“A única ditadura que quero é aquela onde os portugueses de bem são reconhecidos”
André Ventura, durante o debate com Marcelo Rebelo de Sousa
André Ventura (AV) defendeu que quer uma ditadura, o que pode ser um acto falhado, um engano, uma metáfora. Ficarei a esperar, sentado, que os críticos de Mamadu Ba façam o mesmo a Ventura. É verdade que AV não quer qualquer outra ditadura, quer “aquela”, uma ditadura específica. De qualquer modo, parece uma ditadura, cheira a ditadura, sabe a ditadura, esperemos não ter o azar de a pisar e sujar o sapatinho.
E o que caracteriza a ditadura que AV quer? É “aquela onde os portugueses de bem são reconhecidos”. Deve haver algumas ditaduras que não reconhecem os portugueses de bem, o que está mal. Não é uma dessas que AV quer; é só esta.
O que é um “português de bem”? Isso ficará ao critério de AV. Pode parecer um bocado discricionário, mas ditadura que é ditadura não anda a perguntar às pessoas, deixa o ditador decidir e não há necessidade de grandes debates. Além disso, AV foi escolhido por Deus, o que lhe confere a infalibilidade. A pergunta que inicia este parágrafo é, portanto, desnecessária, meus filhos.
A imagem que se segue corresponde a um tweet. O mesmo AV que quer uma ditadura defendia que Trump era um democrata. Trump, por sua vez, foi, ontem, responsável moral por um ataque ao Capitólio. Trump é, com certeza, uma pessoa de bem.
André Ventura diz algumas verdades sobre as quais todos conhecemos mas que não temos coragem para as denuciar e preferimos delegar em André Ventura essa tarefa ingrata para o fazer. Porém, André Ventura é um perigoso populista que cativa os incautos sobretudo, aqueles que não viveram as ditaduras de Salazar e Marcelo Caetano.
Ventura, quando muito, diz meias verdades e esquece-se da razoabilidade e do espelho.
Já cá faltava o Ventura. Há que tempos não falávamos do Ventura. Ainda bem que recorda o Ventura. Há tanto para dizer do Ventura. Ventura, Ventura, Ventura. Todos os dias. Ventura.
Ontem pus-me a pensar porque me é o Ventura tão indiferente. Costumo embirrar com pulhíticos, chulos e trafulhas em geral; tenho-lhes asco. Ao Ventura nem por isso. Porquê?
1º porque é (ainda) arraia-miúda. Está ainda longe da mama e podridão dos veteranos do Centrão. 2º porque é um tretas: não acredito que seja tão mau como o pintam, ou como ele se pinta. Creio que é um mero espertalhão, um poser.
Mais: acho que é um tipo inteligente que poderia ser decente, mas que em algum momento se convenceu de que só passava da cepa torta tornando-se um pulha. E tornou-se um pulha.
Antes de ser eleito, já branqueava um traficante de droga (declarado pelo próprio na TV) com uma dívida ao estado de centenas de milhões. Teve como profissão controlar transferências, onde nenhum feito se conhece, e também facilitá-las, sabe-se lá para quem e quem beneficia. É financiado pelos rentistas do país, e gosta de se reunir com quem não gosta de portugueses.
O Paulinho das Feiras é +- assim, mas num nível acima. Não há político tuga dos últimos 40 anos mais diligente ou sagaz; mas o seu carácter e as tentações deitaram-no a perder.
Lembro-me dele nos anos 90, no programa do Herman, de dentes podres, quando contou a historieta do Martelo e da vichyssoise: ia partir isto tudo. Anos depois, já quarentão, lembro-me dele numa entrevista a dizer que não tinha onde cair morto.
Seria verdade: estróina e mimado, estourara tudo o que mamara. Foi aí que se reinventou, tornando-se o beijoqueiro demagogo de sorriso Colgate, pele esticada e cor de solário. Uma coisa artificial e ridícula, uma caricatura dele próprio. Funcionou.
O Ventura é de outra geração e de outra fibra. Ambas piores. Não é tribuno, é arruaceiro; não é sagaz, é pintas. Mas todo o sonho dele é chegar a mamão veterano como a Dona Portas.
O extremismo é descartável; o estilo vem dos tempos futeboleiros. Tudo pose, tudo marketing: não tem nos olhos o fanatismo dos fascistas ou a cretinice dos racistas. É só mais um pulhítico.
Durão Barroso e Marco António Costa agradecem o esquecimento.
O oportunismo esquerdalho é um portal de imbecilidade.
Um português de bem é obviamente uma ‘pessoa de bem’ e daí que a esquerdalhada tenha a maior dificuldade em determinar o que isso seja sem que primeiro se apure se é de esquerda ou de direita, se sim ou não sabe recitar os chavões que lhe são catecismo identitário.
Bem zurrado, filho. Para os pobres de espírito, tudo é simples: um português de bem é obviamente uma ‘pessoa de bem’. Na tua cabecita sectária, só pode ser pessoa de bem se não for de esquerda. Eu também sou burro, mas muito menos do que tu. Um grande hi-hon para ti.
Traficantes de droga são pessoas de bem? E quando têm dívidas de milhões ao estado?
E pessoas com buscas aos escritórios, são pessoas de bem, ou são já condenados? Depende do clube?
Especuladores imobiliários, são pessoas de bem, ou só quando lhe lavamos o dinheiro?