O Diário do Professor Arnaldo: 4 de Novembro – Os cromos

Não, não vou chamar cromos aos alunos. Apesar de o serem.
Vou apenas referir-me ao principal divertimento dos putos por estes dias. Pegam em cromos virados ao contrário e batem-lhes com uma palmada, tentando fazer com que fique visível a parte da frente. Depois, parece que os colam em cadernetas, não sabendo poruqe razão têm de lhes dar uma palmada primeiro. No meu tempo, era mais simples. Colávamos na caderneta e pronto, estava despachado.
É algo de profundamente irritante. Entro na escola, estão eles espalhados pela entrada a dar palmadas nos cromos. Vou a passar pela sala de convívio, só ouço «pum», «pum», que é o barulho deles a baterem-lhes. Vou a entrar na sala de aula, lá estão eles sentados no chão a fazer o mesmo. Até dentro da aula, se os deixassem, eles jogavam com os cromos. Aliás, chegaram a fazê-lo numa aula de substituição. Claro, tive de os apreender.
Pelos vistos, é este o principal divertimento das crianças de hoje em dia. Isto e a fornicação, claro.

Comments

  1. Albano Coelho says:

    No seu tempo não era assim? Das duas uma: Você é muito velho ou muito novo. No meu tempo garanto-lhe que se fazia exatamente assim com os cromos. E antes que lhe ocorra dizer “isso era lá na Galiza” adianto-lhe que estudei na Beira Portuguesa lá pelos anos 80 do século passado. É certo que na Galiza também se fazia o mesmo. Hoje em dia é que não sei.

    A “fornicação” (fazer amor é mais bonito, parece-me) também, claro. No meu tempo, no seu e em todos os tempos que queira considerar.

  2. Alfredo says:

    Confirmo. Quando fiz a escola primária (nos anos 70 do século passado, no Minho) também era assim. Era um processo de regular o competitivo mercado dos repetidos e os renhidos nunca entravam no jogo. Mas, bolas, foi na primária; no secundário o divertimento já era pousar os olhos na revista Gina.

    Olhe lá, eles ainda não fizeram a verificação prática das leis da mecânica racional que se referem ao lançamento de projécteis, nomeadamente recorrendo ao uso de zarabatanas improvisadas e a requintadas técnicas de origami que implementam os princípios da aerodinâmica?

    Pela maneira como expõe os assuntos estou ansioso pela época de exames, para saber quais as técnicas do século XXI que os seus alunos vão usar para colmatar eventuais lapsos de memória.

    Agora num registo mais sério: É engraçado como numas coisas eles revelam precocidade e noutras a infantilidade se prolonga. Como já lhe disse noutra discussão, está a perder a oportunidade de partilhar as suas reflexões sobre o assunto. Ou então está a fazê-lo com uma subtileza que me escapa…

  3. mjrijo says:

    Bem, no meu tempo tinha que rezar mal entrava na escola; era o princípio de cada dia escolar. Eu entrei com 5 anos e com 5 anos, por não saber não me lembro o quê, tive de ficar de joelhos com um terço na mão, como castigo. Lembro-me que me tremiam as pernas como varas verdes cada vez que tinha de ir mostar onde ficavam as linhas dos caminhos de ferro…e ainda hoje não sei para que diabo tive que saber isso tudo. Havia prémios de quando em vez: ganhei a meias com outra colega o da melhor caligrafia; o prémio era um chocolate que foi rigorozamente partido ao meio, e cada uma ficou com metade. Quem se portasse bem, ao fim de cada semana recebia um santinho, se se portasse mal ia para o quadro negro. Sabe o que eu digo? Ainda bem que algumas coisas mudaram…apesar de todos os dias passar por uma escola primária e ficar com os nervos em pé pelos gritos com que um professor todos os dias dá as aulas.
    Só mais uma coisa…parece-me que não lhe fica muito bem generalizar e dizer que a “fornicação” ( que palavra tão feia para um professor) é prática comum das crianças de hoje em dia.