Subsídio-dependente com a boca na botija

Fotografia: Lucília Monteiro

Há uns dias, partilhei neste espaço a notícia de que a empresa de Mário Ferreira, o magnata dos barcos e de outras mil e uma coisas, era candidata a receber subsídios estatais. 

Esperei uma reacção por parte da bancada parlamentar do CHEGA, mas até hoje… nada. Sei que são contra ciganos receberem ajuda do Estado, mas é estranho que não se manifestem quando este cigano se candidata ao pote. Bem sei que, dependendo do peso da conta bancária de cada um, ou se é beneficiário de um “subsídio” ou de uma “capitalização”.

Hoje, para choque, surpresa e horror (!) – de ninguém -, é noticiado que a Douro Azul, a menina dos olhos do “trapaceiro mor”, é alvo de buscas por suspeitas de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais no negócio da compra e venda do navio Atlântida (negócio que, segundo o antigo líder da comissão liquidatária dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, se fez com recurso a “alta corrupção”). “Houve alta corrupção que envolveu políticos em funções, o Conselho de Administração dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o júri do concurso, o BES e o comprador”, disse João Pedro Martins, arrolado como testemunha pela defesa da ex-euro-deputada Ana Gomes, num processo movido por Mário Ferreira contra esta última por “difamação” (Ana Gomes chamou “trapaceiro mor” e “escroque” ao candidato a subsidiário e agora alegado corruptor). Neste caso, como no da “capitalização”, aguardarei pacientemente por uma reacção da seita proto-fascista, evangélica e pró-chalupice que é o partido de André Ventura. Não me desiludam e ataquem lá este cigano.

Obviamente, a notícia e as suspeitas não escandalizam ninguém. É um passo lógico – quem mais acumula tem tendência a não olhar a quaisquer meios para chegar ao fim desejado: a acumulação injustificada de riqueza. Mais cedo ou mais tarde, isto descobrir-se-ia. Mário Ferreira, sabemos, é um ás do negócio e, como tal, da falcatrua e do roubo. Foi assim que chegou ao topo e era assim que planeava manter-se lá. Até hoje.

Os deputados portugueses são uns escroques

escroques
A maioria dos deputados portugueses prepara-se hoje para atribuir a si própria uma subvenção vitalícia, para a qual não descontou e que diz respeito a meia dúzia de anos de «trabalho» no Parlamento.
É gente sem escrúpulos. Gente de baixa índole, de quarta ou quinta categoria moral, do piorzinho que este país já conseguiu defecar ao longo de tantos anos de História. Gente, não. Gentinha! Gentinha a quem milhões de portugueses pobres e miseráveis dão todos os dias lições de dignidade e de respeito.
Os mesmos que andaram estes anos todos a falar de justiça social e a cortar salários e pensões a quem tinha menos são os mesmos que, alegremente, se preparam para ficar de fora dos sacrifícios. Os outros que o façam. Quem tem 600 euros de reforma pode fazer um sacrifício pelo país, quem esconde contas milionárias não pode. É a coerência do escroque Passos Coelho, que já nem se esforça por esconder. E quem andou estes anos todos a vociferar contra o Governo é o primeiro a dar-lhe a mão quando o assunto realmente lhe interessa. É o escroque António Costa em todo o seu esplendor.
Não serão todos escroques. O Bloco de Esquerda – só o Bloco de Esquerda! – não tem qualquer deputado ou ex-deputado a receber essa subvenção. É o único Partido que pode falar. Foi o único Partido que ontem de manhã falou em Plenário para atacar esta medida. Foi o único Partido que forçou a votação de hoje. Nem o PCP, apesar de ter votado contra, pode falar. Votou contra porque os seus votos não eram necessários. Só por isso. E acabou de perder o meu voto para as próximas eleições.
E é nesta votação, de hoje, que se verá quem é escroque e quem não é. Desconfio que serão quase todos.

P. S. – PSD e PS recuaram e, perante a indignação geral, a proposta acabou por ser retirada. Os escroques vão remeter-se ao silêncio e irão esperar por uma melhor oportunidade. Melhor assim.
Foi bom tudo isto ter acontecido, assim aprendemos a conhecer melhor as pessoas e as suas intenções. Se alguém duvidava ainda da rectidão e da honestidade de escroques como Passos Coelho ou António Costa, então perdeu definitivamente as dúvidas.
O meu aplauso para os poucos que, dentro do PSD e do PS, se manifestaram contra esta medida.