Dar colo ao bebé

Ainda alguém me há-de explicar, com racionalidade e argumentos sólidos, por que razão é que o líder da extrema-direita tem direito a tanta exposição mediática nos órgãos de comunicação social deste país.

Afinal, não precisam de me explicar, a resposta é simples: dá audiências. Tanto os que gostam da besta como os que a detestam, são encantados com notícias e entrevistas visando o Chega e seu “querido líder” e nem todos podem ser como eu, que quando vê a cara do homem ou ouve a sua voz, corre para o comando da TV para mudar imediatamente de canal. É um sentimento tão visceral que sou incapaz de manter o “gajo de Alfama” no meu raio de visão ou de lhe dar a oportunidade, nem que seja por um segundo, de me rasgar os tímpanos com a sua voz.

Resumindo, porque já abordei este tema e explanei a minha opinião, o Chega não é um fenómeno político. O Chega é um fenómeno televisivo e, por conseguinte, é um fenómeno de audiências. E não, nem todos são pequeno-burgueses como eu e, como tal, a maioria do país ainda passa muitas horas em frente à televisão, o que faz com que este encantador de antas chegue a casa de muita gente. Portanto, o Chega cresce porque lhe dão palco de forma desmesurada face à sua real importância. Nasceu na televisão, mora na televisão e há-de continuar a ser alimentado pela televisão. É a consequência da mercantilização do jornalismo.

E não é aqui dito que um partido com representação parlamentar (e a sua fundação e existência é outra estória) não deva ter audiências. Mas numa altura em que anda tudo a falar do “crescimento do populismo” e do “combate contra a extrema-direita”, convinha, se calhar, por começar a não ser um veículo para as mensagens da extrema-direita que tanto dizemos querer combater. O aldrabão-mor conseguiu ter apenas cerca de 40 minutos a menos de exposição do que, imagine-se, o primeiro-ministro. Acima do presidente da República. E, pasme-se, o PCP é o único partido que nem sequer aparece no top 10. Se calhar, neste ponto, aqueles que tentam equiparar o Chega ao PCP (e até ao Bloco, que consegue um 8.o lugar), deviam começar por tentar dar mais audiências a BE e a PCP… pelo menos para tentarmos aferir se essa equivalência é, como é, estúpida.

Continuem, portanto, a alimentar o monstro. E ele continuará a crescer.

Já tivemos a “outra Senhora”, agora temos “esta Senhora”

Imagem: António Cotrim/Lusa

A primeira reacção à presença ou até à existência desta Senhora, é, óbvia e compreensivelmente, de repulsa indignada. Não há ninguém, estou certo, que não tenha ficado com a sólida convicção que a Senhora ontem mentiu com “todos os dentes que tinha na boca”. Desde o registo verbal, passando pela ambiguidade que deliberadamente colocava nas respostas e até à total ausência de lógica na narrativa que tentou impingir, tudo, mas mesmo tudo, evidencia falsidade, mentira e desonestidade. Porra, até o olhar denunciava a trafulhice. Para não falar do tique “pokeriano” de quase sempre levar o dedo à sua orelha esquerda sempre que a mentira era objectiva.

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Frederico Pinheiro, a CPI e a propaganda

A comissão parlamentar de inquérito à TAP, agora convertida em comissão parlamentar de inquérito ao GalambaGate, é a prova viva de que, ao contrário daquilo que garantem alguns, as nossas instituições funcionam. Não funcionam nordicamente, mas funcionam.

Ficou ontem também provado que António Costa não tem a imprensa no bolso. Se tivesse, os canais noticiosos, na rádio e na TV, não passariam toda a tarde a cobrir, em directo ininterrupto, as audições de Frederico Pinheiro e Eugénia Cabaço. Toda a tarde e pela noite dentro.

A RTP, que é estatal, ainda estava a transmitir quando escrevi isto, já passava da meia-noite. Não me lembro de tal coisa. É, seguramente, uma das audições mais acompanhadas e televisionadas de sempre. Que Costa deve estar a adorar.

E hoje vai bater todos os recordes, quando for a vez de João Galamba.

Dito isto, o que resta do costismo já não é um governo. É uma sitcom. E João Galamba ainda ser ministro uma piada de mau gosto.

Portugal é um milagre.