As Comemorações do 25 de Abril. O Tempo e o Modo

Rodrigo Sousa e Castro, capitão de Abril

 

Relembremos a propósito as comemorações do 25º aniversário.

O que delas ficou explica-se em poucas palavras. O governo do PS através da TV pública mandou realizar um filme, obra ficcionada sobre factos reais ocorridos em 25 de Abril de 1974, agenciando para o efeito uma actriz ( Maria de Medeiros), tida como próxima dos socialistas. Obra de discutível gosto, de grandes custos financeiros em que por via de amizades profissionais foram desencantar um actor italiano para interpretar o papel que no filme atribuem a Salgueiro Maia.

Ao mesmo tempo, uma TV privada, a SIC, investiu enormes recursos financeiros, para com actores portugueses e um guião que seguiu estritamente os testemunhos dos principais intervenientes operacionais, militares e civis, – sim civis, que também os houve – , para deixar um documentário (Hora da Liberdade) que permitirá às futuras gerações, face à escassez de testemunhos vídeo e fotográficos da parte fulcral do movimento militar, terem uma noção aproximada dos acontecimentos.

Atentemos agora nas evitáveis polémicas que já marcam o cinquentenário.

Parece claro que Ramalho Eanes, uma das personalidades cuja nomeação para presidir às comemorações é indiscutível, foi senão uma imposição, pelo menos uma proposta do Presidente da República.

Não me consta que tenha sido ele a escolher ou a alvitrar a nomeação de um conhecido apoiante do PS para dirigir a C. Executiva das comemorações.

E é aqui que o caldo começa a ficar entornado.

Primeiro a reacção, se bem que desajustada, pouco elegante e até grosseira do líder do maior partido da oposição sugere que não houve um mínimo de diálogo por parte do governo PS, para estabelecer uma nomeação consensual e evitar o óbvio.

Na verdade, era não só desejável como obrigatório que as comemorações em causa, pelo seu significado tivessem o empenhamento dos dois grandes partidos da Democracia que afinal é o que se comemora, e que valha a verdade são os primeiros responsáveis, para o bem e para o mal, das virtudes e dos defeitos do nosso Regime.

Nem valerá a pena recordar que são os responsáveis únicos de todos os governos constitucionais à exceção dos três de iniciativa presidencial que como é sabido tiveram vidas fugazes.

Neste momento e nesta questão era imperativo que o governo e o PS tivessem a noção do que se propõem comemorar.

Em segundo lugar a pouca lucidez do nomeado que deveria ter percebido, que enquanto funcionário do Estado, bastar-lhe-ia a honra de presidir à C.E. para compensar qualquer acrescento de remunerações.

Em terceiro lugar, a organização executiva das comemorações deveria ser cometida, não a uma unidade de missão que gerará controversas nomeações e custos, mas sim a altos funcionários dos ministérios mais afins das celebrações, Cultura, Educação e Defesa pelo menos. Estes, pelo conhecimento que têm do funcionamento da máquina do Estado e pelas poupanças que naturalmente gerariam constituiriam uma força tarefa perfeitamente adequada para levar a cabo todas as missões programadas.

Uma postura com tal isenção retiraria qualquer razoabilidade aqueles que se agarram a todo e qualquer argumento para questionarem tudo o que se relaciona com o 25 de de Abril.

Data que para muitos é indisfarçadamente incómoda e que para outros era melhor nem existir.

Comments

  1. Fernando Manuel Dias de Lemos Rodrigues says:

    Parabéns pela publicação. Subscrevo quase tudo o que disse.

    E fez bem em desenterrar o episódio dos 25 anos, o qual já preludiava uma situação como esta.

    Nessa altura, e uma vez mais, o “amiguismo” pariu uma coisa canhestra, que ficará enterrada na poeira ada História (assim como assim o melhor destino – antes isso do que sermos obrigados a assistir periodicamente à exumação do cadáver).

    Só espero que esta “Unidade de Missão” ridícula, esbanjadora e ostentatória seja enterrada rapidamente. Ramalho Eanes já foi avisando para não contarem com ele para branqueamentos.

  2. carlos says:

    Pagar a Adão e Silva 4500 euros mensais e mais 12 pessoas em 5 anos, 6 meses e 24 dias para comemorar a instauração de um regime corrupto no 25 de abril 74 é uma boa bazuca para este socialista. Este já está garantido, faltam agora os outros como Ana Paula Vitorino e os que se seguem. Mas querem comemorar o quê, o estado do país? Não era muito mais de lamentar o 25 de abril que nos deu um 1º ministro como Sócrates do que comemorar?

  3. JgMenos says:

    No pressuposto de que há algo de grandioso a comemorar, diz bem o autor.

    Mas há que pôr a coisa na proporção devida:
    25A e 28M foram golpes militares de que resultaram alterações substanciais de regime político após um período de dominação pelos militares.
    O 28M cedo deixou de ser objecto de comemorações especiais e a data deixou de ser usada para justificar o regime dele resultante.

    Propõem-se os palhaços fazer essa glorificação por 4 anos seguidos!!!!
    País pedinte, de pedintes, a glorificar terem metido os militares nos quartéis – depois de abandonarem à sorte e à miséria uns milhões de cidadãos – para criar esta mediocridade.

  4. Vaz Silva says:

    E onde é que fazemos o novo Aeroporto?

  5. Filipe Bastos says:

    Como o Exmo. ‘capitão de Abril’ muito bem sabe, o 25 Abril era um golpe para proteger os interesses dos oficiais do quadro. Não os da população. Por vontade deles a população tinha ficado em casa.

    Com excepção da liberdade, o 25 Abril falhou em tudo. Tudo. E a liberdade seria uma questão de tempo, com ou sem ‘revolução’. Ou alguém acredita que aquele regime fechado e podre ia durar muito, sem o Botas, na Europa Ocidental no final do séc. XX?

    Alguns otários insistem em atribuir os avanços das últimas décadas ao 25 Abril. Como se o mundo não tivesse avançado sem ele; como se a sociedade, a cultura, a ciência, tudo não tivesse mudado.

    O grande motor da modernização dos anos 80/90 até foram as esmolas europeias – que depois nos saíram bem caras.

    O 25 Abril só foi eficaz em duas coisas: a criar uma partidocracia podre; e a entregar o país à pior escumalha que este já conhecera. Nisso foi excepcional. Funcionou em pleno.

    Mas sempre que alguém constata algo disto, logo vem a histeria e a chantagem: és contra o 25 Abril! facho! nazi!

    Ó carneiros abrileiros: abram os olhos, otários. Estão a ser chulados e roubados. O Adão lambe-cus é só mais um chulo, mais um tacho, mais um roubo à vossa conta. E vocês batem palmas.

    • POIS! says:

      Pois tá bem, estamos todos agradecidos!

      Finalmente o Coronel Sousa e Castro ficou a saber o que andou a fazer lá por Abril de 74.

      Ainda bem que há guardiães da História como o Sr. Bastos (é, aliás, por isso que muitos dizem que temos uma história basta), ou o Capitão de Abril Sousa e Castro era capaz de passar mais uns anos na ignorância, o que seria lamentável.

      Estou certo que ficará eternamente grato a V. Exa.

      • Filipe Bastos says:

        Já é mais que tempo de alguém dizer aos srs. coronéis a bela trampa que o 25 Abril cá deixou. Mas faz parte do ritual abrileiro santificar os srs. coronéis, e fazer de conta que a sua golpada corporativa era mui nobre e altruísta.

        Sabe o que é divertido, POIS? Há carneiros que me lêem e pensam ‘olha este facho a dizer mal do sagrado 25!’.

        Sou mais democrata que todos eles: cago de alto para o Botas, para esta escumalha pulhítica, para ditaduras e para a partidocracia; desprezo a dependência infantil de líderes e chefes; defendo a única democracia digna do nome.

        E não estou sozinho; o problema é que estou quase sozinho. Basta ver muita carneirada por aqui.

        • POIS! says:

          Pois está quase?

          Quando ficar, então avise. Talvez se arranje, pelo Menos, alguma companhia.

  6. jorge paulo sanches da cruz says:

    Já agora, convinha que a comissão executiva de uma celebração destas percebesse alguma coisa da organização/concepção/criação de um evento deste calibre. Não é coisa para sociólogos e paineleiros…

  7. Paulo Marques says:

    A honra não paga a renda, nem está de acordo com a lei, nem o amigo que nada recebia foi aceite ou correu melhor por causa disso.
    Nem tão pouco faz sentido pensar que serviços que nem conseguem rever procedimentos para incorporar directivas têm recursos para o que quer que seja.
    Estar do mesmo lado de quem prefere um estado arbitrário forte a um estado de direito (e, como tal, também não tem grande respeito pelo próprio), se não revela nada ao capitão, devia, pelo menos, revelar muito a quem o lê – se o PS meteu os alegados valores na gaveta, é melhor nem falar no ainda maior partido da oposição, a caminho de os deitar todos fora.

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