Manuel Carvalho resume de forma certeira o que se passa na América.
Não é a velha clivagem saudável entre esquerda e direita, entre progressismo e conservadorismo que está em causa: é a oposição entre a decência e a falta de escrúpulo. Se a democracia hesita nesta escolha, é porque se tornou uma banal formalidade.
E a causa:
Na procura de uma resposta para a doença da democracia, o efeito Trump pode então ter uma utilidade – a de demonstrar que não há democracia na desigualdade extrema. Quando as classes trabalhadoras dos subúrbios empobrecem, quando 1% dos americanos controla 40% da riqueza nacional, a tolerância acaba, a revolta cresce e a democracia degrada-se.
Atente-se bem no fosso. 1% dos americanos controla 40% da riqueza nacional. Esta disparidade, não sendo novidade, aprofundou-se nos últimos anos.
Piorando o cenário, as pessoas vivem fechadas em bolhas comunicacionais criadas pelas redes de televisão (Fox News e CNN são as proeminentes de cada um dos lados) e pelas redes sociais (sobretudo Facebook, Youtube e WhatsApp). Com o objectivo de manter os seus “clientes” mais tempo a eles ligados, para lhes vender mais publicidade, estes jardins murados apenas lhes mostram aquilo que eles “gostam”, fechando-os na sua opinião pré-concebida, alheios a outros pontos de vista, incluindo o próprio contraditório. Haveremos de voltar a este tema.
A América não votou em Biden. Melhor, alguns votaram em Biden – apesar de Biden, outros em Trump e os restantes votaram contra Trump.
Claro que todo o sistema está partido, talvez irremediavelmente, e o factor principal está identificado acima: 1% dos americanos controla 40% da riqueza. A nível mundial é parecido.
Como muitos já disseram, o Trampa não é a causa; é um sintoma, uma consequência da podridão do sistema e desta partidocracia. E a ‘nova esquerda’ é cúmplice, alienando as pessoas com BLMs e outras tretas de identity politics.
Para a América não há solução, é um país de carneiros doutrinados e fanáticos, um faroeste degenerado que só neste planeta doente podia ser ‘líder’. Mas com o seu imenso poder económico, militar e sobretudo cultural, arrastam o resto com eles.
Veja-se a importância descabida destas eleições: o que devia ser uma curiosidade distante é visto como um momento decisivo para o mundo. Não pode ser; os EUA têm de cair. Quanto antes melhor. É preciso uma Europa forte. E uma democracia a sério.
Essa ideia romântica da queda do império romano não é dos dias de hoje. Tudo está ligado, como mostrou o covid, caso ainda não se tivesse reparado.
O que acontece nos states tem um enorme impacto na nossa vida neste cantinho. Os populismos ganham força com exemplos destes.
Ok, vou dizer aos negros para deixarem de protestar por serem executados por gunas de uniforme e ficarem quietinhos à espera de serem salvos.
Roma, Napoleão, Hitler… etc… também caíram.
é só esperar!
Roma, Napoleão e Hitler não tinham facebook…
No que á distribuição de riqueza diz respeito penso que por cá estamos na mesma ou pior!