A morte tem, entre outros, o efeito secundário de interromper em definitivo a possibilidade do individuo se defender. Se bem que tal se torna irrelevante a partir do momento em que voltamos a ser poeira das estrelas, mesmo que envolta num recipiente de chumbo — apesar de haver quem acredite que algo, a alma, persiste para além da particular combinação de átomos que nos define, mas essas são outras opiniões e cada qual que se entenda com a sua.
Por isso, na minha forma de encarar a vida, para Freitas do Amaral será indiferente que os pulhas que lhe fizeram o que fizeram hoje o homenageiem. Já para os vivos, fica o registo da hipocrisia e a total falta de vergonha nas fuças dos que a esse papel se dão. Dirão alguns que a política é assim. Na verdade, são as pessoas que são assim e há destas em todo o lado.
Há uma direita que nunca perdoará a Freitas do Amaral o facto deste não se ter desviado um milímetro que fosse, daquilo que assumiu defender em 1974 quando foi eleito deputado, a Democracia Cristã. Aliás, dos históricos centristas, e falo dos vivos, todos eles se afastaram das últimas lideranças dos partidos. Acresce que Domingos Amaral, Jacinto Lucas Pires e Isabel Moreira, todos eles filhos de ex líderes do CDS, nenhum deles se identifica com aquela seita do CDS.
A melhor homenagem que se pode prestar a Freitas do Amaral hoje, e voltar a remeter o CDS para o TÁXI, nas próximas eleições, demonstrando como a razão estava do lado deles.
Freitas do Amaral nunca mereceu, da minha parte qualquer apreciação positiva.
Transportou o estigma do fascismo e, com a minha idade e experiência, não me acredito que se mude um modo de pensar quando se tem 33 ou 34 anos. Simplesmente, não me acredito que se vire democrata só porque o regime político mudou ou só porque se declarou uma qualquer “primavera”.
Freitas do Amaral, positivamente, colou-se a um novo regime, mas com práticas e teorias do passado. Essa foi a imagem de marca de um CDS revanchista no seu tempo e no tempo do PREC.
Neste aspecto, honra a Sá Carneiro que, mesmo no tempo do fascismo, soube alhear-se do fato salazarista e caetanista, tendo contestado a situação, enquanto Freitas do Amaral contemporizava com o Estado Novo.
Portanto, para mim, a fotografia de Freitas do Amaral está feita há muitos anos e a sua passagem para o PS enquanto ministro – ainda por cima de um personagem pouco recomendável como Sócrates – demonstra a sua tenacidade para se manter à tona da água. Mas mais nada, porque ideologicamente foi um personagem do mais pobre que apareceu na política.
Agora, o que me parece mais negativo, é assistir à colagem do CDS e o seu discurso hipócrita sobre o personagem.
Os mesmos que o tornaram proscrito do seu partido e retiraram o retrato da sede, vão agora, não a uma, mas a duas missas e carpem lágrimas de crocodilo, chegando ao ponto de interromper a campanha, tais seres aberrantes, desprovidos de qualquer identidade e honestidade.
Fica, uma vez mais, a imagem da colagem miserável, típica do CDS e dos seus representantes, agora à espera de votos. Esta gente vive de favores – até dos mortos – de forma a poder, quando puderem, fazer favores a outros.
O velho aforismo “Uma mão lava a outra” aplica-se claramente a esse partido onde nesta campanha eleitoral, um conjunto de manifestantes souberam enviar-lhe-lhe o seu verdadeiro epíteto.
…”Portanto, para mim, a fotografia de Freitas do Amaral está feita há muitos anos”
…”porque ideologicamente foi um personagem do mais pobre que apareceu na política…”
Subscrevo em absoluto!
!! e felicito a forma e abrangência da análise excelente e certeira que nos trouxe, E. M. Vaz Ribeiro .
Às vezes pergunto-me, porque, acreditando na justiça social, na correcção das desigualdades, no dever de o Estado assegurar a educação e a saúde, de assegurar a todos uma existência digna e corrigir o funcionamento dos mercados, sou, em Portugal, e sempre fui, um eleitor de direita. Obrigado, por, mais uma vez, responderem à minha pergunta. A capacidade de, do cimo de um plinto moral, chamar “pulhas” aos que mudaram de opinião sobre uma pessoa que, durante duas décadas, a esquerda chamava de “fascista” e, desde que aceitou os tachos que o PS lhe ofereceu, a esquerda passou a gabar, é algo só ao alcance de um certo tipo de gente – que, obrigado por me recordarem, não é o meu.
A capacidade de dizer o que se pensa daqueles que alienaram a pessoa e o passado de Freitas do Amaral – os seus correlegionários políticos – do alto de um plinto ou com os pés na terra, é um direito, mais ou menos questionável.
A sua crítica – justificada, note e que eu subscrevo – dirigida àquela esquerda que lavou a imagem de Freitas do Amaral, passando-o de “fascista” a “democrata”, cai como uma nódoa se se recordar o que o CDS lhe fez. Pessoalmente, não vejo diferença alguma. A pulhice, é exactamente a mesma embora tenha uma nuance: o JPT manda-se aqui a essa esquerda, mas esqueceu-se de, no tempo oportuno dizer o que pensava da direita que teve o mesmo comportamento.
O problema é que essa “esquerda” que acusa, de esquerda não tem nada, admitindo nos seus quadros tudo o que mexa e que possa trazer votos (lembro-lhe o caso do presidente da Câmara de Sintra, também do CDS e que disse do socialismo o que Maomé não disse da Bíblia).
Pois é: há muito tipo de gente na qual eu me não revejo… porque a coerência é uma virtude.
O Dr. Basílio Horta foi a única pessoa que me fez votar nulo, porque também não me via a votar no Dr. Mário Soares.
E fez muito bem na minha opinião… Que par de jarras 🙂
“A capacidade de, do cimo de um plinto moral, chamar “pulhas” aos que mudaram de opinião sobre uma pessoa que, durante duas décadas, a esquerda chamava de “fascista” e, desde que aceitou os tachos que o PS lhe ofereceu, a esquerda passou a gabar, é algo só ao alcance de um certo tipo de gente – que, obrigado por me recordarem, não é o meu.”
Registo dificuldades de interpretação do que está escrito no artigo. Aponta-se que aqueles que fizeram questão de enviar o retrato do homem para a sede do PS, mostrando o que pensavam sobre o seu fundador, são os mesmos que hoje o aplaudem.
Aproveitando a expressão do “plinto moral”, é caso para dizer há falta de espelhos.
Eu estou bem no meu plinto, obrigado. Se me apanhar a chamar “pulhas” aos que fazem o mesmo que estou estou a fazer, de passar “diabos” a “anjos” porque passaram para o meu lado da barricada, ou de esquecer todas as minhas sonoras causas porque me arranjaram orçamento para 40 assessores e 100 tachos na EGEAC, faça favor de me arrear.
É possível que me esteja a confundir com alguém, já que nada tenho a ver com com esse EGEAC, assessores e PS (ou outro partido, já agora) – assumindo que é ao PS que se refere com essa tirada das barricadas.
Mas se o problema é a adjectivação, pode-se sempre encontrar outros termos politicamente correctos, para usar uma expressão querida à direita, para nos referirmos ao acto de hipocrisia ontem praticado por quem havia corrido com o seu fundador.
António Garcia Pereira – ex Líder do MRPP
“Perante a multiplicidade de condolências formais e, pior do que isso, de aproveitamentos político-eleitorais, prefiro recordar o cidadão empenhado e atento, e sobretudo o Mestre que, em 1970, me ensinou a gostar de Direito Administrativo, que em 1986 se demarcou do meu saneamento político na Faculdade de Direito de Lisboa, que em 1999 me incentivou fortemente a fazer o meu doutoramento na Universidade Nova de Lisboa e que, em 2002, presidiu ao respectivo júri, e ainda que, em 2005, aceitou fazer a apresentação do meu livro “Ousar sonhar, ousar lutar, ousar vencer”. Tudo isto sempre com enorme elevação e não obstante as nossas óbvias e marcadas diferenças políticas e ideológicas. Morreu um Homem!”
Como se percebe, se alguém tem de “engolir um sapo”, devem ter sido os dirigentes do PSD e do CDS.
Fizeram o que fizeram, muito bem.
E se hoje homenageiam o fundador, muito bem.
Está morto, já não faz mais fitas de união nacional com a matilha socialista.
A União Nacional era o teu partido, mas acabou infelizmente para ti como 25 de Abril,apesar do Marcelo I lhe ter mudado o nome para Acção Nacional Popular mas que era a mesma coisa
Por estranho que possa parecer, ontem no Mercado da Vila em Cascais, Um caso insólito, um partido fez um comício com música que se ouvia, em Alcabideche!
E sabem que autorizou o tal festim?
Foi o PSD/CDS, da CMC, e como vereadores, o PSD, CDS(maioria) e PS?
O tal tempo de silêncio pela morte de Diogo Freitas de Amaral. Grandes amigos que eles eram!!!
Candidato do PCTP/MRPP pelo circulo eleitoral de Lisboa- Cascais