Frutos vermelhos ásperos e amargos

Os governantes portugueses e o seu amor pelo negócio a qualquer custo:

„Enquanto o aumento da área de culturas cobertas de plástico prossegue na região, a seca toma contornos dramáticos: “O baixo Mira está a secar, as plantas aquáticas morrem e os biótopos desaparecem” em nome de um negócio de “247 milhões de euros com frutos vermelhos para serem servidos ao pequeno-almoço na Europa”, realça o semanário alemão.

Face ao diagnóstico da Der Spiegel, o JPS refere que o ímpeto agrícola descrito só é possível porque o “Estado português abdicou de cuidar e vigiar partes muito significativas do seu território, permitindo a instalação de interesses que não devolvem nada à região e que estão em completa contradição com os valores que se pretendem proteger” no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.“

Da mesma maneira que se andou a destruir as cidades costeiras do Algarve com prédios abomináveis, agora destrói-se a terra e a sobrevivência com estas culturas e práticas execráveis.

O legado desta geração é vergonhoso.

A Terra fotografada pela nave espacial Cassini a partir de Saturno

Ali, naquele milésimo de pixel ao centro, fica o Afeganistão. Uns microns ao lado, decorre o conflito israelo-árabe. Por ali, mais pixel, menos pixel, fica o petróleo, o ópio, os metais preciosos e demais riquezas, a par com os países ricos, pobres aspirantes a ricos, pobres com recursos imensos e simplesmente pobres. Visto à distância de Saturno, todo este fervilhar de tensões, à escala humana, tem relevância nula. Ainda menor é a significância de cada acção individual.

A partir do Céu, que afinal não fica por cima das nuvens mas deve ficar mais longe do que Saturno e além, ou já o teríamos encontrado, tudo será ainda mais pequeno. Porém, Alguém olha individualmente para o que cada um faz aos domingos às 11 horas ou aos almoços durante o mês que começa no final do Shaban. O que justificou e continua a justificar a existência de muitas guerras, nas quais o petróleo, o ópio, os metais preciosos e demais riquezas não são um mero apontamento.

Já agora, a Lua também está na fotografia. É a protuberância no lado direito da Terra.

Ouviu-o na TV?

Filipe Froes recebeu €385 mil das farmacêuticas desde 2013

(…) Filipe Froes — consultor da Direcção-Geral da Saúde (DGS), coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos (OM) e membro do Conselho Nacional de Saúde Pública (…)

Quem o critica aponta o facto de o médico, investigador e coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Pulido Valente receber quantias avultadas de empresas como a Pfizer, sendo também remunerado pela AstraZeneca (duas das fabricantes de vacinas para a covid-19), além de outras duas dezenas de farmacêuticas, desde 2013. Isto apesar de ser chamado para comentar nas televisões e nos jornais temas ou produtos desenvolvidos por essas mesmas empresas. Nos media, tem defendido as vacinas contra a covid-19, a vacinação de adolescentes, uma eventual terceira dose e também a intensificação da vacina para a gripe, sem revelar antes de cada intervenção as suas relações com a indústria. Nos últimos oito anos, Filipe Froes recebeu, segundo o que é público no site do Infarmed, €385.793, destacando-se as remunerações da Pfizer, no montante de €146.748. Só em 2020 e 2021, por exemplo, Froes recebeu da Pfizer €26.407 pela participação em reuniões médicas, palestras e congressos. [Expresso, 2021/08/27]

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Passos Coelho e o preço dos combustíveis

A direita que suspira por D. Sebastião Passos Coelho passa os dias a vociferar contra os impostos, em particular os que incidem sobre o preço dos combustíveis. E eu quero aqui deixar claro que, no caso específico dos combustíveis (e eventualmente noutros que agora não me ocorrem nem são para aqui chamados) tenho que concordar com essa direita que aguarda, impacientemente, pelo regresso do Dr. Frankenstein do Bolsonaro de Loures. É demais, é um abuso e é um assalto ao bolso do contribuinte, não há volta a dar. O que não invalida que os combustíveis devam ser taxados. Devem, principalmente agora, que temos uma emergência climática em mãos. Mas daí até à extorsão vai ainda um longo caminho.

Mas era precisamente Passos, o “Desejado”, quem em 2013 afirmava, categoricamente, aquilo que pode ser lido ali em baixo, e que transcrevo: “Não podemos pensar em ter combustíveis mais baratos porque iria sair caro em termos ambientais”. E Passos não se referia apenas ao período da intervenção externa, mas também ao “futuro melhor”. O que nos coloca perante uma questão: o que teria feito Passos, caso governasse até hoje? E o que teria dito a direita? Com excepção do IL – honra lhes seja feita, esta malta não brinca na luta conta os impostos, concorde-se ou não com ela, pese embora muitos dos seus dirigentes e militantes mais destacados tenham feito parte da entourage de Passos – a restante direita meteria a viola ao saco e ia atestar o depósito para outra freguesia, de preferência do lado de lá da fronteira. Ventura incluído.

Refugiados, neofascistas e o triunfo de Vladimir Putin

Que insistimos em nada aprender com a história, já todos sabemos. Que países como a Polónia queiram construir muros para não deixar passar os refugiados que chegam à sua fronteira provenientes do Afeganistão, depois das atrocidades de que foram alvo antes e durante a Segunda Guerra Mundial, quando milhões de polacos fugiam aos nazis e aos soviéticos e eram eles os refugiados a bater à porta das democracias europeias, é só a prova de que a ânsia de alargar a União Europeia até aos limites fronteiriços da Federação Russa, em cima do joelho e sem salvaguardas que garantissem o total respeito pela democracia, pela liberdade e pelos direitos humanos, foi um erro tremendo. Tanto trabalho para encurralar Putin para agora termos um exército de pequenos Vladimires instalados na União Europeia, não só Leste mas também a Ocidente. Que digam Le Pen e Salvini, um dos heróis do fachito que temos por cá, a quem só falta andar com uma t-shirt de Putin.

Oh, wait…

Sobre a homenagem a João Moura

Será hoje homenageado João Moura, alguém que dedicou a vida a torturar touros por prazer, diversão e dinheiro, e para divertir quem se deleita com este triste e macabro espectáculo. E quem diz torturar touros, diz maltratar galgos, como os que foram encontrados no ano passado na sua quinta, acorrentados, subnutridos e doentes.

João Moura aguarda julgamento, acusado de vários crimes de maus tratos a animais. Nada que demova a entidade e as pessoas por trás desta homenagem, o que faz todo o sentido, ou não fossem elas aficionadas e defensoras da tortura de animais para fins recreativos. Espero, sinceramente, que seja o touro a espetar-lhes umas bandarilhas. Só se perdem as que caem no chão.

Isto leva a questões incómodas

Fonte:  John Burn-Murdoch no Twitter (@jburnmurdoch)
Sobre o autor: “Histórias, estatísticas e gráficos de dispersão para @FinancialTimes | Atualizações diárias do rastreador de trajetória do coronavírus | john.burn-murdoch@ft.com |#dataviz”

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Suzana Garcia: candidata do sistema ameaça o sistema

Suzana Garcia, a candidata recrutada pelo que resta do PSD para concorrer à CM da Amadora, que, segundo o próprio PSD, serve para a Amadora mas seria sujeita a um “crivo de análise” mais exigente caso fosse equacionada para a Assembleia da República, decidiu presentear o concelho vizinho, ao qual não concorre, com este outdoor, que, estranhamente, não é uma montagem. E onde o colocou? Exactamente: em frente à Assembleia da República.

Afirma o cartaz de Garcia que “o sistema vai tremer”, o que é no mínimo notável, se tivermos em conta que Suzana Garcia concorre por um partido do sistema, apesar das semelhanças entre o seu discurso e o de qualquer discípulo de André Ventura, que não lidera um partido do sistema, apesar de politicamente nascido e criado no seu seio, e de o querer ocupar.

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Vacinação acima da cauda

Dos 5,4 milhões de portugueses com a vacinação contra a covid-19 completa, apenas 16 mil foram novamente infectados, o que corresponde a 0,3% do total de vacinados. Tendo em conta que nenhuma vacina nos foi apresentada como tendo uma eficácia de 100% (nem lá para perto), parece-me um resultado muito positivo, a par do processo de vacinação global, que está a ter um desempenho raro para aquilo que é comum num país habituado a andar pelas caudas de tudo e mais alguma coisa. Para não falar nas dezenas ou centenas de euros que estes 5,4 milhões de pessoas pouparam desde que começaram a emitir o seu próprio 5G. Não fosse a comichão que o microchip causa, seria perfeito.

R.I.P. Charlie

A forma como a execrável EDP trata os seus clientes


Se existisse uma concorrência real, isto não acontecia. A minha esperança é que um dia exista e que a EDP, a mais execrável das empresas portuguesas, tenha o destino que merece.
Tinha 67 euros para pagar, de factura de electricidade, até ao dia 6 de Agosto.
Deixei passar o prazo (acontece, escusam de vir os moralistas de serviço que nunca erram).
No dia 24 de Agosto, recebo SMS da EDP com ameaças de recorrerem a Tribunal e de me cortarem a luz. Recebo também uma carta de um advogado com as mesmas ameaças.
Isto tudo por causa de um atraso de 17 dias de um cliente há 30 anos que, como é óbvio, não tem nem nunca teve qualquer valor em dívida.
E sabendo a EDP que está impedida de cortar os seus serviços por falta de pagamento.
Respondo aqui da mesma forma que respondi ao advogado: Podem encher o cu com o meu incumprimento, da mesma forma que o têm enchido há décadas aos políticos portugueses corruptos.
Vou mudar para outra fornecedora qualquer, claro. E vou fingir que a EDP vai ficar muito preocupada e que realmente vai perder um cliente.

A talibã Carmo Afonso


A propósito da defesa dos Talibã feita por Carmo Afonso há uns dias.
Todos conhecemos os crimes dos americanos (cujo interesse pelos Direitos Humanos no mundo é zero), a sua responsabilidade na criação dos Talibã e a forma como apoiam regimes igualmente execráveis como o da Arábia Saudita. Todos conhecemos a forma como o ocidente tem tratado o resto do mundo há centenas de anos.
Todos sabemos que a vida da maioria dos afegãos e em especial das afegãs continuou a ser o inferno na Terra durante o domínio americano.
Mas Carmo Afonso acha que, para vincar as responsabilidades do ocidente, tem de defender os Talibã. De romantizar o seu percurso de vida até à chegada ao poder. De relativizar os seus crimes. De compará-los aos trabalhadores da serra do Caldeirão.
Carmo Afonso reconhece-lhes valores. Porque, no fim de contas, “não houve atrocidades”.
Não houve atrocidades – lembrem-se sempre disto.
Para além de tudo, Carmo Afonso é incoerente. Muito incoerente. [Read more…]

Abdul Ghani Baradar, o terrorista que Donald Trump normalizou

Abdul Ghani Baradar, actual vice-Emir do Emirado Islâmico do Afeganistão, foi um dos fundadores dos Taliban. Às suas ordens, milhares foram presos, torturados e mortos. Baradar matou, impôs o totalitarismo religioso, oprimiu mulheres e crianças, semeou o terror.

Em 2010, Baradar foi detido na cidade paquistanesa de Karachi. Foi libertado oito anos mais tarde, devido à influência decisiva da administração Trump. O que me leva a afirmar que os EUA estiveram envolvidos na libertação do líder terrorista são as palavras do enviado especial de Washington, Zalmay Khalilzad, que o reiterou. E quem sou eu para duvidar das palavras do enviado de Trump que Biden manteve no cargo.

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Mais uma girl no posto

Lá está, Ana Paula Vitorino empoleirada no cargo de presidente do Conselho de Administração da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT). O mandato tem a duração de seis anos e o Conselho de Ministros considera que a deputada do PS tem “idoneidade, competência técnica, aptidão, experiência profissional e formação adequadas ao exercício das respetivas funções”, evidenciadas pelo seu currículo.

Pois APV terá a maior competência técnica, mas, para um cargo destes, isso não basta. Segundo a associação Transparência e Integridade, está em causa um “conflito de interesses” por “Ana Paula Vitorino poder vir a pronunciar-se sobre o que a ministra Ana Paula Vitorino fez. Ainda que já esteja fora do Governo há cerca de ano e meio, ainda poderá ter que tomar uma posição relativa às suas anteriores decisões no Executivo”, defendeu, em declarações ao Expresso, Susana Coroado, presidente da associação.

Por outro lado, o deputado do PSD, Carlos Silva veio denunciar a promiscuidade de interesses pela ligação da ex-ministra ao ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Não é só o facto em si; é chocante a argumentação apresentada por APV em resposta à acusação: “Enquanto mulher não aceito nem aqui nem em qualquer sítio que ponham em causa a minha capacidade e independência por viver seja com quem for [com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita]”. “Isso chama-se machismo e misoginia”.

Ora, aproveitar a boleia de uma causa justa, como é a do necessário combate ao machismo, para escamotear a questão colocada, a saber, a promiscuidade de interesses, dá-nos uma dimensão dos critérios da sra. ex-ministra. [Read more…]

Talibans e regime saudita: descubra as diferenças

Qual é a diferença?

A diferença é que os sauditas metem cá – Ocidente – muito dinheiro, e com muito dinheiro pode-se cuspir na democracia, espancar mulheres, cortar jornalistas às postas e financiar terroristas sem que os democratas europeus e norte-americanos arrebitem cabelo.

É essa, a diferença.

Bebesses menos, hóme

«O que explica a adesão dos portugueses às vacinas? A memória colectiva do tempo em que o sarampo e a poliomielite matavam»

O Nasir precisa de tirar a sua mãe e irmã do Afeganistão

E para isso precisa da nossa ajuda. Conheço o Nasir há uns anos. Chegou a Portugal sem nada. Não sabia falar a nossa língua, não conhecia a nossa cultura. Tive a sorte de o conhecer. Sim, conhecer um refugiado enriquece-nos em todos os aspectos. Conhecemos um pouco de uma cultura diferente, conhecemos novas pessoas, com novas histórias de vida e percebemos melhor quão afortunados somos por vivermos num país em paz, apesar de toda a podridão. Tentamos imaginar o que será deixar uma vida confortável, deixar família e amigos, deixar sonhos pendurados e partir sem nada, sem sequer saber onde se vai desaguar. O Nasir chegou a Portugal, mais concretamente ao Porto, depois da fuga do Afeganistão e de uma passagem pela Alemanha e, vá-se lá saber porquê, gostou disto. Terá encontrado aqui a sua paz. A paz que não encontrou nos países por onde passou. A paz tem muito que se lhe diga. Não é apenas um país sem guerra. Também importante é a paz interior, aquela que temos quando sabemos que encontrámos o “nosso” lugar. Pois o Nasir encontrou aqui o seu lugar. Fez amigos, conheceu pessoas, frequentou cursos para aprender a língua e começou a usá-la nas suas conversas. Já se desenrasca a falar e escrever português, terminou cá os seus estudos universitários e está integrado na nossa sociedade. Mas o Nasir tem ainda a sua mãe, bastante idosa e doente, totalmente dependente da filha, e a sua irmã no Afeganistão. Como podem ler na petição que hoje o Nasir me pediu para assinar, [Read more…]

Deixem os funcionários públicos em paz

Não compreendo aquela malta que às Segundas, Quartas e Sextas quer mais polícias nas ruas, médicos e enfermeiros nos hospitais e técnicos nos vários sectores da administração pública, e às Terças, Quintas e Sábados rasga às vestes porque existem funcionários públicos a mais. Já é tempo de alguém lhes explicar que não é possível querer tudo e o seu contrário. Os países europeus que ocupam o topo de todos os rankings que interessam têm mais funcionários públicos que Portugal. Muitos mais. Aliás, a esmagadora maioria dos Estados-membros da UE têm mais funcionários públicos que Portugal. O problema não são os funcionários públicos. O problema é critério que privilegia as clientelas partidárias de quem manda, a quem os caciques pagam lealdade e favores com tachos.

O que eu consigo perceber até agora sobre a Covid-19

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“Ser queer e lutar contra o conservadorismo”: Uma reflexão sobre os encarregados de educação que não deixam os seus educandos evoluir

Miguel Máximo

Ser queer é uma luta constante, uma luta que só as pessoas da comunidade vivem intensamente, um sentimento único que nos empodera e, no seu sentido mais lato, uma palavra que agrega uma ampla comunidade de identidades não-cisheteronormativas e uma palavra que nós tentamos reescrever o seu sentido outrora pejorativo e discriminatório.

Atualmente, queer é uma palavra inclusiva e não exclui, não ofende, não desrespeita, não violenta nem mata quem faz parte da comunidade, mas há quem fora dela tente constantemente relembrar o seu passado e tentar alterar o seu futuro.

Viver num país de desinformação e de preconceito (dois aspetos que ainda vivem intrínsecos nas vidas de uma grande porção da população em Portugal, mas não na sua totalidade) em volta da questão queer é criar o caos e impulsionar o desrespeito, a violência e a discriminação desmedidos.

O respeito, a compaixão e a coexistência entre indivíduos de diferentes sexualidades e diferentes expressões e identidades de género tem de ser ensinados em casa e em espaço escolar desde o início e não podemos dar-nos ao luxo de continuar a ignorar a questão e a fugir sempre que o assunto vem à tona. [Read more…]

Afeganistão, fundamentalismo e o mito do “farol da democracia”

Este anúncio foi publicado na revista estado-unidense Soldiers of Fortune (SOF), algures durante a década de 80, no decorrer da guerra que opôs o governo afegão de então, apoiado pela URSS, a várias facções de mujahedines e maoistas, apoiados, entre outros, pelos EUA, China, Arábia Saudita e Reino Unido.

O anúncio mais não era do que um o apelo dos responsáveis pela publicação, próxima da grange mais radical do Partido Republicano e da NRA, para que os seus leitores apoiassem financeiramente os rebeldes, maioritariamente fundamentalistas wahhabitas, a versão mais extremista do sunismo. Mohammed Omar e Abdul Ghani Baradar estavam entre os beneficiários da campanha da SOF. Na década seguinte fundaram os Taliban. Esta semana, Baradar assumiu funções de vice-Emir do Emirado Islâmico do Afeganistão, uma espécie de primeiro-ministro, já que o Emir, Hibatullah Akhundzada, é mais um líder religioso que político.

Da America Latina ao Medio Oriente, de Pinochet e Noreiga aos Taliban e à Casa Saud, um dia ainda havemos de ver respondida uma das grandes questões do nosso tempo: porque é que aos EUA é permitido apoiar e legitimar ditadores, promover golpes de Estado contra governos democraticamente eleitos ou treinar e financiar terroristas, e, ao mesmo tempo, manter o estatuto de “farol da democracia”, que poucos ousam contestar?

Sindicalizei-me

Mais lágrima de crocodilo, menos lágrima de crocodilo, o choradinho é quase sempre o mesmo e já lá vão quase dois séculos de choradeira. E a cada luta, a cada conquista, a ladainha do apocalipse economico-empresarial nunca se consuma. Nunca. E é também por isso que os trabalhadores nunca podem baixar a guarda. Porque no dia que o fizerem, no dia em que se desmobilizarem e permitirem que o movimento sindical comece a desvanecer, a choradeira levará a melhor. Vai daí, decidi fazer a minha parte e sindicalizar-me. Uma decisão que peca por tardia, muito tardia, mas que vem sempre a tempo. Nunca é tarde para lutar por direitos laborais e dignidade no trabalho.

E se os chalupas que tentaram agredir Gouveia e Melo fossem de esquerda, Ventura?

O que se passou há dois dias com o vice-almirante Gouveia e Melo é a ilustração perfeita do quanto a extrema-direita defende os interesses dos militares, e das forças de segurança em geral, que é nada, excepto quando a defesa desses interesses se cruza com os interesses pessoais se André Ventura. Imaginem que o vice-almirante era cercado por uma manifestação de esquerda, ainda que pequena e insignificante como aquele ajuntamento de chalupas que ontem vimos, sendo igualmente insultado como ontem foi. Ventura e as venturettes teriam rasgado todas as vestes do armário de onde saíram. Como foram negacionistas, importante base de apoio dos neofascistas, nem um pio se ouviu ou leu da parte do Bolsonaro português. Nem vai ouvir, pelo simples facto de que Ventura se está perfeitamente nas tintas para militares, policias ou quem quer que seja. Para Ventura existe apenas Ventura. Nada mais.

Simplicidades

O Popeye das vacinas é um castiço. Este figurão apareceu nas nossas vidas de forma mais repentina do que o vírus e nunca mais de cá saiu. Para a sua universal popularidade, beneficiou em larga medida da absoluta inutilidade do seu antecessor. Convém recordar que Francisco Ramos foi afastado depois de, com o semblante bonacheirão de jantar bem regado, ter vomitado que disponibilizar a segunda dose da vacina a pessoas que passaram à frente na fila só era imoral para quem votou André Ventura.

O país ficou embasbacado e até António Costa terá posto as mãos à cara. Parecíamos condenados a mais do mesmo: um cargo de grande responsabilidade iria ser ocupado por um inimputável, parcial, incompetente e francamente execrável actor político.

Quando toda a esperança parecia fugir, eis que do nevoeiro emerge o GI Joe de Quelimane. Carregado aos ombros pela nossa inclinação sebastianista, estimulado por uma imprensa fetichista que saliva por homens de farda, munido de vacinas refrigeradas e experiência em submarinos, era a autoridade de que o país precisava para aniquilar o vírus e conquistar finalmente o Quinto Império. Os jornalistas orgasmaram, as mulheres pediram autógrafos nos sutiãs, começou a conjeturar-se uma candidatura presidencial. Mas por trás de todo o show está, na verdade, uma ternurenta ilusão.

É que aqui o nosso Capitão Iglo está genuinamente convencido de que está na guerra. Encontramo-nos todos, em sociedade, a brincar aos covides, num faz-de-conta que nos trará no futuro uma colossal vergonha comunitária retroativa. Mas o almirante é o gajo que está a levar isto mais a sério. Fala em dar pancadas ao vírus, em não lhe dar férias, numa linguagem bélica absolutamente adorável. Assemelha-se a um veterano de guerra traumatizado que trouxe o corpo de volta ao país, mas cuja cabeça ainda está nas trincheiras. Claro que esta atitude messiânica faz prolongar a ilusão colectiva de que temos algum tipo de controlo sobre o vírus ou de que líquidos não aprovados e mesquinhas atitudes ditatoriais terão algum impacto na sua evolução. Mas o almirante parecia pelo menos – mesmo que esquizofrénico – ser um sujeito íntegro e competente. O homem certo no lugar errado.

Pois, enganei-me. Aquilo que começou como um promissor líder que parecia priorizar a eficiência e a transparência transformou-se num espetáculo de vaidades infantis e declarações estapafúrdias. A pior surgiu esta semana.

Para este senhor, a questão da segurança destas injecções para os jovens é “muito simples”. E ele espera que os pais entendam, porque é muito simples. Se tiverem, claro está, suficientes capacidades mentais para entenderem algo tão simples. A segurança das injecções em jovens é tão incrivelmente simples que os pediatras (provavelmente a área médica com menos anti-vacinas per capita) da comissão reunida pela DGS foram unânimes em manifestar-se contra. Nada que não pudesse ser resolvido ao estilo Grouxo Marx.

Esta questão é tão irrefutavelmente simples que efeitos adversos graves das vacinas mRNA – como inflamações cardíacas – estão a ser frequentemente detetados especificamente em jovens. É tão assustadoramente simples que – como as vacinas já estavam compradas e há acordos a cumprir, bazucas a colectar e ânus a lamber – foram necessárias inenarráveis pressões políticas para despoletar o processo. Tão absolutamente simples que foi necessário inventar “novos dados” para proceder a essa pirueta, dados esses que ninguém sabe quais são. Tão espantosa, extrema e brutalmente simples que – de forma a contornar a incómoda questão de esta ser uma doença que virtualmente não afecta os mais jovens – foi necessário colocar um infeliz avençado a justificar a decisão com o “peso psicológico”, porque as crianças estão aterrorizadas com a possibilidade de infectar os seus familiares mais frágeis; ignorando desta forma não apenas a inutilidade da vacina no que toca à transmissão, mas também e sobretudo o facto de esse bem-estar ter sido completamente dizimado por prostitutas como ele e as suas abjectas campanhas de terror.

Aquilo que é para muitos um terrível debate sobre bioética, moralidade, consciência social, individualismo, parentalidade, independência da ciência em relação ao poder político e corporativo, e cuja decisão irá impactar toda uma geração que temos obrigação de proteger é, para o nosso futuro presidente, uma “coisa muito simples”. É segura, caramba! O senhor almirante “garante”. Gouveia e Melo pode não ter a insolência ébria do seu antecessor, mas no que toca a condescendência e pedantismo, até Francisco Ramos tem muitos douradinhos para comer até chegar aos calcanhares do nosso adorável e mui sexy marinheiro.

Era mandar “alguns espectadores” à merda!

A propósito de Alô, Alô: “Esta comédia clássica contém linguagem e atitudes da época que podem ofender alguns espectadores.”

Os hipocondríacos contra-atacam…

Em nome do combate e controlo da pandemia, desde Março de 2020 que vivemos sob o jugo da ditadura sanitária que se instalou um pouco por todo o mundo, bem mais letal, pelo menos para a saúde mental das pessoas, que o vírus.
Sucessivos confinamentos não erradicaram o vírus, tal como a vacinação não o irá conseguir. No entanto, é inquestionável que a vacina produz efeito, bem patente na redução do número de internamentos por doença grave e taxa de mortalidade, face ao número de infectados. [Read more…]

Como previsto, veio

Efectivamente, lá da Ilha encoberta, veio este Rei.

Este sonho que sonhei
É verdade muito certa,
Que lá da Ilha encoberta
Vos há de vir este Rei.

Exactamente.

Foto: Francisco Miguel Valada, 5 de Agosto de 2021.

PSD pede impugnação da candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara da Figueira da Foz?

No entanto, quando Pedro Santana Lopes escreveu «agora facto é igual a fato (de roupa)», o PSD ficou quietinho.

Morreu o aventador Norberto Pires

Faleceu Norberto Pires, vítima de acidente rodoviário.
Entre as muitas actividades que mantinha, era também autor no Aventar. O jornal Diário As Beiras relata as circunstâncias e fala um pouco sobre o Norberto.

Engenheiro Físico, Norberto Pires doutorou-se em Engenharia Mecânica, especialidade de Automação e Robótica, em 1999. Atualmente, era professor associado, com agregação, na Universidade de Coimbra. A sua grande atividade de cientista e investigador levou-o a publicar inúmeros artigos em revistas especializadas e a desenvolver projetos inovadores de transferência de tecnologia, nomeadamente, na área da robótica.
Norberto Pires era também conhecido pela intensa intervenção social, nos meios de comunicação social convencionais (imprensa e rádio), mas também nos novos media, quer colaborando com o canal web Coimbra TV quer, sobretudo, recorrendo às redes sociais para tomadas de posição de grande desassombro e profunda independência, política e intelectual.
No plano político, foi nomeado presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), em 2012, um ano após ter deixado a presidência do conselho de administração do Coimbra iParque. Em 2013, concorreu à Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova, tendo sido eleito vereador.

[Diário As Beiras, 2021/08/11]

Como Aventador, recordamos a sua postura cordata e de intervenção pública na sociedade.
A maior parte de nós, aventadores, não chegou a conhecê-lo pessoalmente. Mas o respeito não é menor por causa disso. Era um de nós.
As nossas sinceras condolências à família e amigos.

Até sempre, Norberto.

PSG, Messi e o autoritarismo que toleramos em nome do futebol

O Paris Saint-Germain, um dos maiores clubes de França, detentor do mesmo número de campeonatos que o Saint-Etienne (9), menos um que o Marselha e um percurso mediano nas competições europeias, é hoje o ícone maior do lamaçal em que chafurda o futebol moderno. Bilionariamente financiado por um fundo controlado pelo monarca absoluto do Qatar, Tamin bin Hamad Al Thani, o PSG é o exemplo acabado, mas não o único, de como a Europa se deixou colonizar pelo dinheiro mais sujo e corrupto que circula no planeta. A mesma Europa do futebol patrocinado pela Gazprom e por outras empresas controladas por ditaduras, onde qualquer oligarca russo, chinês ou saudita adquire um clube, lava a imagem e o dinheiro manchado de sangue. Não admira que Messi lá tenha ido parar. Mais barril de petróleo, menos barril de petróleo, mais mulher lapidada, menos mulher lapidada, tudo se compra, pelo preço certo em euros, na Europa da liberdade e da democracia, onde tantos vêm uma ameaça nos desgraçados dos migrantes que dão à costa na Grécia, e tão poucos se preocupam com os tapetes vermelhos que se estendem para personagens sinistras como o Emir do Qatar.

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