Não é tarde para um obrigado

[Francisco Salvador Figueiredo]

Penso que num país em que tudo é demorado, me vão perdoar um pequeno atraso em relação ao assunto que abordarei. Hoje, irei debruçar-me principalmente sobre a estreia de três partidos na Assembleia da República. Temos um partido extremista, o Chega e a Iniciativa Liberal. Ah, o partido extremista é, obviamente, o Livre.

Mas antes de tudo, comecemos pelos partidos do costume. Temos um PS a repetir a mesma estratégia, só que com mais gente ainda. O PS faz lembrar aquelas crianças que irritam os pais um bocado e depois vão irritando cada vez mais para ver os limites. Neste caso, o pai é o povo português. Um pai demasiado passivo, diga-se.

Agora, tempo para elogiar uma nova cara na Assembleia, uma verdadeira oposição ao Governo. Estamos a falar do irreverente Rui Rio, que depois de meses a fazer campanha ao PS, assumiu a presidência do PSD e tornou-se numa voz ativa contra o governo. Não gosto de Rui Rio, ideologicamente. Mas tenho de lhe tirar o chapéu. Sempre foi sensato no que disse, sempre seguiu a sua cabeça e nunca teve medo de elogiar algo por não ser do seu partido. Na Assembleia, teve uma postura exemplar, ao tocar em pontos frágeis como, por exemplo, a situação do Hospital S. João, mas mesmo assim não caiu numa tendência populista e demagógica.

O CDS? O CDS pecou pela forma que abordou estas eleições. Quis agradar a todos os lados, não assumindo uma posição de direita firme. Desta forma, perdeu votos para outros partidos de direita. Neste momento, são 5, mas continuam a ser partido do Taxi. No entanto, são aqueles para 6 pessoas. O outro lugar é para chamar a atenção do André Ventura (Chega) ou João Cotrim Figueiredo (IL). Só pode…

Bloco e CDU continuam rigorosamente na mesma, sendo que o Bloco a cada ano que passa está cada vez mais extremista e a revelar a verdadeira pele. Livre? As pessoas que votaram Livre não se podem dar por desiludidas. Queriam aquilo e assim está. Joacine continua fiel às suas ideias, não alterando a forma de estar apenas por ter sido eleita. É de louvar. Mas não é por isso que deixa de ter um discurso ressentido, fraco e inútil. O que Joacine quer não é igualdade de tratamento entre raças, mas sim transformar as raças todas iguais. Há um discurso de ódio contra os portugueses. A minha questão é: Se eu achasse que os negros são contra os brancos, porque razão eu iria para o Ruanda defender uma suposta minoria branca? Não faz sentido. Em relação à gaguez, eu não sou terapeuta, por isso a minha opinião não interessa. No entanto, Joacine faz-me lembrar aqueles jogadores de futebol que fintam meio mundo e depois falham de baliza aberta. Uma pessoa até pensa que ela pode vir a dizer algo bom, mas acaba sempre por dizer algo mal. Em relação a este assunto, a direita, mais uma vez, consegue estar mal. O que tem de ser usado como argumento não é a gaguez da Joacine, mas sim as suas propostas.

Chega. Começou por parecer um partido de extrema-direita, mas depois desta campanha já se percebeu que é uma simples direita conservadora. Não me parece que tenha uma força construtiva, mas sim uma força destrutiva. A intervenção de André Ventura na Assembleia não foi uma defesa do Chega, mas sim um roast total ao PS. Nesse aspeto, esteve bem, mas parece pouco para um Partido.

Por último, Iniciativa Liberal. Antes de tentarem decifrar quem eu apoio ou não, fica já dito: Sou de direita liberal e apoiante da IL. Depois de uma campanha forte e original, o Iniciativa Liberal conseguiu colocar na Assembleia uma voz liberal pela primeira vez na democracia portuguesa, visto que o MFA proibiu a existência do Partido Liberal no tempo da tão falada “liberdade”. (Atenção, deputado através de um partido liberal. Não podemos esquecer outros deputados do CDS e PSD.) O discurso do João Cotrim Figueiredo foi o esperado. No entanto, a Iniciativa Liberal continua a cair no erro de não se assumir de direita liberal. É verdade que num país em que a direita é vista quase como um crime é complicado assumir tal posição, mas é necessário ter uma posição forte desde o início.

Por último, uma palavra direta a Carlos Guimarães Pinto. Nada disto seria possível sem o trabalho dele. Foi um ano incrível, um ano de esforço. O Liberalismo passou a ser uma tema normal em Portugal, abriu cabeças (em termos intelectuais, não físicos, não estamos a falar de comunistas nem fascistas), e agora está a ser defendido na Assembleia da República. Numa das últimas ações de campanha, na Avenida dos Aliados, no fim de um discurso, um sem-abrigo foi falar com o Ex-Presidente da IL. Longe das câmaras, longe dos holofotes, lá esteve o Carlos Guimarães Pinto a falar um pouco com o senhor. De certeza que o sem-abrigo tinha uma conta milionária, porque, como sabem, estes animais liberais só querem saber dos ricos e de dinheiro. Toda a genuinidade do CGP, desde reuniões com 20 pessoas num bar na Cordoaria a um abraço forte e sincero ao JCF exibido para um país inteiro, marcou as pessoas que o acompanharam. Nada disto seria a mesma coisa sem a grande figura da Iniciativa Liberal. Obrigado, Carlos.

P.S.: Tomem a liberdade de comentarem o que quiserem. Apenas responderei se achar que não foi explícito.

Comments

  1. Fernando says:

    Liberalismo* e racismo tantas vezes de mão dada…

    *não confundir liberalismo com liberdade.

    E é sempre hilariante ver um assumido liberal dizer que a direita liberal não existia no parlamento, existia e até chegou ao poder.

    Mas, claro, os zelotas acham agora que Passos Coelho era afinal um comunista.

    Até parece que os liberais não votaram em Passos Coelho e não celebraram a vinda da Troika.

    • Luís Lavoura says:

      Talvez Passos Coelho seja ou tenha sido um liberal, sim.
      Porém, enquanto esteve no governo, nada fez (que eu me lembre) em favor da liberdade ou do liberalismo.
      Não foi um governo liberal, embora o seu chefe talvez tivesse convicções liberais.

      • Paulo Marques says:

        Claro que foi, pôs o estado a defender as liberdades do capital dando-lhe a possibilidade de explorar os monopólios naturais. Ou acha que o liberalismo é outra coisa?

      • adelinoferreira45 says:

        Ó Lavoura, limpa-te a este guardanapo:

        “Neste blogue acolhem-se, com prazer, os comentários inteligentes e toleram-se os outros.

        Mas, nos do segundo caso, eu abro uma excepção para si, Luís Lavoura, porque é uma pessoa com historial – eu não me esqueço dos limites da implicação a que se dispôs ir por causa da denominação da Pomerânia Ocidental. Mesmo à distância, deu para perceber quanto até deve ser penoso para si próprio viver consigo.

        Por isso, não se iluda com o “sucesso” desta sua abordagem progressiva de tentar recomeçar por comentários suaves e razoáveis. É uma pessoa cadastrada”

        Ahah

    • salvador1123 says:

      Faço das palavras do Luís Lavoura as minhas. No entanto, o que eu disse foi que pela primeira vez temos um Liberal por um Partido liberal. Senão, estaria a esquecer alguns ex-deputados do CDS e PSD.

  2. Rui Naldinho says:

    Um dos conceitos mais defendidos pelos liberais é o da livre concorrência entre os agentes económicos, no mercado.
    Admitindo que os partidos têm no espaço eleitoral o seu próprio mercado, não fazem publicidade mas fazem propaganda, que é uma coisa parecida, o aparecimento de três novos partidos à direita, o Chega, a IL e o Aliança, vieram equilibrar o “mercado”, num universo sociológico onde a esquerda muito mais fragmentada, acabava sempre penalizada no número de deputados eleitos para a AR.
    É bom não nos esquecermos que Cavaco Silva garantiu assim duas maiorias absolutas à custa do CDS, o tal partido do Táxi. Uma espécie de monopólio do PSD, na direita.
    Como também é fácil de perceber que os “extremistas” do BE, apesar de terem perdido nestas eleições 47.000 eleitores face às de 2015, mantiveram ainda assim o mesmo número de deputados, o que é obra. Por sua vez o PS com uns míseros 36.35% ficou com 109 deputados, a sete da maioria absoluta. Tudo isto porque seiscentos mil votos se perderam nas urnas sem que se elegesse alguém. Desta vez a direita pagou uma boa parte dessa factura. A concorrência no mercado eleitoral.
    É assim, meus caros. O Liberalismo também tem coisas boas. Mas só quando há verdadeira concorrência entre as partes, o que foi manifesto, neste caso.

    • salvador1123 says:

      E quem mais perdeu foi o CDS, pois ao querer agradar a todos perdeu votos para três partidos diferentes. Obrigado pelo comentário. Boa análise!

  3. Ana A. says:

    “Longe das câmaras, longe dos holofotes, lá esteve o Carlos Guimarães Pinto a falar um pouco com o senhor. De certeza que o sem-abrigo tinha uma conta milionária, porque, como sabem, estes animais liberais só querem saber dos ricos e de dinheiro.”

    Sinceramente, “não havia nexexidade”!

  4. Paulo Marques says:

    De certeza que o sem-abrigo tinha uma conta milionária, porque, como sabem, estes animais liberais só querem saber dos ricos e de dinheiro

    Isso não é a parte relevante; até aceito que os libertários acreditem no que dizem. Agora, fico à espera que explique que projecto tem para pessoas com esses problemas com um estado mínimo inevitavelmente deficitário dentro do mercado comum – onde é inevitável que as assimetrias da moeda (e restantes tratados) obriguem a equilibrar a economia por via de cortes salariais, precariedade e desemprego, além de sair do caminho da especulação imobiliária, seguros de saúde, segurança social e por aí adiante. E isso seria o mínimo.
    O desemerdem-se funciona com os partidos “responsáveis” porque o monetarismo é bem vendido; mais do que isso não me parece que muita gente compre em países que sempre foram pobres.

  5. Luís Lavoura says:

    a Iniciativa Liberal continua a cair no erro de não se assumir de direita liberal

    Bem, eu, que votei, tal como o autor do post, na IL, não gostaria nada que ela se assumisse como sendo “de direita”.
    Eu sou liberal e considero-me de esquerda.

    • adelinoferreira45 says:

      Ó Lavoura, limpa-te a este guardanapo:

      Neste blogue acolhem-se, com prazer, os comentários inteligentes e toleram-se os outros.

      Mas, nos do segundo caso, eu abro uma excepção para si, Luís Lavoura, porque é uma pessoa com historial – eu não me esqueço dos limites da implicação a que se dispôs ir por causa da denominação da Pomerânia Ocidental. Mesmo à distância, deu para perceber quanto até deve ser penoso para si próprio viver consigo.

      Por isso, não se iluda com o “sucesso” desta sua abordagem progressiva de tentar recomeçar por comentários suaves e razoáveis. É uma pessoa cadastrada

    • Carlos Almeida says:

      Os liberais de esquerda, já morreram todos, há quase 200 anos.
      Nesse tempo corriam com os ventos da Historia. Os chamados liberais de hoje, vão contra esses ventos

      • Paulo Marques says:

        Não é verdade, há aí por aí anárquicos. Poucos, mas bem intencionados, e com alguns pontos válidos, pelo menos.

    • salvador1123 says:

      O Liberalismo tem ideias de esquerda como de direita. Normalmente, o ser de esquerda ou direita não é o mais importante para um liberal. No entanto, muitos militantes e caras principais da IL assumem-se de direita liberal, o que vai contra o que que pessoas como o CGP e JCF dizem. Apesar de ter umas poucas ideias de esquerda, o Liberalismo é colocado sempre na Direita. Mas sim, é algo discutível e percebo o seu ponto de vista.

  6. JgMenos says:

    Esta treta de direita e esquerda, há-a para todos os gostos.

    O que a esquerdalhada gosta é de pôr os coitadinhos como o factor distintivo: a esquerda cuida dos coitadinhos e a direita dá-lhes injecções letais.

    Ora a distinção há-de essencialmente fazer-se na relação entre a acção do Etado e a acção individual. a esquerda quer subordinação e pasto público e a direita pressupõe que a liberdade impõe responsabilidades.

    • Paulo Marques says:

      Cadê a responsabilidade da EDP, BES, BPN, Banif, ANA, Fertagus, Brisa, Facebook, Boing, Exxon, VW, … e porque é que somos nós que a temos que pagar?

      • salvador1123 says:

        Em todos esses casos, tem-se de responsabilizar as empresas. Não são os portugueses que tem de andar a pagar os prejuízos que outros criaram. Mas não me parece que o meu artigo tenha muito a ver com esse comentário…

  7. Lelo says:

    O ventura é um boneco oportunista, nada mais. A joacine não posso falar das propostas porque nem sequer as oiço…desisto a meio.

    • salvador1123 says:

      Não tenho argumentos para chamar ao Ventura de boneco oportunista. Como disse, até acho piada à forma que ele destrói. Mas falta muito mais para honrar a presença num sítio como a Assembleia.

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