Viver acima das possibilidades é a senhora vossa mãe!

 

O Novo Banco perdoou uma dívida de 25 milhões de euros à Clínica Maló. O Estado emprestou 850 milhões de euros ao Fundo de Resolução para a injeção de 1.149 milhões de euros no Novo Banco. Pelo meio, há umas histórias que ainda incluem Joe Berardo e Luís Filipe Vieira, entre outros.

Um banco não é menos do que uma pessoa, penso eu, e será, no mínimo, um animal. Não sei se o PAN incluirá os bancos nas pessoas ou nos animais, mas acredito que uma instituição constituída por pessoas (não sei se haverá instituições sem pessoas, mas isso agora não interessa nada) terá sempre qualquer coisa de humano, o que pode não ser bom, porque os humanos estão cheios de doenças. Um banco poderá estar abrangido, portanto, pelos direitos humanos, que um banco também é gente.

Se uma pessoa, mesmo que seja gente, tiver uma dívida, está em condições de perdoar, por sua vez, a um devedor? Imagine o leitor que emprestou uma quantia a um amigo ou a um conhecido (não sei bem se um banco poderá ser amigo de alguém, mas terá conhecimentos, será conhecido) e que esse amigo ou conhecido, não tendo ainda pago o que lhe deve, lhe diz qualquer coisa como “Aqui há tempos, emprestei uns dinheiros a Fulano, mas como o gajo andava um bocado à rasca, perdoei-lhe parte da dívida.” Algumas pessoas são assim; têm um vocabulário limitado, é verdade, ficam-se por um pedestre “gajo” ou um subterrâneo “à rasca”. Os bancos não são melhores, são só pessoas. [Read more…]

Possibilidades

politicians

Olhando para o actual “governo” (e para os anteriores, claro), podemos dizer com toda a propriedade (privatizada) que os portugueses votaram acima das suas possibilidades.

Os maquinistas da CP, esses malandros!

CP dá carro novo a sete directores

Viver acima das possibilidades

Oiço dizer que boa parte da Europa vive acima das suas possibilidades. Olho de soslaio para os meus botões, abano a cabeça e dou por mim a achar que é capaz de ser verdade. Depois, meramente a título de exemplo, pego no caso português -que nem é um referente de boa saúde através dos tempos- e digo aos meus botões:

-Portugal tinha pescas, pescadores e pequenas indústrias em torno delas. Abateram-nas.

-Portugal tinha agricultura, agricultores e alguns mercados em torno disso. Desmantelaram-nos.

-Tinha solos agrícolas classificados. Betonizaram-nos.

-Tinham sobrado algumas produções tradicionais e artesanais. Chamaram a ASAE.

-Tinha indústria, ainda que incipiente. Deslocalizaram-na.

-Tinha técnicos experientes e competentes. Puseram-nos a desenvolver teorias e estudos que não saem do papel mas rendem taco e tachos de gabinete.

-Tinha… (interrompo a conversa com os botões porque, entretanto, chegou o almoço e eu olho para a travessa pronto a atacar)

O peixe, apercebo-me, é importado. As batatas, as cenouras e o feijão verde são importados. O pão, ou aquilo com que é feito, é importado. Os talheres são importados. O prato, o copo e a travessa são importados. A toalha e o guardanapo (de pano) são importados. A mesa e a cadeira já não são de Paços de Ferreira, foram importados pelo IKEA. O vinho e a água, vá lá, são portugueses e estão ao preço da uva mijona porque, lá fora, ninguém sabe que são bons e não os querem. Porra, pergunto eu aos meus botões, foi mesmo o povo, o português comum, que escolheu isto, que decidiu assim, que inventou este caminho, que teve poder para executar? E os que tinham poder para executar onde é que andam? Estão presos? Foram penalizados? Andam por aí? Devem ter empobrecido conjuntamente com o país, coitados…

Os botões respondem-me alto e bom som, mas não entendo o que eles dizem. É que, para mal dos meus pecados, os meus botões também foram importados e eu, lamentavelmente, não falo chinês.