O editorial esquerdalho do Financial Times

KM

O editorial que se segue foi publicado no Financial Times, sendo a tradução da autoria de João Rodrigues, perigoso ladrão de bicicletas. Tentem não entrar em pânico, não baixem a guarda, mas preparem-se: os esquerdalhos andam aí e querem comer os vossos filhos ao pequeno-almoço.

A existir um raio de esperança no Covid-19, este é a injecção de um propósito comum em sociedades polarizadas. Mas o vírus e o confinamento económico necessário para o combater, também lançaram uma luz horripilante nas desigualdades existentes, para lá de terem criado novas desigualdades. Para lá de derrotar a doença, o grande teste que todos os países enfrentarão em breve consiste em saber se os actuais sentimentos de propósito comum moldarão a sociedade a seguir à crise. Como os líderes ocidentais aprenderam na Grande Depressão e depois da Segunda Guerra Mundial, a exigência de um sacrifício colectivo implica oferecer um novo contrato social que a todos beneficie.

A crise actual expôs a forma como tantas sociedades ricas estão aquém deste ideal. A luta para conter a pandemia expôs a falta de preparação dos sistemas de saúde ou a fragilidade de muitas economias nacionais, à medida que os governos correm para evitar falências em catadupa e para enfrentar o desemprego de massas. Apesar de apelos inspirados à mobilização nacional, não estamos realmente todos nisto.

Os confinamentos económicos estão a impor um custo acrescido aos que estavam já em pior situação. De um dia para outro, milhões de postos de trabalho e de sustentos foram perdidos nos sectores da hotelaria, lazer e quejandos, enquanto que os trabalhadores melhor remunerados enfrentam o incómodo de trabalhar a partir de casa. Pior ainda, todos os que têm empregos mal remunerados e que ainda conseguem trabalhar estão tantas vezes a arriscar as suas vidas – como cuidadores e auxiliares de saúde, mas também como repositores de prateleiras nos supermercados, condutores ou empregados de limpeza.

Os extraordinários apoios orçamentais à economia por parte dos governos, embora necessários, piorarão as coisas de várias formas. Os países que permitiram a emergência de um mercado de trabalho marcado pela precariedade e pela informalidade estão a encontrar grandes dificuldades em canalizar ajuda financeira para os trabalhadores com empregos inseguros. Entretanto, o alívio monetário por parte dos bancos centrais ajudará os ricos, que detêm activos. Por detrás disto tudo, os subfinanciados serviços públicos está a ceder, sob pressão das políticas de combate à crise em vigor.

A forma como travamos a guerra contra o vírus beneficiará alguns em detrimento de outros. As vítimas do Covid-19 serão sobretudo os mais velhos. Mas a maiores vítimas dos encerramentos serão os mais novos e activos, a quem é pedido que suspendam a formação e que prescindam de rendimento precioso. Os sacrifícios são inevitáveis, mas todas as sociedades terão de demonstrar como gerar formas de restituição aos que tiveram de arcar com os maiores fardos dos esforços nacionais.

Será necessário pôr em cima da mesa reformas radicais – invertendo a orientação política prevalecente nas últimas quatro décadas. Os Estados terão de ter um papel mais activo na economia. Devem encarar os serviços públicos como investimentos e não como um peso, e procurar formas de tornar os mercados de trabalho menos inseguros. A redistribuição estará novamente na ordem do dia; os privilégios dos mais velhos e dos mais ricos serão postos em causa. Políticas consideradas excêntricas como um rendimento garantido e impostos sobre a riqueza terão de fazer parte do menu.

As medidas que os governos têm tomado para apoiar as empresas e os rendimentos estão a quebrar tabus e são correctamente comparadas com o tipo de economia de guerra que os países ocidentais não conheceram nas últimas sete décadas. A analogia pode ir mais longe.

Os líderes que ganharam a guerra não esperaram pela vitória para planear o que se seguiria. Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill estabeleceram a Carta do Atlântico, que culminaria nas Nações Unidas, em 1941. O Reino Unido publicou o relatório Beveridge em 1942. Em 1944, a conferência de Bretton Woods forjou a arquitectura financeira do pós-guerra. O mesmo tipo de visão é necessária hoje em dia. Para da guerra de saúde pública, os verdadeiros líderes mobilizarão agora para ganhar a paz.

Comments

  1. Fernando Manuel Rodrigues says:

    Só mesmo o “troll” Mendes para ilustrar este artigo com uma foto do Marx (ainda se fosse o Groucho…). O artigo estabelece o paralelo entre a situação actual e um estado de “ecnomia de guerra” que é o que de facto está acontecer. E diz que devemos preparar o futuro como se fosse um pós-guerra. Qualquer paralelo com Marx ou o marxismo será mesmo mera coincidência (excepto para o cérebro obtuso de quem publicou)..

    Curiosamente, o artigo termina citando Franklin D. Roosevelt e Winston Churchil… Dois “perigosos esquerdalhos”, como todos sabemos.

    Saibamos então seguir as pisadas desses dois perigosos esquerdalhos.

    • Filipe Bastos says:

      A foto será para efeito dramático, mas o teor do artigo parece real e perigosamente esquerdista, sobretudo no FT:
      – desigualdades / propósito comum
      – contrato social que a todos beneficie
      – os Estados terão um papel mais activo na economia
      – serviços públicos como investimento e não como um peso
      – tornar os mercados de trabalho menos inseguros
      – a redistribuição novamente na ordem do dia
      – os privilégios dos ricos serão postos em causa
      – rendimento garantido e impostos sobre a riqueza

      Lembra o pós-guerra? Pois lembra: o período mais próspero do Ocidente, quando o capitalismo, embora desigual, sempre servia as pessoas e não apenas ‘elites’ mamonas.

      Antes da desregulação de Thatcher e Reagan, da mama em roda livre da Banca e dos sacrossantos ‘mercados’, da globalização que destruiu emprego – ou antes, mudou-o para semi-escravos asiáticos – só para encher uns poucos, e outros feitos do mui celebrado capitalismo que governa o mundo.

      Se foi preciso uma pandemia, exagerada ou não, para pôr em causa a podridão do sistema, a desigualdade extrema, as fortunas e luxos obscenos, a imensa injustiça disto tudo, triste mundo, mas enfim, é melhor que nunca.

    • POIS! says:

      Pois já topámos!

      Esta fresca e verborrágica forma de assobiar para os ares!

      Tenha cuidado com os covides! Não inspire que é perigoso!

    • Paulo Marques says:

      É, num estado de guerra costuma-se desmobilizar as pessoas e contar espingardas.
      Numa altura em que até Reagan é um perigoso despesista, vale tudo para fazer de conta que o neoliberalismo é uma ciência.

  2. Samuel Clemens says:

    Viva Salazar !
    Viva Passos Coelho !

    • E o burro sou eu ? says:

      Viva eu

      • Abstencionista says:

        O sofrimento alheio não me deixa indiferente e, por essa razão, custa-me ver-te sofrer com essa pergunta desesperada que fazes aos aventares: Se o burro és tu?

        E os aventares, de forma cruel, não te dão o bálsamo de uma resposta!!!
        (deixa-me limpar esta lágrima furtiva que escorre pelo meu visage).

        Pois, (não confundas com o Pois Xoné), aqui estou eu a responder-te a essa dúvida shakespeariana:

        És burro sim senhor!!!

        Burro de moleiro, de orelha arrebitada e sempre disponível para a vergasta.

        Pronto, agora podes confinar-te e descansar essa tola.

        • E o burro sou eu ? says:

          Abstente de comentar, abesta Sionista !

          Eu fiz uma pergunta, nazi

          • Abstencionista says:

            Podes tratar-me simplesmente por ABS, que é um termo carinhoso e também é uma espécie de travão para os jegues não zurrarem.

  3. Paulo Marques says:

    O João deve gostar deste camarada:

    https://unherd.com/2020/04/could-covid-19-vanquish-neoliberalism/

    “Over the course of just a few months, the Covid-19 global pandemic has shattered practically every shibboleth in the neoliberal bible.”

  4. JgMenos says:

    As palavras sempre têm, no léxico esquerdalho, um propósito único;
    – saque a quem tem algo se seu,
    – apascento geral como destino maior da humanidade.

    Fala-se em:
    serviços públicos – logo se vêm com emprego para a visa, a ronronar sentados a uma secretária.
    tributar a riqueza – logo vêm o vizinho a lotear o quintal e a ter que ir de saco de plástico a passear o cão.
    mercado de trabalho menos inseguros – logo vêm o patrão a ter que indemnizar principescamente toda a carraça que lhe emprese o negócio.
    – privilégios dos ricos postoa em causa! – com a riqueza tributada o caso é mais problemático? pelo menos há que regulamentar algo que os chateie e insultálos regularmente.

    Contrato social que a todos beneficie – é gralha; era o que mais façtava que todos saíssem a ganhar!

    • POIS! says:

      Pois estou espantado!

      Com tanta gente a vir-se não sei como não saem todos a ganhar. Todos e todas, já agora!

      • António Fernando Nabais says:

        Grande Pois, foi exactamente o que eu pensei. Nem sei se há resistência para tanto orgasmo.
        Ó menos, filho, isso de de os funcionários públicos se virem é mais uma fantasia tua? Nada contra, que eu até sou um desses esses privilegiados que se vêm com emprego para a vida: trabalhar dá mesmo prazer!

        • POIS! says:

          Pois nem mais!

          JgMenos imagina o verdadeiro paraíso, desta vez ao alcance do comum funcionário e não apenas de privilegiados como aquele conhecido ex-presidente americano ou os tipos dos led Zeppelin nos tempos aureos 😮 orgasmo sentadinho à secretária a ronronar, com coisas a passar-se lá por baixo…

          Este JgMenos é diabólico! Um verdadeiro depravado!

          • POIS! says:

            Pois juro!

            Não fui eu que coloquei o emijo! Não sei o que se passou! O que escrevi foi” (dois pontos) o”

  5. Filipe Bastos says:

    “saque a quem tem algo se seu”

    À riqueza excessiva, sim. Não é saque, é justiça. Equidade. E o que é excessivo?

    O salário médio em Portugal ronda 14.000€ /ano. Arredondemos para 15.000€. Em tempos de abundância, até podíamos multiplicar por dez, não, por vinte, para evitar choradinhos: 300.000€ /ano.

    Mas não são tempos de abundância, pelo contrário. Nestes tempos 200.000€ /ano já é bem bom. Eis o nosso limite. Cada país define o seu limite, com base no seu salário médio.

    Para definir o limite da riqueza basta saber a riqueza média, mas, novamente para evitar choradinhos, admitamos um número simbólico e referendável: para mim, dez milhões de euros.

    Dez milhões de euros. Para quem ganha o salário médio, 714 anos de trabalho. Teria de começar a trabalhar na Idade Média. Isto sem descontos e sem gastar um cêntimo, claro.

    Desculpa habitual nº 1: o limite “desmotivaria as pessoas”. Quem não se “motiva” com 10 milhões ou 200.000/ano não se motivará nunca. A pensar assim, toda a gente já se teria suicidado.

    Desculpa nº 2: ao atingir o limite não há incentivo para fazer mais. Outra treta, mas se fosse verdade – óptimo. Mais oportunidades para outras pessoas criarem e fazerem. A ideia é mesmo essa.

    • Paulo Marques says:

      A julgar pela quantidade de colegas de faculdade que queriam “emprendedorar” e que não o fizeram por falta de oportunidade (€€€), motivação nunca faltou. É preciso é tirar os rentistas/monopolistas do caminho.

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