O funcionário da Salsa que foi despedido por criticar o presidente da Câmara Municipal da Trofa

Primeiro, vamos aos factos.
Um funcionário de longos anos da Salsa, quadro da empresa que fora responsável pelas vendas no leste da Europa, é avisado de que não poderá continuar a trabalhar na empresa enquanto escrever no seu blogue pessoal contra o presidente da Câmara Municipal da Trofa.
O funcionário recusa a intromissão da entidade patronal na sua vida privada e a coisa resolve-se com a sua saída da empresa e uma indemnização que atinge os 5 dígitos.
O funcionário é o João Mendes, meu amigo e autor do Aventar. O blogue é o E a Trofa é minha.
Perguntei ao João se podia escrever sobre um assunto que já conhecia há algum tempo mas que ele acabara de assumir sem rodeios no Facebook. Mostrou-se preocupado com a minha segurança, mas eu não. Assim como assim, não há melhor seguro de vida do que este.
Depois dos factos, vamos às considerações.
A Salsa tem 120 lojas próprias e está presente em centenas de outras lojas em 35 países espalhados por todo o mundo. Conta com mais de mil funcionários, numa actividade que, para além da produção própria, inclui a prestação de serviços a marcas externas como a Ralph Lauren, a Zara ou a Massimo Duti.
O que leva uma empresa deste calibre a subjugar-se desta forma ignóbil aos pequenos caciques do concelho onde está sediada?
Como é que uma empresa mundial consegue ser ao mesmo tempo tão paroquial e tão pequenina na relação com o poder político da terrinha?
E como é que uma Câmara Municipal se sente no direito de intrometer-se no organograma interno de uma empresa privada ao ponto de exigir o afastamento de um funcionário incómodo?
Já ouvi histórias mirabolantes acerca de Joana Lima, a anterior presidente da Câmara e actual deputada. Mas o ex-futebolista Sérgio Humberto não lhe fica atrás.
O mesmo que é candidato a novo mandato e que contou com Marques Mendes no comício de arranque da pré-campanha. É gente ligada a Marco António Costa (medo!). Sim, é gente muito poderosa e com teias de influência impensáveis, cujas ramificações em breve talvez sejam desvendadas para quem estiver mais atento.
Meti-me num vespeiro de tiranetes, barões e baronesas. Não me queixarei das consequências.
E agora, um salto para a minha área, o Ensino.
É com gente desta que contam todos aqueles que defendem a municipalização da Educação?
Como professor do ensino básico e secundário, dentro de um mês posso estar colocado numa escola do concelho da Trofa.
Imaginemos que o presidente da Câmara já podia mandar e desmandar no dia-a-dia de uma escola. E dar ordens à Directora (o que em parte já acontece).
O que ia acontecer a este vosso pobre escriba?
Assim de repente, ser obrigado a usar calças de ganga da Salsa seria só a primeira medida.
É que não há despedimentos almoços grátis…

Comments


  1. Na mouche!

  2. João L Maio says:

    O nosso João é GRANDE! E não o é só em altura!

  3. POIS! says:

    O que se passou com o João Mendes, não é, obviamente caso único. E muitas das vezes as pessoas são postas na rua à má fila, inventando-se causas que possam levar a despedimento.

    E há autarcas que estão mortinhos por porem a mão em todo o tipo de “competências”, mas não em todas. Só naquelas que se traduzirem em emprego e, consequentemente, poder.

    As escolas são apenas uma parte desses serviços, mas aquele por que os ávidos de poder mais se têm batido. É claro que, para vender a coisa, se fala na escolha de professores “pelos diretamente interessados”, (supostamente “os pais”) com “vocação e perfil adequado”, que acedessem ao cargo “por mérito”.

    Na prática, há muita gente com essas caraterísticas, tomadas em abstrato, que nunca chegaria a professor em muitas autarquias. Pelo simples facto de não serem capazes, nem quererem dar vassalagem aos meios políticos locais.

    É assim em vastos sectores do chamado emprego público. Alguém me diz por que razão os cargos em instituições a segurança social continuam a ser de nomeação do poder político?

    O Ricardo já se deve ter apercebido de que os professores são vistos de soslaio, mesmo entre os restantes funcionários do Estado. O facto de, salvo casos contados, acederem à profissão e aos quadros apenas por concurso documental baseado em elementos de natureza objetiva, e de existirem concursos nacionais e livre manifestação de preferências, não é bem visto por muitos.

    E porquê? Porque lhes dá, pelo menos, alguma independência e autonomia. Não precisam de favores para progredir (bem, o atual sistema de avaliação alterou isto em parte. Mas mesmo assim…).
    Isso não agrada a muitos.

    Veja-se o que se tem passado com as escolhas (vulgo “eleição”) de diretores das escolas. Podia aqui contar uma dezena de histórias verdadeiramente insólitas…

    Há uns anos, Alberto João da Madeira quis mesmo que os diretores das escolas passassem a ser nomeados pelo Governo Regional. A tentativa foi abortada, salvo erro, por ser inconstitucional. Olha se pegava…

    • Ricardo Pinto says:

      Também conheço algumas dessas histórias.
      E sei que também não teria grande futuro num sistema em que estivesse dependente de uma Câmara Municipal. Fosse ela de Esquerda ou de Direita

  4. JgMenos says:

    Pagaram-lhe e aceitou.
    Por isto, por aquilo, por este por aquele…negócio fechado.


    • Que remedio teve ele em aceitar.
      Despediram-no sem justa causa e foram obrigados a pagar-lhe uma indeminização.
      E dizem alguns que as leis laborais portuguesas são muito rígidas e torna-se muito difícil despedir os empregados.

    • António Fernando Nabais says:

      Ó menos, ó atrasado mental, uma indemnização não é uma compra.

    • João L Maio says:

      Fica evidente, sô Menos, que está habituado a subir na horizontal. Nada contra, mas não o aponte aos outros.

      Lá por teres os valores trocados, não projectes isso em terceiros.


    • Caso não aceitasse muito provavelmente iria ser vítima de assédio moral como é muito comum em muitas chafarricas…

  5. Filipe Bastos says:

    Quanto ao despedimento do Mendes, é apenas a partidocracia em acção. Como diz o POIS, nada de único ou de novo.

    Mas são vocês, os que aqui me lêem ou pelo menos os que aqui me respondem, que não aceitam alternativa. Vocês preferem manter a partidocracia. Incluindo o Mendes. Então de que se queixam?

    O Centrão é um esgoto a céu aberto. Só por incrível sorte ou puro milagre pode de lá vir um PM, um ministro, um deputedo ou um autarca sério e decente. Porque a podridão afasta a decência. A má moeda expulsa a boa moeda, já dizia a Múmia.

    Não podem defender este sistema, rejeitar qualquer sugestão de alternativa e não querer lidar com as consequências. É o que os ingleses chamam have your cake and eat it. Não dá.

    Ademais, todos temos de fazer pela vida, e antes trabalhar na Salsa que ser ladrão, traficante ou político, mas o esquerdista Mendes na Salsa? Um mamão capitalista, passe a redundância, que vive da exploração de semi-escravos e de lixar o planeta? A sério?

    • Paulo Marques says:

      E onde assino o manifesto pelo referendo à democracia socialista?
      Até lá, os Mendes têm que trabalhar nalgum lado, ter telefone e provavelmente carro. É a vida.

      • Paulo Marques says:

        Ah, mas, bom, convém ter a interminável lista de xulecos para saber se mantenho a cabeça depois ou não num país esvaziado, mas finalmente com habitação mais que suficiente.

  6. Abel says:

    Só me apetece dizer que está história me mete nojo, pelas acções merdosas desses inúteis da CM e pela decisão tomada pela empresa.
    Mas qual foi a justificação do despedimento? Suponho que ao João Mendes também não interessa continuar na empresa, porque não havendo justa causa de despedimento…

    • João L Maio says:

      O João já não trabalha na Salsa há uns tempos.

      • Ana Moreno says:

        Isto é um nojo que nem se acredita que possa acontecer. O que é que uma pessoa faz com o vómito que lhe provoca?

        Viva pela coragem da publicação. Há que gritar estas coisas, há que as pespegar em tudo quanto é sítio. Há que exigir explicações; há que boicotar essa loja e nunca, mas nunca, votar nessa gente, seja lá de que partido for.

  7. luis barreiro says:

    Se fosse na Inglaterra ou num país nórdico recebia de indemnização o salário de 2 semanas, nem que trabalhasse para a empresa à 20 anos. Precisamos de mais protecção laboral uma vez que somos o país da OCDE com mais protecção laboral.


    • No UK se alguém é despedido sem justa causa pode ir a tribunal e habilitar-se ganhar uma pipa de massa.
      Expressar determinadas ideias politicas fora das horas de trabalho não é razão válida para se se despedir alguém. Nem aqui nem no UK.

  8. Carlos Araújo Alves says:

    Dir-se-ia que a quem comanda directa e indirectamente na Trofa está a seguir, à risca, os ensinamentos da Coreia do Norte!


  9. A Trofa sempre foi um covil para fachos exercerem a sua autoridade perante tudo e todos, felizmente muitos já estão a fazer tijolo e nos próximos anos outros irão fazer o mesmo, a mentalidade mesquinha do quero, posso e mando e muito típica de certos patrões que por lá tem as suas chafarricas onde fazem os jogos intimidatórios perante os funcionários ajudados pelos chamados lambe-botas, escovas, graxas que são os meninos bonitos desses patrões, os mesmos patrões que para se fazerem de bonzinhos até participam em causas nobres lá da santa terrinha, tais como as festas da aldeia, donativos para as instituições, clube da bola e para se fazerem de bonzinhos, e até vão a missa ao domingo para baterem com a mão no peito e dizerem que são muito religiosos a ver se conseguem um lugar no céu… Quando esticam o pernil vão para os lindos mausoléus que tem no cemitério porque lá no fundo da terra faz frio e calor e tem de estar bem aconchegados… E depois vem o 1 de novembro e lá vem carradas de flores para enfeitar e ver quem tem o mausoléu mais bem decorado… Mas em vida o que é preciso e mostrar a autoridade e roubar o quanto mais se pode o estado, funcionários e tudo onde haja oportunidade de meter a mão ao saco…