
Fotografia: Ana Mendes
[Rui Naldinho]
O Bloco de Esquerda é um pequeno partido do espectro político português que nasceu 25 anos após o 25 de Abril de 1974. Herdeiro de uma série de pequenos partidos sem expressão parlamentar, com exceção da União Democrática Popular (UDP). Uma formação partidária que se assume como uma esquerda não estalinista, em contraponto com o PCP, cuja ligação à ex-União Soviética ainda hoje está latente nalgumas formas de pensar e atuar. De certa forma o BE é o que resulta no eleitorado à esquerda, dos que não se revêem no comunismo, e os que por várias formas se sentem defraudados com os permanentes ziguezagues do Partido Socialista. Eu até diria que, em 2015, o BE recolheu dezenas de milhares de votos de antigos eleitores do PSD frustrados e zangados com a governação da PàF, cuja fatura ainda hoje está a pagar.
Diríamos que o BE é uma espécie de “união das freguesias não comunistas”, num território à esquerda dominado pelos socialistas, mas que ao mesmo tempo estão nos antípodas da direita portuguesa. Podemos inferir sem grandes dúvidas que o reduto é pequeno. Mas é nesse reduto que este partido se move, com todos os condicionalismos que daí advêm, de ser um partido urbano, sem apetência pela governação dos destinos do país e, ligado a uma certa elite intelectual. Essas fragilidades fazem do BE uma flor de estufa. Mas goste-se ou não é a sua forma de estar na política, daí terem um eleitorado muito volátil, sempre disposto a ir apagar outros fogos, numa altura em que a direita se torna numa ameaça eleitoral, como aconteceu nas pretéritas eleições legislativas. Nem de haver grandes revoluções internas quando nas mesmas passaram de 19 para 5 deputados. Esse drama dá-se, sim, nos partidos de poder, porque altera substancialmente a correlação de forças.
Catarina Martins entrou no BE como independente. Foi eleita deputada, numa altura em que os bloquistas alcançaram o seu melhor resultado até aí, 16 deputados, com a liderança de Francisco Louçã. O BE cresceu com ela e, já agora, com João Semedo, ultrapassando a dúzia e meia de deputados, ombreando com o velho CDS que estivera várias vezes no governo, em coligação com o PSD. Os centristas com quase 50 anos de vida desapareceram. O BE com metade da idade ainda por aqui anda.
Ao contrário do PCP que desde o fim do PREC tem vindo paulatinamente a perder representatividade eleitoral, o BE foi crescendo, alimentado por essa ideia muito velha, mas sempre recorrente, de que se pode defender a luta de classes e uma maior e justa redistribuição da riqueza, sem fazer uma revolução social armada, destruindo a economia capitalista pela base, para daí emergir uma economia planificada, à moda dos velhos tempos da URSS, modelo que se demonstrou falir por completo.
Quer queiramos ou não, a realidade demonstra que o sistema capitalista ainda esta para durar, e o que está em cima da mesa do debate ideológico, não é o seu derrube, mas sim a sua regulação. Ora a regulação do sistema capitalista incomoda muita gente, que prefere uma liberalização completa da economia. Daí estarem os nossos liberais muito mais preocupados com o BE do que com o PCP. Catarina Martins, um pouco como Mariana Mortágua e Marisa Matias, todas elas mulheres, são hoje, de certa forma, os estandartes do BE. Num parlamento claramente dominado por líderes partidários masculinos, a ex-líder do Bloco foi uma pedrada no charco.
Catarina Martins sai com o que de melhor e pior aconteceu ao BE. Mas esta é a vida de quem anda nas lides partidárias. O importante é sair-se de consciência tranquila e com a sensação do dever cumprido. E, já agora, sem um rol de inquirições ou processos judicias amarrados à sua figura pública. Coisa rara nos dias de hoje.
A Catarina e o resta de quem a apoia, transformou o BE numa variante esquerdista dos Xuxas, coisa muito diferente de um partido de esquerda. A prova está quando nas últimas eleições, as pessoas preferiram votar no original e não num clone mal injorcado.
O topo da bandalheira foi a deslocação a Kiev para lamber as botas ao neo-nazi palhaço askenaze e a política NATO dos lacaios europeus dos Yankees.
Parece que só agora o BE descobriu quem é o PS e que interesses defende.
Os como Mário Tomé, e outros que vindos da esquerda conheceram em 75 e 76, o que era o Partido de Mário Soares e as suas ligações a máfia da CIA através de Carlucci , sabem o que era e é o Partido Socialista
Mas esses são uma minoria num Bloco de “Esquerda”, cada vez um partido da “main stream” do agrado dos donos disto tudo.
O BE não é um partido de esquerda. Não lhe interessam as questões sociais, nem a mencionada “luta de classes” (que classes é que esta “esquerda caviar” defenderia, se fosse o caso?)
Não, o BE está é interessado em desfazer a sociedade ocidental, em esfrangalhar a sua escala de valores, e em promover a sua agenda das “causas” (leia-se “cultura woke”).
Por isso tem vindo a perder representatividade. O eleitorado percebeu que o que eles defendem não interessa a mais do que a meia dúzia de “intelectuais de esquerda” (as famigeradas “elites” que destruíram por completo toda a tradicional ideologia da esquerda tradicional, e levaram ao colapso dessa mesma esquerda).
O BE não é mais do que IL da esquerda – e por isso mesmo, o melhor aliado do neo-liberalismo.
Nos os revistas, falamos.
Como eu te entendo. ! Mas tens razão nalguns pontos.
Mas vocês também não combatem o PS, como deveriam.
“Não, o BE está é interessado em desfazer a sociedade ocidental, em esfrangalhar a sua escala de valores, e em promover a sua agenda das “causas” (leia-se “cultura woke”).”
O botas não diria melhor.
Mais um ILudido (de esquerda, claro). Muito chique na sua farpela de “revolucionário de pacotilha”, a balbuciar a “todes” a novilíngua “inclusivx”.
Bla bla bla
O botas não diria melhor
Assim por assim, parece que interessa a quem ao número crescente de quem é tratado como não-pessoa e alvo a culpar pela inevitável degenerescência do sistema sem mais nada para dar.
Preocupe-se com o wokismo que o patrão aumenta-lhe logo por os poder ter mais baratos.
“o que está em cima da mesa do debate ideológico, não é o seu derrube, mas sim a sua regulação.”
E está a resultar tão bem, com os pequenos ganhos a não durarem uma legislatura e a nada fazerem contra o declínio e degradação, com uma extrema-direita a ganhar poder fazendo de conta que é anti-sistema enquanto os ditos apresentam paliativos e tentam defender os alvos fáceis fazendo jardinagem.
Nem o BE, nem o PCP, nem, lol, o Livre são ameaça a coisa nenhuma, sem planos de ruptura não há ameaças. São distracções fáceis para que o velho insista em não cair para que o novo volte a ser o capitalismo autoritário, como se pudesse voltar o tempo dos impérios num mundo com armas nucleares e o ecocídio em curso, bem como o problema menor de cadeias de producção impossíveis de perceber, mas com povos dispostos a dizer que as preferem quebrar a ceder.
“mas com povos dispostos a dizer que as preferem quebrar a ceder.”
A Europa e os seus dirigentes lacaios dos Yankees, vão se aperceber que os povos de Africa e America Latina estão fartos de escravatura.
Dai as visitas as antigas colónias, mas nem isso resulta muito bem, a avaliar aos fracos resultados do Macron na África Ocidental, há uns meses.
Os gringos na América Latina, podem ainda lá ter uns lacaios ao seu serviço, como a Presidente do Peru, mas também não têm tido grandes resultados.
E pinochesadas militares também não podem andar sempre a fazer. Para os gringos, o melhor é que os povos se deixem voluntariamente escravisar
«o que está em cima da mesa do debate ideológico, não é o seu derrube, mas sim a sua regulação»
Está-se mesmo a ver essa mesa:
Com 25% das sociedades com capitais próprios negativos e as falências a arrastarem-se por anos!
“«o que está em cima da mesa do debate ideológico, não é o seu derrube, mas sim a sua regulação»
Está-se mesmo a ver essa mesa:
Com 25% das sociedades com capitais próprios negativos e as falências a arrastarem-se por anos!”
Até um velho Salazarento, percebe a utopia do Rui
Nós, os iluminados do paraíso, preferimos que se aglomerem em mega-empresas para serem mais facilmente recapitalizadas, da banca ao retalho. E, se lhes der jeito, entregar por meia dúzia de trocos a outro país.
A cambada quer um capitalismo abandalhado, para dizer-se com razão.
Abandalhado e estropiado de imposto!
Pois…”capitalismo abandalhado”?
Temos de reconhecer! O Menos é um ás na arte do pleonasmo!
Mas há outro? O capitalismo não é o feudalismo, e nem a hierarquia desse era assim tão estável.
Excelente malha, Rui!
“Quer queiramos ou não, a realidade demonstra que o sistema capitalista ainda esta para durar” Rui, até pode parecer isso. Mas o capitalismo está à beira do abismo, porque não vai ser possível continuar a haver o inerente crescimento. Os recursos não chegam. Hoje, em PT, gastam-se quase 3 planetas. Esta é a verdade que estes políticos sem visão querem esconder debaixo do tapete para continuar o business as usual.
Ana, estou de acordo consigo no plano dos princípios. Já os tempos de mudança tardam. E ninguém sabe quando o poder político tomará verdadeira consciência disso. Veja o que é aconteceu recentemente no Brasil, EUA e Índia. Podia falar noutros, mas fico-me por estes.
A fim do capitalismo tem sido anunciado desde o início do século XX. Desde essa altura tivemos duas guerras mundiais, várias crises económicas, acabou-se com o padrão ouro, como referência na emissão de moeda, colocando as rotativas a mandar notas cá para fora, veio a globalização, que foi já de si, uma fuga para a frente, do capitalismo. Enfim, quando pensamos que vai ser em breve, inventam novos modelos de exploração dos recursos naturais, incluindo o homem, como força de trabalho.
O capitalismo para mim só acabará dentro deste modelo, com uma catástrofe ambiental/ecológica, que transforme uma parte do planeta inabitável.
Mas vai ser pela força da natureza, impondo-se, e não pela força da razão.
Cumprimentos
“O capitalismo para mim só acabará dentro deste modelo, com uma catástrofe ambiental/ecológica, que transforme uma parte do planeta inabitável.
Mas vai ser pela força da natureza, impondo-se, e não pela força da razão.” Totalmente de acordo, Rui. Porque a ganância se sobrepõe à razão. Mostram-nos isso a cada dia que passa.
Oh, mas é, “basta” quebrar a espinha a quem rejeita o seu lugar na ordem “natural” de regras, porque ainda há muitos recursos a explorar e enviar para a metrópole para mais umas décadas, altura em que uma wunderwaffen tecnológica lhes permita viver numa redoma, neste ou noutro planeta – segundo os próprios, pelo menos, enquanto masturbam o seu mérito, e os centristas que garantem que tem que ser assim, não há alternativa a rezar aos iluminados.
Não é que os resistentes sejam grandes flores que se cheirem, mas já notam mais a factura; mas revoluções coloridas com os golpes de estado com violência do bem atrelados são mais importantes para o paraíso, que se há-de fazer, e não se resolve nem uma nem outra.
O capitalismo é tão bonito quando vamos à cidade. Até o Louçã se aperalta e tratam todos de se governar.