Postcards from Romania (31)

Pode um palácio secar uma cidade?

Uma cidade, um país e um povo. As ditaduras ditas de esquerda são tão más como as ditas de direita. Os ditadores são dementes, geralmente. Ceausescu não era exceção e talvez tenha sido, de muitas mais formas do que aquelas que a nossa imaginação pode alcançar, a própria regra. Há um filme-documentário, mais ou menos recente em que, apenas usando imagens reais, o realizador nos dá conta do percurso desta pessoa*.

Ao princípio é simples. Uma pessoa ambiciosa, mas aparentemente com boas intenções. Bom, dizer isto de um ditador é no mínimo caricato. Mas assumamos que assim era. Ele e a sua mulher – Elena** – eram pessoas simples. De muitos modos, continuaram a sê-lo, mesmo na sua imensa perturbação, anos depois, mesmo na sua demência que, tal como o Palácio da República que idealizaram e mandaram construir, parece ter secado um país inteiro, descaracterizando-o através de um processo (quantas vezes deverei usar a palavra demência, ainda que com grandes reservas?) de ‘sistematização’. [Read more…]

1989: os romenos tomam o seu destino nas mãos

Faz hoje 20 anos que o povo romeno invadia as ruas de Timisoara. O fim do déspota Ceausescu estava próximo. Ceausescu, o amigo de alguns aparentemente insuspeitos políticos portugueses como Mário Soares, ia ter um merecido Natal.

No 5 Dias: o descaramento da indecência

Hitler & Stalin

Independentemente do juízo que possamos formar acerca do tipicamente italiano Berlusconi, existem limites que na política não podem nem devem ser ultrapassados. O bestial apelo à violência e desrespeito pela integridade física dos agentes políticos – sejam eles quem forem -, surge cada vez mais como apanágio de uma certa ideia de “liberdade” que pode num futuro não muito distante, virar-se contra os próprios promotores da agressão. Ainda há uns anos, aqueles que com gaudio sempre gostaram de exibir as chocantes imagens de Mussolini na Piazza del Loreto, indignaram-se com a execução dos Ceausescus ou de Saddam Hussein. Há um perceptível movimento pendular que a ninguém passa em claro, Berlusconis à parte.

No 5 Dias, há quem tenha perdido a vergonha e despudoradamente alinhe de forma aberta com os esquemas organizativos de Al Capone, Himmler ou da dupla Iezhov/Béria. Espancamentos à falta do morticínio puro e simples, eis a forma de ver a política sob o prisma dos caderninhos revolucionários que um Lenine tão bem aplicaria a muitos milhares que depressa chegariam a milhões. Não esqueceram nem aprenderam coisa alguma. Incrível.