Hoje, fui ajudar a minha mãe nas compras

e fiz publicidade gratuita ao Pingo Doce (nada contra, mas não sou cliente, moro no estrangeiro), ao leite Matinal (não bebo leite) e à Hoffen (desconheço a marca, só conheco o conceito, porque falo alemão). Por uma boa causa. Boa? Óptima!

Otelo, liberdade e democracia

Há quem considere que Otelo foi um herói que, anos mais tarde, cometeu alguns erros. Mas Otelo não cometeu erros. Erro cometi eu, quando uma vez fechei a porta de casa com a chave metida na fechadura do lado de dentro. Já Otelo integrou uma organização terrorista que assassinou 17 pessoas, e isso não foi um erro. Porque os erros, como fechar a porta com a chave na fechadura do lado de dentro, são involuntários. Ou fruto de ingenuidade, de distracção. O que as FP-25 fizeram foi calculado, planeado, intencional. Hediondo. E a negação dos ideais de Abril.

Há quem considere que Otelo foi um simples criminoso. Mas Otelo foi nada menos que o cérebro da Revolução dos Cravos, a tal que nos libertou do fascismo opressor. Conspirou contra o regime, mobilizou militares e civis, correu enormes riscos, arquitectou o plano e dirigiu-o com genialidade, na noite de 24 para 25 de Abril, a partir do Quartel da Pontinha. Sem ele, a revolução que derrubou a ditadura poderia não ter sido possível. Com outro líder, é possível que a revolução tivesse sido sangrenta, que não foi. Otelo é, sem sombra de dúvida, um dos grandes obreiros de Abril. Da liberdade e da democracia. E o país, a liberdade e a democracia, devem-lhe muito.

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Procrastinação, submissão e cheias

Ocorrem inundações dramáticas na Alemanha e os políticos vêm debitar frases feitas e bem sonantes. Como o líder da CDU, Armin Laschet, candidato a chanceler nas próximas eleições de 26 de Setembro, como sucessor de Merkel: “É necessário acelerar as medidas de protecção climática”. Tal hipocrisia chega a ser dolorosa: durante 16 anos, no estado federal da Renânia do Norte-Vestefália (NRW), Laschet e o seu partido bloquearam uma viragem nos sectores da energia e dos transportes. Laschet sabotou a expansão da energia eólica e teimou na combustão do carvão.

Há 30 anos que os líderes políticos se recusam a tirar as palas, subjugados pelo poder dos lobbies e dos interesses das multinacionais. O número de postos de trabalho, que supostamente andaram a defender, já podiam ter sido criados há décadas em actividades económicas sustentáveis, de futuro. Mas para isso, era preciso que tivessem visão e coragem e não inércia e moleza perante a pressão dos poderosos.

Há muitos anos, perguntava Othello:

What is the matter heere?Ora bem, fazendo de Montano, respondo: por um lado, o que diz o Maio, por outro, o que recorda o Moreira de Sá. Haja Aventar.

A partida

Mariana Seabra da Silva

Hoje, dia vinte cinco de julho de dois mil e vinte e um, morreu um dos mais importantes capitães de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, deixando a dor da partida e a recordação dos seus feitos heroicos.

Numa noite longínqua, a vinte e quatro de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, os militares portugueses que formavam o Movimento das Forças Armadas, arquitectado pelo artilheiro Otelo e outros camaradas, também capitães de Abril, invadem vários lugares estratégicos do país, como a Rádio Renascença e o Terreiro do Paço, dando lugar à missão mais importante das suas e das nossas vidas: a luta pela Liberdade, o derrube do regime salazarista e o fim da Guerra Colonial.

É inegável a importância das mentes que estiveram por detrás de um acontecimento tão marcante na vida de todos, não só daqueles que vivenciaram o regime Salazarista ‘in loco’ e a sua queda, como para mim que, só ouço falar na Revolução dos Cravos em documentários, filmes ou conversas de café com amigos, familiares e/ou desconhecidos. Reconheço a liberdade que tenho como resultado da luta contínua de pessoas como o Otelo, que não descansaram até eliminar o fascismo em Portugal, para que hoje, eu, todos e todas possamos falar sobre História e pensar como esta ainda nos afecta. O que fica na memória é a lembrança de alguém que contribuiu, de forma altruísta, para a libertação do povo português e dos povos colonizados.

Apesar dos erros que cometeste, o povo lembrar-te-á pela libertação que lhe trouxeste.

Agora, “Otelo, vencerás porque o povo vencerá”.  Obrigada por tamanha inspiração, Capitão. Até um dia.

Imagem: Centro de documentação 25 de Abril, Coimbra

O 30 de Abril de 1984 e a morte de Otelo

30 de Abril de 1984 –  Morte de um bebé de quatro meses num atentado à bomba na casa da sua família em São Mansos, Évora”. De seu nome Nuno Manuel Polido Dionísio. Enquanto dormia no seu berço.

É dele e das restantes vítimas da organização terrorista liderada por Otelo Saraiva de Carvalho que me lembro neste dia. Que Deus lhe perdoe.

Até sempre, camarada, pá

1936-2021

Vais para um sítio melhor, pá.

Camarada, pá! Não se encheram Campos Pequenos com contra-revolucionários. Mas, se te descansa, há por aí muito boi à solta que a História, certamente, colocará a dar marradas num qualquer Campo Pequeno.

Independentemente das derivas ideológicas que o PREC trouxe, és e serás, para sempre, um dos fundadores da Liberdade neste Portugal, outrora, açaimado. Há coisas que nunca te perdoarei, mas tu deves saber, melhor que ninguém, os erros que cometeste. Mas sei que, no fim de contas, fica o saldo positivo do muito que fizeste naquela noite. Sem a tua estratégia, método e foco, talvez não tivesse sido possível acabar com o fétido fascismo. E isso, pá, os verdadeiros anti-fascistas nunca esquecerão.

Camarada Otelo, até um dia!