Esmifrar os cidadãos e engordar os poderosos

A forma colossal e brutal como este lema vem sendo posto em prática há décadas pela UE e pelos seus estados-membros (Portugal à cabeça) ultrapassa por completo a minha capacidade de discernimento. É com toda a consciência que esta criminosa geração está a conduzir-nos activamente para o abismo mortal da extrema-direita. É desesperante.

Aqui ficam excertos de um artigo da insuspeita revista alemã Der Spiegel:

Os bancos alemães arrecadam milhares de milhões do BCE

Enquanto as poupanças dos alemães continuam a perder valor, as instituições de crédito estão a ganhar muito bem com a política monetária do Banco Central Europeu. De acordo com uma estimativa, só em 2023, elas poderão ganhar 27 mil milhões de euros.

Os bancos beneficiam da subida acentuada da taxa de depósito, uma das principais taxas de juro do BCE. O Banco Central utiliza esta taxa para pagar juros sobre o dinheiro excedente dos bancos comerciais (…). Desde quinta-feira, a taxa tem sido de 2,5 por cento – e, portanto, tão elevada como a última em 2008.

Os bancos podem estacionar as suas enormes reservas excedentárias, que acumularam, entre outros, a partir da venda de obrigações do Estado ao BCE, à elevada taxa de juro no Banco Central praticamente sem riscos.

Retornos sem riscos para as instituições financeiras

“Os bancos utilizam estes retornos sem risco para aumentar e por vezes distribuir os seus lucros, enquanto, em muitos casos, nada disto chega às contas dos clientes”, diz o perito Michael Peters da Finanzwende.

“Porque é que os clientes bancários não recebem nenhum ou quase nenhum juro, enquanto as instituições arrecadam milhares de milhões do BCE – sem risco e à custa do público em geral? O BCE deve finalmente pôr fim a esta situação. O Banco Central não deve continuar a subsidiar incondicionalmente os bancos”.

De facto, os juros pagos aos bancos reduzem os lucros do BCE – e assim indirectamente também as receitas dos Estados. Porque o BCE distribui uma boa parte dos seus lucros aos bancos centrais nacionais da zona euro, no caso da Alemanha ao Bundesbank. E os lucros do Bundesbank, por sua vez, fluem para o orçamento do Estado alemão. Assim, quanto mais juros o BCE paga aos bancos, menos fica para os contribuintes.

“Estes lucros pertencem à sociedade e devem ser pagos aos governos”, escreve o economista Paul de Grauwe da London School of Economics (LSE) num artigo para o Centre for Economic Policy Research (CEPR). Ele compara os depósitos dos bancos no BCE com os depósitos dos clientes em contas correntes bancárias, que normalmente já não ganham quaisquer juros: “É difícil encontrar uma justificação económica para os banqueiros serem pagos por deterem liquidez enquanto todos os outros têm de aceitar não serem remunerados”.

A única “justificação” é a intransigente observância de uma política neoliberal totalmente imoral e funesta.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    Não tem nada de complicado; há inflação a mais? Disciplina-se o trabalho, porque vem nos livros, como ditado pelo iluminado Hayek no Mont Pellerin. Powell confessou que não têm teoria de inflação que funcione? Irrelevante. Lagarde et al afirmam que tem causa exógena? E daí? Então e os 10 anos em que foi criado dinheiro para ficar parado na banca, não é igual? Não, é só mudar aqui umas variáveis post hoc e faz todo o sentido! Mas então e os mais vulneráveis? Bom, pode-se dar umas migalhas, mas pouquinho e temporário, que não se pode atingir a confiança dos mercados. Mas não é agora unânime que são os bancos centrais a determinar os juros que os mercados são obrigados a aceitar? Mas isso não são condições normais, a condição natural é o estado intervir no mercado pagando juros a quem empresta o dinheiro que o estado cria. E não se corre o risco de uma crise? Não faz mal, financia-se também as empresas para que aguentem a crise. Mas não estamos a fazer o mesmo, então? Claro que não, estamos a disciplinar o trabalho que não só não tem nada a ver com isto, não consentiu com sanções nenhumas (ao menos são menos de 9%, e o país mais melhor livre do mundo que nos lidera continua a comprar para recomprarmos, ufa), continua mal pago e com serviços cada vez piores, que daqui sairão unicórnios para resolver o clima, a pobreza, a doença (isto com o Covax curamos o mundo todo, a tempo, e antes de os mandar bulir, não foi?), e tudo o resto.
    E, por amor de deus, não olhem para os irresponsáveis no Japão a demonstrar há mais de 20 anos que isto é tudo um disparate pegado, e que até a desvalorização é uma oportunidade para ser mais competitivo. O indicador único só é bom para todos quando sobe!

  2. Luís Lavoura says:

    A Ana designa isto (no fim do seu post) como “política neoliberal”, porém o facto é que ela de liberal nada tem. A política bancária dos países ditos “ocidentais” nada tem de liberal. É intervencionismo estatal puro e duro.
    Não é por alguma política ser praticada pelos países europeus que ela passa automaticamente a ser “liberal” ou “neoliberal”.

    • Paulo Marques says:

      Não, de facto não é. Já o seu criador ter chamado de neoliberal à sua teoria, que inclui a inflação ser sempre um fenómeno monetário, faz com que seja, de facto, e por definição, neoliberal.
      A única parte que não é neoliberal é amparar a queda, mas vimos todos para onde isso ia em 2008. Todos? Não, há quem se fique pelos mantras do mestre Hayek sem tentar perceber os errados pressupostos, e diga disparates desses.

      • Paulo Marques says:

        Aliás, minto. Outra parte que não é cumprida é aquilo que fez o grande Volcker e aumentar a taxa de juro muito mais brutalmente, pelo menos para o mesmo valor da inflação.
        Estranhamente, mais uma vaca desaparecida que ninguém se lembra. Basta o amén.

        • Luís Lavoura says:

          aumentar a taxa de juro muito mais brutalmente, pelo menos para o mesmo valor da inflação

          Eu diria que as taxas de juro devem normalmente ser superiores à inflação, não inferiores. De facto, o juro é suposto compensar quem empresta, ou seja, render-lhe lucro. Se a taxa de juro é inferior à inflação, então algo está errado. O que só mostra, mais uma vez, a intervenção do Estado em desregular o mercado.

          • Paulo Marques says:

            Apre, que a ignorância é virtude.
            Em que é que definir a taxa de juro da dívida limita a taxa superior dos empréstimos da banca? Quando muito é ao contrário, para quê emprestar quando bastam as reservas ficar paradas no banco central?
            A intervenção é a última. não a primeira. A taxa de juro natural da dívida é zero, o resto é alimentar o capital financeiro.

  3. João Mendes says:

    Isto causa-me uma sensação muito semelhante ao vómito. Mas, entretanto, aparece-te aqui algum palerma a falar de marxismos e não sei o quê. Obrigado por este pedaço de serviço público, Ana!

  4. JgMenos says:

    Falar em lucros logo se transforma em extrema direita na cabeça da grunharia esquerdalha.
    Da extrema direita passam ao fascismo, no momento subsequente do itinerário da imbecilidade,

    A cambada que capitaliza pensões como se fosse a mais natural forma de multiplicar capital, se lhe falam em lucros logo se sentem violados e roubados!

    Não vem isto ao caso de serem cometidos à banca privilégios que a sua prática funcional não justifica.
    Também à esquerdalhada se deve que o capitalismo, à força de ser vilificado, se tenha desobrigado de uma ética em negócios de que os bancários e pessoal do sector financeiro se tornaram exemplo maior.

  5. POIS! says:

    Pois citando…

    “A cambada que capitaliza pensões (…)”.

    estranho. Porque há três coisas que nunca vi na minha já larga vida: um homem a parir, um defunto a ressuscitar e um fundo de pensões a capitalizar.

    E citando mais…

    “Também à esquerdalhada se deve que o capitalismo, à força de ser vilificado, se tenha desobrigado de uma ética em negócios de que os bancários e pessoal do sector financeiro se tornaram exemplo maior”.

    Ahhhh! Ahhhhh! Ahhh! Ai que o Menos é tão cómico!

    Qual a solução: os esquerdistas aos beijinhos aos banqueiros, a chamar-lhes queridos e tal, a ver se t~em emenda?

    Só falta justificar os roubos dos banqueiros com a proliferação de carteiristas nas zonas turísticas. Sentem-se “desobrigados da ética” e toca a roubar o cliente! E muito mais limpamente. Pelo Menos deixam-lhe a carteira. Vazia, é claro!

  6. Júlio Santos says:

    Os banqueiros insultam-nos (acusando-nos de irmos jantar á sexta feira) e nós continuamos a engorda-los pondo as poucas migalhas que nos sobram, quando nos sobram, sob o seu controlo. Não temos alternativa, eles são os donos e senhores disto tudo.

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