Sim, foram 33 os milagres que os superatletas paralímpicos portugueses conseguiram materializar em Tóquio: para além das duas medalhas de bronze e dos 23 diplomas paralímpicos, foram batidos oito recordes nacionais. O que dá este número redondo (diga 33…) que nos alegrou durante estes últimos dias, em que acompanhámos a superação dos nossos atletas.
Neste período pós-pandemia, convenhamos que se revelaram inesperados estes resultados para quem foi honesto na apreciação, no julgamento e nos encómios, e, vá lá, os dos olímpicos, que também ultrapassaram as expectativas até dos dirigentes desportivos mais ligados a estas coisas do alto rendimento.
Mas, para mim, torna-se claro que há, neste milagre colectivo, três dirigentes de eleição no desporto português, os quais, quando o governo se protelou, se procrastinou em silêncios sucessivos e nem um “nim” ousava esboçar em pleno estupor pandémico que remeteu os governantes responsáveis pelo desporto para o bunker de um silêncio assassino, reuniram as tropas, criaram unanimidade nas estruturas federativas, partiram para a guerra animados por essa unanimidade e vá de questionar, propor, ser assertivo nas intervenções, lutar pelo desporto em Portugal.
São eles o Presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino; o Presidente do Comité Paralímpico de Portugal, José Manuel Lourenço; o Presidente da Confederação do Desporto de Portugal, Carlos Paula Cardoso. Reverencio-os com a humildade de quem, ao longo dos últimos quatro anos e meio, esteve também nessa e noutras lutas como Presidente de uma Federação olímpica e pôde guarnecer a intervenção tenaz destas figuras.
É por isso que digo que nenhum governante responsável pelo desporto em Portugal deveria poder atrever-se a uma pronúncia sobre orgulho nacional nestas conquistas. Não podem ter orgulho, deveriam ter o bom senso da remissão ao silêncio com que nos presentearam quando – todos – precisámos deles.
Esta sensação de liberdade reconquistada – já não ponho em causa com a minha atitude cidadã qualquer benefício que a federação, a que presidi, possa obter no presente e no futuro – permite-me assumir por inteiro tudo aquilo que, durante a pandemia, tive de suportar na defesa da minha modalidade e, solidariamente, na defesa do movimento federativo.
Há, no entanto, um Organismo a quem quero deixar um agradecimento e uma homenagem na pessoa do Presidente do seu Conselho Directivo, Vítor Pataco, do IPDJ. Saúdo nele os técnicos superiores do Instituto, de quem recebi sempre respeito e momentos de consideração que marcaram o meu mandato.
Depois de todos os milagres da participação lusa nos últimos Jogos de Tóquio, só espero que o governo não continue a assobiar para o lado. É que os milagres não acontecem recorrentemente, por mais useiros e vezeiros que nos tenhamos tornado em criar “atletas extraordinários”, capazes de quase obrigar a intervenção sobrenatural em alguns palcos de disciplinas várias, aqui o desporto no seu conceito de inclusão. De #We The15 (https://www.wethe15.org/#:~:text=WeThe15%20is%20sport’s%20biggest%20ever,Get%20Involved).
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