, etc.). Chegou o momento da prova de fogo, com a Huawei a apresentar hoje o seu primeiro modelo (Mate 30 Pro) sem que, até agora, se tivesse sabido se este telemóvel terá acesso a aplicações como Gmail, Maps, demais software e serviços da Google. [Read more…]
É oficial: a Huawei já não está a espiar ninguém
Há coisa de um, dois meses, comprei um Huawei. Comprei por ser um bom telemóvel, segundo o meu guru dos telemóveis, que confirmou ser uma excelente opção pela vantajosa relação qualidade-preço.
Dias depois, o lunático que manda nisto tudo decidiu fazer a folha à Huawei. Alegadamente porque a China estava a usar o gigante tecnológico para espiar os EUA e o Ocidente. E se calhar até está, tanto quanto os EUA espiam o mundo inteiro com um vasto leque de tecnologias desenvolvidas para o efeito.
Desculpas para enganar malta que degusta gelados com a testa à parte, era mais que óbvio que o cerco a Huawei foi apenas mais um capítulo de uma guerra comercial entre China e Estados Unidos, que nos poderá empurrar a todos para um abismo bem mais profundo que o de 2008. Seja pela possibilidade da China inundar os mercados com dívida americana, da qual é o maior credor, seja pelas sanções contraproducentes, que prejudicam a arraia miúda e às quais os senhores do dinheiro continuam e continuarão imunes, seja pelo potencial para escalar militarmente no Pacífico.
Entretanto, o G-20 reuniu-se e Trump andou por lá a roçar-se em alguns dos ditadores mais canalhas que o planeta pariu, como o talhante saudita ou o oligarca-chefe da mother Russia. E no regresso ainda foi apertar a mão ao Kim da Coreia. Mas antes de bater continência ao senhor absoluto de Pyongyang, Trump reuniu-se com Xi Jinping e levantou as sanções à Huawei. Parece que, afinal, já não estão a espiar ninguém. Ainda não é desta que fico sem acesso às aplicações e o Google pode continuar a espiar-me à vontade e a entregar os meus (nossos) dados à espionagem norte-americana. Tudo está bem quando acaba bem.
A prova
Já se sabia que a tese de a Huawei ser um perigo para a segurança dos EUA tinha uma forte possibilidades de ser um bluff. Agora, a prova está aí. Como era óbvio, a questão sempre foi uma guerra comercial, onde os americanos exerceram toda a sua força para tentar não perder o controlo comercial e técnico das futuras redes 5G.
Se havia um perigo de segurança há uns meses, este continua a existir agora.
O que é que mudou, então? Por um lado, diversas empresas americanas começaram a fazer pressão para que a barreira colocada à Huawei fosse levantada, pois os seu negócios estavam a ser afectados. E se há argumento a que Trump é sensível, o lucro é, porventura, o principal. Ver, por exemplo, a anacrónica decisão de reforçar o investimento nas central de carvão (“beautiful, clean coal“).
EUA contra Huawei, a batalha do monopólio
A administração norte-americana baniu a Huawei dos EUA, interditando simultaneamente as empresas norte-americanas de exportarem tecnologia para esta empresa.
Além do bloqueio no território americano, a medida tem impacto global e os efeitos sentir-se-ão em breve. A Google anunciou que as suas aplicações e serviços, tais como Gmail, Maps, YouTube e outros, não poderão ser usados em futuros modelos dos telemóveis Huawei. Idem para actualizações de segurança. A Intel também anunciou restrições às suas tecnologias. E o mesmo se passará com todas as empresas americanas que exportem bens e serviços.
Por trás das palavras – Huawei, Cisco, 5G, NSA e os EUA (6) – conclusão
No post anterior demonstrou-se a enorme dimensão da ameaça de cibersegurança que os EUA constituem para o resto do mundo.
Prestes a perder o controlo tecnológico sobre a nova infra-estrutura de telecomunicações, baseada no 5G, os americanos decidiram bloquear a Huawei no seu território e procuram que o mesmo fosse feito pelas restantes nações sobre as quais têm alguma forma de ascendente. Ao longo de diversos posts, ficou claro que a motivação é um misto de motivações económicas e de garantir a supremacia tecnológica sobre o 5G, o que contribui para o argumento económico, mas também, não menos importante, para manter a capacidade de espiar outras nações.
A pressão americana em Portugal fez-se sentir em diversas frentes. Por um lado, o PSD, de repente, descobriu a ameaça chinesa, depois de não ter tido escrúpulos em entregar ao Estado chinês uma infra-estrutura nacional absolutamente estratégica para o país (a REN). Mas não esteve sozinho. Vimos jornalistas como Victor Ferreira, Karla Pequenino (aqui também), Manuel Carvalho, Francisco Correia, São José Almeida e Nuno Ribeiro, entre outros, fazerem apenas meio jornalismo. O jornal Público, onde estes artigos foram publicados, parece ter-se tornado na caixa de ressonância americana quanto a este assunto. O editorial de Manuel Carvalho, em particular, é todo ele um exercício de opinião transvestido de jornalismo, decalcando todos os argumentos que têm sido usados pelos EUA e apontando apenas como ponto negativo os “casos escandalosos de entrega de dados privados por parte da Google ou da Facebook”, quando este tópico nem sequer é aquele de facto relevante quanto às ameaças de segurança em causa.

Destaque do Jornal PÚBLICO no dia 21 de Março de 2019
Por trás das palavras – Huawei, Cisco, 5G, NSA e os EUA (5)
O post anterior focou-se na motivação do bloqueio à Huawei nos EUA, olhando para os aspectos da ameaça à segurança e da questão económica. Ficou claro que a administração dos EUA está trabalhar activamente para proteger as empresas norte-americanas, o que tem o seu lado de cinismo numa economia que se auto-intitula como dirigida pela mão invisível de Adam Smith. Também se abordaram as questões de segurança que devem ser consideradas, não apenas sobre a Huawei, mas sobre todas as empresas fornecedoras de equipamentos de telecomunicações.
O argumento chave dos EUA é que uma empresa chinesa é uma ameaça à sua segurança. E, naturalmente, têm razão. O facto é que, há alguns anos, os americanos eram o fornecedor com maior domínio no mercado, pelo que as suas redes de telecomunicações eram geridas por empresas americanas. No entanto, a globalização, activamente impulsionada pelos americanos, no seu próprio interesse económico, mudou o panorama. Fez emergir uma nova potência económica, a China, e agora os EUA estão a provar o seu próprio “veneno”. Os operadores de telecomunicações norte-americanos têm interesse em comprar os equipamentos chineses, que são mais baratos do que os que são produzidos por empresas locais, mesmo se parte da produção ocorra na China.
Neste cenário, qualquer empresa completamente estrangeira é uma ameaça para os EUA. E qual é o cenário para o resto do mundo? Muitos países europeus não têm indústria própria e, mesmo entre os que a têm, incorporam uma grande quantidade de tecnologia estrangeira. O que significa que a nova situação nos EUA é o dia-a-dia para resto do mundo.
E como é que se têm portado os EUA com o resto do mundo? Muito mal. Na verdade, têm-se portado tão mal quanto eles dizem que a Huawei se vai portar.
Por trás das palavras – Huawei, Cisco, 5G, NSA e os EUA (4)
No post anterior analisou-se o contexto das telecomunicações móveis nos EUA e como este está a colocar em risco a posição dominante da Cisco no mercado dos equipamentos da infra-estrutura de telecomunicações, tendo ficado no ar a questão de o boicote à Huawei ser apenas uma questão comercial ou se também há questões de segurança associadas.
Começando pelo discurso oficial da administração norte-americana, a Huawei foi interditada nos EUA apenas por razões de segurança.
Do ponto de vista de segurança, qualquer produto estrangeiro é um potencial problema de segurança, especialmente se este for um produto de telecomunicações. Neste sentido, faz sentido os americanos estarem a bloquear uma empresa chinesa. No entanto, porque é que a ZTE foi autorizada a operar nos EUA depois de ter sido declarada como sendo um perigo para a segurança nacional? E se a Huawei é um problema de national security, porque é que continua a ser a ser permitido usar este fornecedor para os operadores regionais? [Read more…]
Por trás das palavras – Huawei, Cisco, 5G, NSA e os EUA (3)
No post anterior falou-se, sobretudo, sobre o que traz de novo a tecnologia 5G às redes redes móveis e como a Cisco, líder do mercado dos equipamentos de rede, pode perder a posição de liderança a favor da Huawei.
Não há mistério algum neste ficar para trás das empresas americanas fornecedoras de equipamentos para a infraestrutura de rede. O mercado norte-americano de telecomunicações móveis é controlado por 2 grandes operadores, Verizon (153.9 milhões de assinantes) e AT&T (153.0 milhões de assinantes), seguidos de longe pela T-Mobile (79.7 milhões de assinantes) e pela Sprint (53.5 milhões de assinantes). Estes operadores actuam de forma concertada e monopolista, tendo inclusivamente cobertura da entidade reguladora, que as protege em vez de zelar pelo interesse dos consumidores (ver post anterior).
Por trás das palavras – Huawei, Cisco, 5G, NSA e os EUA (2)
Há muito mais do que tecnologia por trás do que se tem dito sobre a nova silver bullet das comunicações móveis.
A tecnologia 5G está a chegar ao mercado de consumo. O 3G trouxe velocidade à rede GSM, que até aí, pouco mais era do que telefonia móvel. O 4G banalizou o acesso a grandes volumes de dados. E o 5G irá trazer tempos de resposta que irão parecer instantâneos.
Se ver um filme no telemóvel ou descarregar grandes ficheiros com os dados móveis já não é um problema, o tempo de resposta aos pedidos continuou a ser longo no 4G. Todas as actividades que dependam da velocidade de reacção não poderão contar com esta tecnologia. Imagine-se, por exemplo, um cirurgião a controlar remotamente um bisturi em que seja necessário meio segundo para visualizar cada movimento.”Ups! Era só para cortar o prepúcio?…”
Por trás das palavras – Huawei, Cisco, 5G, NSA e os EUA (1)
Há dias, o responsável pela regulação das telecomunicações dos EUA, o FCC, esteve em Portugal, juntamente com o embaixador dos EUA em Portugal, a fazer pressão para que o governo bloqueasse a possibilidade de a Huawei fornecer equipamentos de telecomunicações 5G aos operadores de telecomunicações portugueses.
A visita fez parte de uma cruzada pela Europa, que já tinha passado pela Nova Zelândia, Austrália, Japão e Canadá. Trump, ele mesmo, envolveu-se no tema, da forma idiota e mentirosa que lhe é característica, desvalorizando a tecnologia 5G, que ainda nem chegou aos consumidores, e falando num inexistente 6G, como quem recomenda “não compres já o computador – espera pela actualização que sairá depois do Natal”.
Por cá houve quem achasse que tinha uma oportunidade de fazer corpo presente e mandou umas bocas. Há sempre quem se ofereça para fazer estas figuras.
A história é longa demais para um post e sairá ao longo dos próximos dias. Há muito mais do que palavras por trás do que se anda a dizer quanto ao 5G.
Tiro nos pés
Os bloqueios ditados por Trump poderão ser, para não dizer que irão ser, um forte impulso no sentido contrário àquele supostamente apontado pelo slogan da candidatura de Trump à presidência, Make America Great Again.
Veja-se o caso ZTE e Huawei, dois fabricantes de telemóveis com restrições de comercialização nos EUA. Antes destas, a ZTE era o quinto maior fabricante mundial de telemóveis e a Huawei tinha forte possibilidades de chegar a número um, especialmente com os modelos P10 e, agora, P20 Pro, este último com a câmara fotográfica mais avançada da actualidade, a qual já ganhou o prémio TIPA de melhor smartphone fotográfico*.
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