Medina Zero

O estranho caso do IVA zero tem tudo para dar em nada.

Em Espanha correu mal. Teve, tal como a própria taxa de IVA, impacto zero na vida do cidadão comum.

Aqui tudo parecia encaminhado para não se cometer o mesmo erro. Fernando Medina, não há muito tempo, achava que o caminho não era por aí:

Já me pronunciei mais do que uma vez, nós não a consideramos como uma medida prioritária elas consequências que já foram visíveis nos países que a aplicaram.

Isto foi há três semanas.

Três semanas.

Mas em Outubro, o mesmo Medina era ainda mais categórico:

Nós entendemos que haveria aqui um risco muito mais elevado de haver uma diminuição da taxa de IVA dos bens alimentares que não chegasse diretamente ao bolso das famílias, porque haveria quem pudesse oportunisticamente aumentar os preços ficando com essa diminuição fiscal.

O foi este Fernando Medina que, na semana passada, anunciou a medida como se da última Coca-Cola no deserto se tratasse.

(uma Coca-Cola Zero, note-se)

E porquê?

Porque, nas palavras do próprio, o acordo alcançado com os produtores e a distribuição garante que o valor do IVA “vai parar ao bolso” dos portugueses.
Talvez vá, talvez os preços aumentem na exacta mesma medida e vá parar na mesma ao bolso dos portugueses, mas só daqueles que possuem acções dos grandes supermercados. Logo veremos.

Até porque a grande distribuição aceitou a medida sem levantar ondas. Ou não fosse o Estado a abdicar de 400 e tal milhões de receita.

Já a distribuição não abdica de coisa nenhuma.

Não está vinculada a coisa nenhuma.

E nada nos garante que reflectirá a descida nos preços.

Para não falar na maçada de ter que reetiquetar tanto produto.

Isto é tudo muito chato.
Mas também ninguém nos mandou viver acima das nossas possibilidades, pois não?

Comments

  1. Júlio Santos says:

    Também acho que o IVA zero não vai dar em nada como benefício para o consumidor, apenas vai aumentar o lucro dos senhores glutões das cadeias de distribuição. Mas vamos esperar para ver.

  2. Anonimo says:

    E falar de como a organização das cidades e dos horários de trabalho tornam os portugueses reféns das compras semanais e das grandes superfícies; ou de como comprar em quantidade a menor preço acaba por sair mais caro devido ao desperdício?

    • Paulo Marques says:

      Até pode. Mas a regra é o contrário, aproveitar o desconto usando aquela invenção recente que é o frigorífico, penalizando quem faz as contas dia a dia.

  3. Paulo Marques says:

    Pior, ninguém sabe, nem ninguém pode saber; não só vai demorar tanto que arriscamo-nos a atingir a meta da recessão, como provavelmente já aumentarem por antecipação para passarem por razoáveis.
    Uma mão cheia de coisa nenhuma porque mais vale deitar dinheiro fora do que correr o risco de alguém que não é mesmo pobre comer uma maçã a mais por semana.

  4. JgMenos says:

    O Estado abdicou?
    Que chatice, será que vai afectar a mama dos tadinhos das 35 horas (que não são aumento de rendimento, nem perto!), dos art.ºs x.y e z?

  5. Salgueiros says:

    E eu a pensar que só havia um corrupto no Porto, o gangster do viagra.

    Mas parece que há mais. O do viagra fez uma grande uma grande escola

    https://www.rtp.pt/noticias/pais/obra-diocesana-do-porto-tera-burlado-estado-em-tres-milhoes_v1477283

    • Paulo Marques says:

      Ao preço que está, deviam cobrar renda ao Jorge Nuno para viver na vossa cabeça a tempo inteiro.

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