O privilégio da Psicologia

Mariana Seabra da Silva

Em Portugal, o acesso a serviços de Psicologia é pautado pela pertença a determinados grupos sócio-económicos, sendo, indubitavelmente, regido por um sistema social que beneficia pessoas com um estatuto sócio-económico mais elevado, excluindo e impossibilitando o mesmo a indivíduos que vivam em situações e condições de vida desfavoráveis.

O sistema público de acesso a estes serviços é composto apenas por mil psicólogos a nível nacional, o que parece ser um número reduzido quando se olha para os números de portugueses e portuguesas que consomem ansiolíticos e anti-depressivos, para as taxas de suicídios nos jovens, mulheres e forças de segurança, assim como para as taxas de violência doméstica e femicídio. Na prática, significa que pessoas com maior capacidade económica têm mais possibilidades de conseguir pagar consultas de Psicologia, ou serem acompanhadas em psicoterapia, por longos períodos de tempo. Por outro lado, indivíduos com menor capacidade económica, vêem-se, cada vez mais, colocados de parte no que respeita ao acesso a serviços de Psicologia, uma vez que as consultas tendem a rondar os quarenta ou cinquenta euros.

As filas de espera para consultas de Psicologia, a escassez de psicólogos e psicólogas no Serviço Nacional de Saúde, a falta de investimento em políticas públicas de saúde mental e prevenção das perturbações mentais são uma realidade bem viva que perpetua as diferenças sociais e económicas entre os indivíduos das diferentes classes sociais.

Como é que se quebra um sistema tão estruturado que mantém este ciclo diferenciador entre as pessoas? Nos dias de hoje, a Psicologia é um privilégio de poucos. Privilégio daqueles que têm um quinhão para investir na sua saúde e bem-estar. No entanto, a maioria fica à sua mercê, a tentar gerir os problemas diários, sem qualquer apoio ou suporte psicológico. A Psicologia deveria ser um direito à nascença, para todos e todas, sem excepção.

Assim, é fundamental a contratação de mais psicólogos para o SNS, não só nos cuidados de saúde primária, como nos cuidados continuados e paliativos, bem como nas organizações sociais de cariz comunitário, a criação de equipas multidisciplinares em instituições escolares e o desenvolvimento de um programa nacional de promoção de bem-estar e saúde mental.

Imagem retirada do site https://www.sns.gov.pt/

Continuar a viver, convivendo com o vírus…

Com alguma frequência vamos ouvindo e lendo, que teremos que nos habituar a conviver com o vírus, algo que a maioria dos portugueses já interiorizou e pratica diariamente, perante alguma relutância ou renitência dos responsáveis políticos e de saúde, nesta altura completamente impotentes para impor grandes restrições, que a generalidade da população não quer, até porque já suportou mais do que seria legítimo pedir-lhe.
Desde a 1ª hora que a comunicação é desastrosa, miserável mesmo, quem não se lembra dos tempos em que “não sabíamos se o vírus chegaria a Portugal”, ou das “máscaras serem ineficazes ou até contraproducentes”? [Read more…]

Neo-liberal-capital: as Marteladas bilionárias

Desde 1980 (antes também, mas marquemos o barómetro aqui, porque Thatcher+Reagan=amor infinito) que se tem assistido a um cavalgar do capitalismo selvagem, imposto pelas políticas neo-liberais, o que levou à abertura do fosso, já de si grande, entre os muito ricos e os pobres e muito pobres. Para além disso, a narrativa dominante demonstra uma aporofobia asquerosa, de rejeição e hostilização do Ser que é pobre, negando-lhe acesso aos mais elementares direitos básicos de sobrevivência, assim como o hábito de inculpar o pobre por ser pobre, ao invés de se inculpar o sistema capitalista vigente há mais de quatro décadas.

Thatcher e Reagan, os dois maiores expoentes de um neo-liberalismo colonial entre as potências ocidentais; Fotografia retirada do site Aventuras na História

  • Uma pessoa, associação ou partido político defende que toda a gente deveria ter direito e acesso a uma habitação condigna, água e luz a preços acessíveis: radical!

 

Fotografia: DW.

  • Um senhor calvo, com semelhanças arrepiantes com o Dr. Evil, explora milhares de trabalhadores e gasta bilhões de euros numa viagem ao espaço, apenas para proveito próprio e vê a sua acção apoiada por certas pessoas, associações e partidos políticos: empreendedor!

Imagem de Humans of Late Capitalism.

Assim vai o mundo…