Justiça para os trabalhadores da Justiça!

Fala-se muito das lutas dos professores, dos enfermeiros e até das forças da autoridade, e muito pouco sobre a situação dos oficiais de justiça, que estão em luta há tanto ou mais tempo, com reivindicações tão justas como as dos restantes, afectados por uma precariedade implacável e um acumular de situações limite que incluem idas aos caixotes do lixo das grandes superfícies em busca de algo que se possa aproveitar.

Não estou a especular. Foi um oficial de justiça que mo disse.

Em cima disto, temos esse problema crónico, do qual resultam um conjunto de outros problemas igualmente crónicos, ao qual a situação dos oficiais de justiça não é alheia. Que é, claro está, o problema da morosidade do sector, que beneficia, sobretudo, toda uma corte de inimputáveis, sobretudo da política e da elite empresarial. Mas que se traduz também em sucessivos adiamentos de diligências e julgamentos, que prejudicam a vida de todos, ricos ou pobres, aristocratas ou plebeus.

Estranhamente – ou talvez não – a própria comunicação social dá pouco tempo de antena à luta e às reivindicações destes profissionais do sector público.

Rara é a notícia, mais rara ainda a foto ou o destaque em capa de jornal.

Mas hoje lá apareceu qualquer coisa no Expresso.

Para falar sobre as dificuldades sentidas por estas pessoas?
Para dar a conhecer as suas reivindicações?
Para dissecar como os seus problemas afectam a Justiça e todos os portugueses?

Nada disso.

Foi para informar que a PGR entende que a greve dos oficiais de justiça é “irregular”, que os grevistas devem ser sancionados e que o Estado deve ser indemnizado.

Ou seja, o Estado português está a tentar condicionar o seu direito constitucionalmente garantido à greve, usando para o efeito a chantagem e a coerção.

No tempo de Passos Coelho, é preciso dizê-lo, não faltaria quem perante este atropelo democrático viesse imediatamente falar em fascismo.

E sendo isso uma parvoíce, a verdade é que toda esta situação é muito pouco democrática.

O nível de bandalheira a que se chegou neste país é tal, que deixou de haver justiça para os trabalhadores da Justiça.

Eu estou do lado deles, e espero que vocês também. Do lado de lá estão aqueles que querem uma justiça incapaz de tocar nos suspeitos do costume. Não se misturem com essa gente.

Comments

  1. Anonimo says:

    Calma, que a Reforma na Justiça está quase aí. Basta ter um governo de maioria de esquerda e a coisa faz-se.

    Tirando os senhorios, os inquilinos, os médicos, os utentes, os professores, os alunos, os pais dos alunos, os polícias, os funcionários públicos, os utentes dos serviços públicos, os bancários, os clientes dos bancos, os funcionários do privado, ninguém tem grandes razões de queixa do que for.

    • Paulo Marques says:

      Reforma na justiça por uma maioria de esquerda? E os excelentíssimos deixam?

  2. Luís Lavoura says:

    A greve dos oficiais de justiça é, de facto, “irregular”. Porque eles ora se declaram como grevistas, ora não. Vão ao seu local de trabalho e atendem o público e não dizem que são grevistas, para efeitos de receberem o seu salário. Mas depois, quando lhes ordenam que organizem um julgamento, aí já dizem que estão em greve.
    Ora bem, trabalhar não é somente ir ao local de trabalho e atender os clientes. Trabalhar é também obedecer às ordens (legítimas e enquadradas na definição do trabalho) do patrão. Se um indivíduo comparece no local de trabalho mas não cumpre aquilo que o patrão deseja que ele faça, então é um grevista e deve ser penalizado no seu salário.
    (Parece que os professores agora também vão também tentar esta nova forma de pseudo-greve: vão dar aulas mas não comparecer em nenhuma reunião. E depois, quem sabe, irão dizer que não estão em greve, porque dão as aulas. Ou seja, numas coisas fazem greve, noutras não, e no fim do mês exigem receber o salário por inteiro. Que raio de merda é esta?)

    • POIS! says:

      Pois, ó Lavoura…citando…

      “Que raio de merda é esta?” (onde é que eu já ouvi esta frase? Iria jurar que…)

      Sim, que raio de merda é o seu comentário?

      Qualquer professor que falte a uma reunião tem falta! Não sei onde está a sua dúvida. Na legislação está lá descrito como se contabilizam essas faltas a horas isoladas, sejam elas de aulas ou reuniões, e como são descontadas.

      Presumo que o mesmo se passa com os Oficiais de Justiça. Em cada serviço tem de haver um controlo de assiduidade. Se uma audiência ou diligência não se realizou, há documentos que o registam. Isto lhe garanto eu, que desempenhei funções em que o presenciei.

      Logo, tem de haver descontos por essa ausência. Se quem tem o dever de controlar não o faz incorre em ilícito disciplinar.

      Pare de falar de coisas que não conhece, ó Lavoura!

      • Rogério Paulo Pedrosa says:

        E o Lavoura não sabe mesmo!
        Como também não sabe ou não quer dizer, que os OJ, tendo o dever de disponibilidade devem se necessário, e acontece muitas vezes, de ficar a trabalhar fora do seu horário de trabalho, se estiverem de férias devem estar sempre contectaveis para se necessário for apresentar-se ao serviço, não podem gozar as suas férias fora dos períodos das férias judiciais, etc etc. E por esta disponibilidade não tem qualquer compensação, não lhe são pagas quaisquer horas extraordinárias!
        E que recebem um salário injusto para as responsabilidades que tem e que cada vez mais lhes tem sido assacadas!
        Que há falta de mais de 1000 OJ , sendo que são os que lá estão é que dobram o seu esforço de trabalho para tentar por o serviço em dia.
        Sendo que vão agora contratar mais 200 OJ que quando forem trabalhar vão auferir um salário de 800 e poucos euros, e vão ser obrigados a ir trabalhar para as comarcas de Lisboa, deslocados de suas terras e onde para poderem viver condignamente tem de pagar uma renda que quase lhes leva o salário Pois mas isso não interessa para nada.
        Mas estas informações são para os Lavouras que acham que sabem tudo.
        Disse

        • POIS! says:

          Ora muito bem!

          Cá p´ra mim, este Lavoura cultiva mas é…postas de pecada!

          • POIS! says:

            Roubaram uma posta à pescada, mais concretamente a “s”.

            Sim porque, obviamente, na quinta do Lavoura, produzem-se postas de pescada!

  3. JgMenos says:

    Não tarda voltamos às greves de zelo.
    Neste caso, o efeito é o mesmo.

    Quanto à função pública, sempre me irrita que a cambada faça de conta que trabalhar menos pelo mesmo dinheiro não foi um aumento de 12,50%. No tempo em que a idiota geringonça proclamava o fim da austeridade e o farsante do PR dizia acreditar não haver aumento de custos!!!

    • POIS! says:

      Ora pois!

      E eu confirmo! O meu vizinho, que é funcionário público nas horas livres (nas outras pratica danças de salão), não vai nessas coisas de marmitas.

      E sei de fonte segura que vai todos os dias ao restaurante e paga em horas! A princípio não queriam aceitar, mas ele identificou-se como bailarino federado e tiveram mesmo de aceitar.

      • POIS! says:

        Ah! E também confirmo que o meu vizinho também aderiu às greves de zelo.

        Só dança valsa, foxtrot e tango – mas, neste caso só se for do Carlos Gardel. Para Rockandrróis, Passosdobles e Salsas não está cá!

    • Paulo Marques says:

      As greves às horas extraordinárias são precisamente as primeiras a acontecer. Que não saiba, ou faça de conta, diz tudo o quanto valem.
      Quanto às 35h, quem?

  4. José Meireles Graça says:

    As 15.000 diligências que não foram realizadas desde Fevereiro implicaram coisas como adiamento de sessões de julgamento em que advogados, partes e testemunhas delas estavam presentes. E estavam porque não foram informados de que a sessão não teria lugar. Uma greve em que o trabalhador está presente mas não realiza certas funções é um abuso do direito à greve, uma desonestidade e uma hipocrisia. Defender esta prática, a prazo, voltar-se-á contra os próprios grevistas de faz-de-conta. Como sou anticomunista e reaccionário talvez devesse estar contente. Mas não estou.

  5. JgMenos says:

    Tudo corre no sentido da cambada no poder: justiça só devagarinho…

    • POIS! says:

      Pois, mas vai melhorar!

      Quando o ordenado de um oficial de justiça já não der para viver nas cidades maiores, e os Srs. Magistrados tiverem de ser eles mesmos a atender o público, fazer chamadas e fazer limpezas (se o ordenado não chega para os oficiais…quanto mais para os outros “mais baixos”…), acho que a justiça vai caminhar sobre rodas e até carris dos TGVs.

      Porque o problema são mesmo os oficiais de justiça. Raça de profissão!

      • Tuga says:

        Não diga isso, que os Doutores da bata preta são muito trabalhadores

    • POIS! says:

      Pois, mas diga-se…

      Que na gloriosa época salazarrasco-marcelesca nada disto acontecia.

      Veja-se o caso da Herança Sommer: resolveu-se numa semana, e com o feriado de 13 de maio pelo meio!

      E tinham bastado dois dias, não fosse aquela tentativa de prender o Champallimaud no México. A PIDE foi lá, mas o gajo estava disfarçado com um largo “sombrero” no bestunto e os pides confundiram-se e acabaram por prender um toureiro chamado Roberto Burladero, conhecido por “El Estafador”.

      A PIDE só deu pelo erro quando, num musculado interrogatório, o Burladero confessou que foi ele que escreveu os Lusíadas, serviu de modelo para o Cristo-Rei e marcou dois golos à Coreia do Norte quando entrou na segunda parte a substituir o Eusébio.

      Mesmo assim, aproveitou-se o depoimento para condenar o Champallimaud. Caso resolvido e, até hoje, nunca mais se falou nisso! Isto é que era justiça! (*)

      (*) Infelizmente, pululam por aí notícias falsas a insinuar que o caso ainda não está todo resolvido. Tudo para pôr em causa a gloriosa época salazarasco-marcelesca. A má-língua não descansa!


      • Ó pois, vives em que mundo?

        • Douriense says:

          Na época Salazarenta e a defender aqueles valores, que agora se chamam de neo*****, não é de certeza

          • Tuga says:

            Os neo**** quer dizer o quê?

            Neoliberais ou neofascistas ?

            Para mim são farinha do mesmo saco

        • POIS! says:

          Ai não acredita, ó “É”?

          Que o Champallimaud estava de “sombrero” mexicano na cabeçorra? Era um homem muito rico! Tinha uma coleção de chapéus indescritível!

          E se visse a de barretes, então…

          Ó ´”É”, vosselência vive em que mundo?

  6. JgMenos says:

    Para que o esterco maldizente saiba:
    António Champalimaud refugiou-se no México para não ser detido.
    De lá continuou a gerir os seus negócios e promoveu o lançamento do primeiro cartão de crédito bancário em Portugal.
    Veio a ser julgado e inocentado porque não aceitou que o seu caso fosse dado por prescrito.

    Toda diferença para os bandalhos que se dizem democráticos.

    • POIS! says:

      Pois tá bem! É de louvar!

      Que partilhe a sua vasta cultura geral salazaresca com a malta da Irmandade do Venturoso Quarto Pastorinho a que Vosselência superiormente tem vindo a aderir.

      Realmente há lá gente que não percebe nada de Champalimaudismo, um ramo da Escola Salazaresca que aliou superiormente o profundo conhecimento do mundo das finanças à esperteza dos saloios da Malveira (daí a coleção de barretes de que já falei!), competências que, aliadas a intensivo treino nas academias do Estoril, Monte Carlo, Las Vegas e Alcapulco, produziram gloriosa prosperidade.

      Para eles.

    • Paulo Marques says:

      Então afinal vivermos endividados é bom e recomenda-se, e quem é contra é um marxista woke contra o lucro privado? Cada vez percebo menos. Tal como a diferença com o outro “acusado” que sai do país sem dar cavaco para dar aulas ou o raio.