Matou e fugiu!

Hoje é um daqueles dias que não deveria existir. O fim do mundo chegou. Para nós por uns minutos, os do choque. Para a passadeiramãe, para o pai, para o irmão chegou de forma definitiva – A menina deles morreu!

Uma Aluna do 5º ano, ainda com a manhã triste, tão triste que parecia noite, estava a chegar à escola (o Google Maps mostra a localização). À sua, à nossa escola. Despediu-se da mãe, a caminho do trabalho, colocou o pé na passadeira, depois outro e foi o FIM…

Morreu!

E quem matou, fugiu!

E quem mata assim e foge é um FILHO DA PUTA! E vai ter que viver com uma dor para todo o sempre. O de ser um assassino. Ainda por cima, um cobarde que deixa uma mãe com a filha nos braços, debaixo de uma noite longa que escurecia a manhã, que parecia não querer chegar.

Não sei se a culpa é da localização da passadeira ou da porta da escola, se da localização da própria escola, metida entre dois acessos à A1, perto da ponte da Arrábida.

Mas alguém tem que fazer alguma coisa – as Estradas de Portugal? A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia?

Ninguém pode voltar a ser vítima daquela passadeira!

em nome do pai, do filho e do espírito…

 

criança traida

criança traida

A criança traída. Canção com Palavras. 

Embora, como se sabe publicamente, não seja um homem de fé, sou, como publicamente se sabe, um investigador da Religião. Este é um dos textos resultantes da minha reflexão sobre o tema.

A fórmula é conhecida no mundo cristão, seja ele Romano, Ortodoxo, Calvinista, Presbiteriano, Adventista, ou outro. É a fórmula usada no ritual de entrada de uma criança no mundo social. Tenho referido, noutros textos, que os seres humanos são inaugurados na interacção social, por meio de ritos. Rituais, nos quais a Igreja Romana é prolixa. Outras Igrejas têm apenas dois rituais de iniciação: o baptismo e o matrimónio. Eventualmente, os Presbiterianos a Ceia do Senhor ou Comunhão. A Confissão, apenas existe os Romanos e a Alta Igreja Anglicana ou High Church da Grã-Bretanha, que Isabel I teve o cuidado de guardar para si, para os seus pares e para o futuro. Para saber mais, devem ser lidas as obras dos cientistas da Religião (nos quais me incluo), que a estudam como instituição social organizada pelos seres humanos, como a definem Ludwig Feurebach em 1821, Karl Marx em 1848 e Max Weber (aprofundando-a) em 1904-1905.

No entanto, de momento, o assunto não é quem diz o quê, quando e para quê. A temática é o baptizado. Até ao dia de hoje, não tinha tido o prazer de observar a consequência entre as formas de vida dos adultos e os rituais religiosos a que subordinam as suas crianças. Rituais que requerem bom estado de saúde espiritual e humano dos ascendentes dos mais novos, perante os quais se promete incutir, no pensar e no sentir do ser humano submetido ao ritual, que viverá sem raiva, inveja, ciúmes e sem concorrência (com os outros), para ganhar e lucrar. Porém, simultânea e paradoxalmente, todo o adulto (na ideia e no desejo) aspira que os seus mais novos aprendam a lutar contra os seus pares, para lucrarem e passarem a ser pessoas de posses e altas hierarquias, dentro da interacção social. Não foi em vão que Émile Durkheim escreveu para a Universidade de Istambul, em 1909, o seu Curso de Ética Profissional e Moral Civil, publicado em 1950, muito depois da sua morte. Será que o adulto tem vergonha da sua permanente contradição? Será que não entende o Adágio de Mozart do Quarteto A caça – K458 -, essa partilha com Haydn, de melodias em corda-não-bamba, antes certa e serena, cheio de beleza? Porque no ritual de iniciação à interacção social, pais, avôs, avós, bisavós, bisavôs, padrinhos, tios e outros convidados da Cerimónia, estão a presenciar a traição da criança. Ser humano que, apenas sabe brincar e procurar o colo da mãe e o olhar certo e disciplinado do pai, promete, pela boca dos seus padrinhos, viver em solidariedade, alegria e camaradagem com todos os outros. E, para que tudo fique atado, o Xamã que orienta o ritual, exorciza o mal com palavras retiradas da Bíblia Oficial Romana, para o bem ficar empossado e reine nas ideias e emoções do iniciado. O conjunto de adultos que acompanha o ritual, fica com o novato à porta do Templo, enquanto os mais velhos do grupo familiar benzem o mais novo, transferindo-lhe simbolicamente, o saber da vida e os seus exemplos, tidos sempre como os melhores de todos os seres humanos; como diz o Xamã, quanto mais velho o parente que benze a criança, mais sabedoria transita da sua experiência, para colaborar na vida santa do mais pequeno. Vida santa por amar e partilhar, conforme manda o ritual; vida santa por lucrar e anular o concorrente da melhor forma possível. É a contradição materialista dos pais: a divindade deve proteger o lucro retirado aos outros através de horas a fio de mais-valia, ou valor a mais, do trabalho produtivo que, um dia, essa criança, adulta em curtos anos cronológicos, deve efectivar para ser o prazer dos seus ancestrais. Estes são os duplos standards apreendidos na infância, que tanta doença emotiva causam, mais tarde, em adulto. [Read more…]

A minha menina

May Malen, Cambrige, 240310

A neta ri com brincadeiras do avô

Ou talvez, o meu bebé? Menina define uma criança já crescida, que fala, tem uso de razão, sabe usar a sua inteligência, enquanto um bebé apenas quer comer e dormir e estar no colo dos seus pais, especialmente nos braços da sua mãe. Para um bebé, essa mulher adulta que amamenta, é o mel dos seus olhos. Como são de mel, na permanente carícia, as palavras que me são impossíveis de descrever. São apenas sons, quase em silêncio, palavras doces, um permanente olhar para o fruto da sua criação, resultado de dois que se amam com imensa paixão. Nem podia ser de outra maneira. Referi num outro texto meu como os seus pais se tinham conhecido aos cinco anos de idade. Trinta anos depois. Passara um tempo, o rapazito de cinco anos teve de se ausentar da escola onde os dois estudavam as sua primeiras letras, por causa do trabalho dos seus pais e pelo mesmo motivo, voltaram a reencontrar-se já mais crescidos, na mesma escola que lhe transmitira os primeiros saberes. [Read more…]