Os suicídios de Pedrógão Grande, ou Como levar Portugal a sério

Foto: Nuno Veiga/Lusa@Funchal Notícias

Pedro Passos Coelho deslocou-se a Pedrógão Grande para fazer política e não resistiu à tentação do dividendo fácil pós-tragédia. Após ter sido briefado por João Marques (PSD), um “dinossauro” autárquico que governou o município fustigado pelas chamas entre 1997 e 2013, posteriormente afastado pela lei da limitação de mandatos e novamente candidato este ano, depois de curto interregno como provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão, Pedro Passos Coelho agarrou a oportunidade e decidiu roubar os holofotes ao jornalista Sebastião:

eu tenho conhecimento já de vítimas indirectas deste processo, pessoas que puseram termo à vida, pessoas que em desespero se suicidaram, e que não receberam em tempo o apoio psicológico que deveria ter existido

E o motivo para esse apoio psicológico não ter existido, como oportunamente referiu o senhor deputado, estaria relacionado com a inexistência de qualquer registo de “pessoas que puseram termo à vida”, isto apesar de Passos Coelho ter “conhecimento já de vítimas indirectas deste processo”. Quem parece subscrever as palavras do líder da oposição é a deputada Margarida Balseiro Lopes, que durante toda a peça disponível no Público abana a cabeça em sinal de concordância. Terá, muito provavelmente, sido também briefada pelo candidato-provedor João Marques.

Ministério e a ARS Centro rapidamente desmentiram a tese, e apesar dos boatos ouvidos por autarcas e bombeiros, ninguém parecia ter qualquer informação sobre as tais vítimas de que Passos Coelho afirmava ter conhecimento. Segundo o Expresso, outro deputado do PSD presente no local, Maurício Marques, não escondeu o embaraço:

Mais: um deputado do PSD que acompanhou a visita, não escondeu o seu embaraço enquanto Passos falava do caso dos suicídios. “Eu não tenho essa confirmação”, disse Maurício Marques, líder da distrital de Coimbra, enquanto o líder do PSD falava com os jornalistas.

E o embaraço foi tão grande que o próprio Pedro Passos Coelho terminou o dia a pedir desculpa aos portugueses. Desculpa por ser irresponsável ao ponto de confiar num boato, que não tentou sequer confirmar, e usá-lo de seguida numa declaração política para atacar o governo, aproveitando a tensão emocional em que o país vive por estes dias. Isto se a versão de João Marques corresponder à verdade, algo que, à partida, nunca saberemos. Mas sabemos que um deputado, que quer voltar a ser primeiro-ministro, não hesitou um segundo e tratou de mandar o boato cá para fora, sem o confirmar, causando alarme e indignação, capitalizando politicamente com isso, ainda que por poucas horas. O líder do PSD do “Levar Portugal a sério” fez uso do seu tempo de antena, com a imprensa em massa à sua volta, para lançar a confusão com base num boato.

Pedro Rosário/Lusa@TSF

E é este indivíduo líder do maior partido político deste país. Pé furado após pé furado, sondagem negativa após sondagem negativa, Passos Coelho é um líder cinzento e vazio, sem ideias, e até no pior momento do actual governo consegue fazer esta figura, para alívio de António Costa. Chega a ser cómico, imaginar a cena entre Passos e Marques, com o segundo a entregar “informação fidedigna” ao primeiro, que desata a correr para despejá-la em frente às câmaras. Um é deputado, líder da oposição e candidato a primeiro-ministro, outro é provedor da Santa Casa e candidato autárquico do mesmo partido. E não é que eles levam Portugal mesmo a sério?

Foto via Facebook Município de Pedrógão Grande 

 

Comments

  1. joão lopes says:

    é verdade:passos coelho tinha literalmente toda a comunicação social a pedir sangue,isto é,primeiro a cabeça da ministra,e depois ,quem sabe ,o proprio governo,e com este boato acaba a dar um tiro no PSD.No entanto,podia sempre despedir o candidato autarquico,por manifesta incompetencia,mas não o faz porquê? Porque existe uma determinada mafia,no cruzamento entre autarquias e misericordias,no qual o PS e PSD estão metidos até ao pescoço.

  2. Uma vez jotinha, sempre jotinha. Esta táctica de atacar sem ter cuidado com o que diz de forma suja é típica de jotinhas. O PPC ao contário de alguns jotinhas não evolui muito, às vezes inconscientemente ainda pensa que está na Jota e actua da mesma forma.

  3. cportuga says:

    O que o Passos nunca alguma vez lamentou foram as mortes por desespero durante a sua gestão e isto sem incêndios florestais. Os portugueses não vão esquecer tão depressa a desgovernação deste anedota.

  4. cportuga says:
  5. JgMenos says:

    Tanto se afobam a atacar o homem que ainda acabam a promovê-lo.
    É evidente que não foi o porteiro que lhe deu a informação

    • José Peralta says:

      Ó “menos” ! Aqui tens alguém que, longe de “atacar o homem” ainda tem a doce ilusão de que o aldrabão pode “reganhar” Portugal…mediante um “golpe de Estado”, completamente infantil e uma “mccarthysta” limpeza do “cancro” (sic) que no interior do PSD “mina” o traste e querem vê-lo na lixeira !

      E leia-se, por “cancro”, Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, António Capucho, etc., etc., etc.

      Não ficas eufórico com a hipótese ?

      “Uma estratégia para reganhar Portugal” –

      PEQUENA E FANTASIOSA “HISTÓRIA” DE UMA VÃ TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO, OU O SONHO DE UMA NOITE MAL DORMIDA…

      1-(…) “A este propósito e numa conversa informal, perguntaram-me o que faria se fosse Passos Coelho para reganhar o país e as pessoas. A minha resposta inicial, é que “quem percebe um pouco disto” (!!!!)só tem que estar desejoso que ele volte à ribalta e às vitórias rapidamente!
      (…) Confrontada com esta dura realidade, “fui obrigada a elaborar um pouco mais” (???) e eis as conclusões a que cheguei e o que considero que poderia ser feito por Passos Coelho, para cativar novamente a atenção das pessoas, visto que elas parecem ter “um grave problema com a verdade” e a frontalidade (…)

      (Nota : As pessoas tem realmente, NÂO um grave problema com a verdade, mas com a mentira permanente, capciosa, demencial do supracitado passos coelho !)

      2 –”Em primeiro lugar, assim que lhe fosse possível Passos Coelho “deve limpar o Partido”. Todos sabemos qual o nome e apelidos”do cancro” que o mina de dentro para fora e quem são as pessoas que se auto-beneficiam e beneficiam os amigos, através da sua ligação ao Partido e ao Poder.
      No meu entender, “para que nos guie” na limpeza da “nossa casa”, Passos deve primeiro limpar a sua (?), retirando a militância a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, não respeitem os Estatutos ou não cumpram no seu quotidiano os preceitos da Social-Democracia “(!!!)

      (Nota : – Como se não fosse passos coelho, o próprio, no seu quotidiano e na sua prática política, a não cumprir, a violar sistematicamente, “os preceitos da Social-Democracia “ !
      E quanto a limpar a casa, o “CANCRO” (talvez de esfregona em punho…) fá-lo-ia, ditatorialmente, e à revelia dos Órgãos nacionais do partido, porque EU É QUE SOU O DONO DISTO TUDO ?
      Isto faz-me lembrar a purga perpetrada por um gangster, um facínora de seu nome Mc Carthy, e das perseguições do McCarthysmo nos Estados Unidos dos Anos 50, a famosa “caça às bruxas” que fez com que o melhor da Inteligentzia e da Arte americanas se exilasse na Grã-Bretanha e outros paises da Europa…)

      3 – “Em segundo lugar, Passos deveria apresentar um Programa de Governo para as próximas legislativas tão ambicioso quanto Reformista de base liberal(…) Para que isto se torne possível, é necessário que Passos assuma a necessidade DE REESCREVER A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA (CRP), e “todos sabemos como isso será difícil com o novo ocupante de Belém” mas bem feitas as contas (!!!), se Passos ganhar as Legislativas, o senhor entretanto sai e “dará lugar a outro com a cabeça mais assente em cima dos ombros e não tão virado à esquerda ” (…)

      (Nota – Cuidado, presidente Marcelo ! Anda alguém no PSD, a querer fazer-lhe a cama !
      E quanto à Constituição da República Portuguesa, que tantos engulhos provoca, só poderá ser “reescrita” com uma maioria de dois terços na Assembleia da República, justamente para impedir que um louco tenha essa veleidade ! Pergunta: – Como é que passos coelho, esse louco, esperaria conseguir essa maioria ! Ah ! Sim ! Levando à prática esta “proposta” de golpe de Estado !!!!)

      E por aí fora…por aí fora, longamente, por aí fora !

      In INSÒNIAS – http://www.insonias.pt/estrategia-reganhar-portugal/amp/

      • JgMenos says:

        Peralta, a direita não pode ganhar nada neste país de mamões e esquerdalhos(com Constituição e tudo o mais); só tem que esperar que a esquerda faça merda bastante, o que é sempre uma certeza.

Trackbacks

  1. […] à rasca com o incêndio de Pedrógão Grande, e eis que surge Passos Coelho to the rescue! A levar Portugal a sério como só ele sabe, aventou suicídios e fontes credíveis, mas afinal era tudo barrete. Nem D. Sebastião de El […]

  2. […] É, portanto, possível que a distribuição destes recursos coincida fortuitamente com a ocasional agenda política de quem, por mera casualidade, estiver no sítio certo à hora certa. E quem parece estar em alta, no que a estar no sítio certo à hora certa diz respeito, é o candidato do PSD à CM de Pedrógão Grande. Caso o nome João Marques lhe soe estranho, caro leitor, trata-se daquele indivíduo que, durante o clímax da tragédia que se abateu sobre aquele concelho, com o oportunismo político a atingir níveis estratosféricos, saltou para a ribalta quando, alegadamente, informou Pedro Passos Coelho sobre suicídios que não a…. […]

  3. […] mortes em Pedrógão Grande, crescem agora as suspeitas de que possam ter a mesma credibilidade que os suicídios confirmados por Pedro Passos Coelho, esse ex-líbris do nojento aproveitamento político que o PSD vem fazendo deste […]

  4. […] que se adivinha nas autárquicas que se avizinham, Passos Coelho agarrou-se aos fogos florestais, prestando-se ao já célebre e absolutamente degradante papel que a história dos suicídios que nã…, fazendo novo favor a Costa. Apesar da péssima actuação do governo, durante calamidade que se […]

  5. […] intervenção do primeiro-ministro no exílio, que não resiste ao harakiri, em Tancos como em Pedrógão Grande, deu origem a um comentário preocupante da parte de Pedro Santos Guerreiro, que afirmou, na SIC […]

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