A ilimitada capacidade de digestão de contradições da UE

  • O actual nível de consumo de carne não só não é saudável, como é reconhecida e manifestamente insustentável. “Sempre que optamos por comer carne, dilapidamos – mesmo que involuntariamente – uma enorme quantidade de extensão de território. O planeta não consegue suportar milhares de milhões de grandes comedores de carne. Não há território para isso. Se todos tivéssemos uma alimentação baseada em plantas, precisaríamos de metade do espaço que ocupamos hoje”.
  •  Razões pelas quais, a UE vem ultimamente definindo políticas que apontam no sentido de uma alimentação menos baseada na carne. Como, por exemplo, consta na sua Estratégia do Prado ao Prato: A transição para uma dieta mais baseada nos produtos vegetais, com menos carne vermelha e menos carne transformada e com mais frutas e produtos hortícolas, reduzirá não só os riscos de doenças potencialmente fatais, mas também o impacto ambiental do sistema alimentar“.
  • Porque essa indubitável necessidade de reduzir o consumo de carne está já a reflectir-se numa mudança de comportamento das pessoas nesse sentido, a tendência é, de facto, haver um menor consumo e excedentes de produção.
  • Invocando essa tendência, os lobbies da produção de suínos portugueses, espanhóis e franceses lembraram-se de lançar uma campanha com o modernaço título “Let´s talk about pork”, com a finalidade de convencer os jovens a comer mais carne de porco.
  • Para financiar essa bela ideia, bateram à porta da UE, ou seja, à nossa.
  • A qual, com a sua legendária capacidade de digerir as mais paradoxais contradições, aceitou a peregrina ideia, com um presente pago por nós. Acreditem ou não, “É um investimento de 7,5 milhões de euros para fomentar o consumo de carne de porco. A Comissão Europeia aceitou a proposta dos três países que se candidataram com o projecto Let’​s Talk About EU Pork, Portugal, Espanha e França, e financiou a campanha destinada a desmistificar mitos relacionados com a produção de carne suína. Para Portugal, destinam-se 1,4 milhões de euros geridos por dois grupos: Aligrupo – Agrupamento de Produtores de Suínos e Agrupalto – Agrupamento de Produtores Agro-pecuários.
  • Na mesma linha, a UE está desejosa de assinar o tal acordo de livre comércio com o Mercosul, para importar toneladas de carne bovina, para… comermos mais carne barata. O que não a impede de anunciar na Estratégia do Prado ao Prato: “Por exemplo, é necessário evitar campanhas de promoção que publicitam a carne a preços muito baixos.”
  • E por fim, nem falemos da nova PAC (Política Agrícola Comum), que não tarda nada, vai ser aprovada para ignorar, até 2027, a dita estratégia do Prado ao Prato e o «Pacto Ecológico Europeu», continuando, massivamente, a promover monoculturas, pesticidas, ataque à biodiversidade, etc., por via dos seus bem dotados subsídios por hectare.
  • Resta-nos acreditar que, quando a UE for grande, há-de conseguir tornar-se um bocadinho mais coerente. Enquanto isso, a cabeça puxa para um lado e a barriga, empurrada pelos lobbies, para outro. Nós, e o Planeta, que nos lixemos.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    A política da UE resume-se a fazer tudo como sempre, porque não há dinheiro e nem mais independência, nem mais alterações.

  2. Luís Lavoura says:

    Toda a governação moderna é assim a modos que como uma prostituta: vende-se um pouco a diversos clientes…


  3. Claro que se a Terra tem 7B de habitantes e tem tb 700B de cabeças de gado, é pq há algo que está errado, muito errado mesmo, enquanto o Titanic acelera rumo ao iceberg.


  4. bem, há gado e gado… eu compreendo que o artigo fala de pecuária intensiva, que de facto tem de facto de ser controlada, agora se for pastorícia em pequena escala, como porcos nos montados ou cabras para chegarem a velhas para usar na Chanfana (que o que entristece mais um tuga é perder as tradições, em especial em Coimbra que nem com a Pandemia suspenderam a praxe, é à Sueca, pessoas podem morrer mas as tradição nunca!!!), até podem contribuir para sequestrar carbono. Mas em grande escala concordo que tem de ser controlada, e parte muitos dos consumidores a mudança.


    • Embora compreenda o papel dos consumidores, o caminho tem de passar muito mais por outras soluções. Se as pessoas são brindadas com bifanas a € 2,5 o quilo, não vão comer bacalhau a € 8 ou €9. O excesso de produção faz cair os preços e os pobres deixam de ter escolha.