Canalhas, cabrões e filhos da puta

Nunca Paulo Portas fez tanto sentido. Exceptuando, claro, quando deu aquela célebre entrevista, em que falava dos quadros muito medíocres do seu antigo partido. Mas esta tirada, do longínquo ano de 2010, imortalizada por este tweet do seu partido, é tão actual que me merece algumas considerações, ou não atravessássemos hoje um dos períodos mais negros da nossa história contemporânea, com esta vaga de fogos florestais, devastadora e mortal.

Ora, efectivamente, fazer politiquice com o flagelo dos incêndios é imoral. Eu diria mesmo que é uma filhadaputice, só ao alcance da mais desprezível cria da mais ordinária meretriz, ainda que a senhora, coitada, não seja responsável pelas canalhices do rebento gerado. Porque é preciso ser-se muito canalha, muito cabrão, para usar a oportuna terminologia que está a marcar o debate no Aventar desde ontem, para usar este drama como arma de arremesso político. Infelizmente, não estamos perante uma novidade no debate político, onde a moralidade raramente tem lugar e a filhadaputice abunda.

Sou daqueles que já subscrevia, ainda a procissão ia no adro, que Constança Urbano de Sousa se devia demitir. Não porque, no exercício das suas funções, a senhora tenha sido directamente responsável pela acção dos incendiários ou da escumalha que lhes paga para obter mais-valias, mas porque tutela o ministério com maiores responsabilidades directas em torno deste problema e porque alguém tem que assumir responsabilidade política por tudo o que sucedeu. Por muito menos, António Costa correu “discretamente” com João Soares ou com um ou outro secretário de Estado que andava a passear às custas de multinacionais com interesses directos e milionários na sua acção governativa. Claro que, como já li por aí, caso Costa tivesse despachado a ministra em Julho, o seu sucessor já estaria ajoelhado perante a guilhotina. Mas isso seriam outros 500.

Mas esses canalhas/cabrões/filhos da puta – deixo a designação à consideração do caro leitor – desses spin masters do nacional-ressabiadismo, que se estão nas tintas para a floresta, que se sentam à mesma mesa que os canalhas/cabrões/filhos da puta que financiam o vandalismo pirotécnico com o qual lucram estratosfericamente e que se desdobram diariamente em fake lamúrias de ocasião, com o objectivo único de interferir no xadrez político, posicionando os seus reis e rainhas à custa da instrumentalização de pessoas emocionalmente fragilizadas, merecem-me o mesmo respeito que um incendiário. E, é altamente provável, são financiados pelos mesmos canalhas/cabrões/filhos da puta. In the end of the day, it’s all about the money.

Eles andam aí, estrategicamente histéricos, nas redes sociais a propagandear revoluções neofascistas, alimentando assim as suas contas bancárias e as aspirações políticas dos seus companheiros, sedentos de poder, avenças e vidas desafogadas numa qualquer assessoria, livre de austeridades e plena de ajudas de custo sem fim. Sabemos quem são, onde se formaram, como ascendem e o que pretendem. São canalhas, cabrões e filhos da puta. E vão continuar a espumar-se, todos os dias, enquanto não nos puserem a todos a trabalhar 12 horas por dia. a pão e água, para que o país possa ser “competitivo” e eles possam parasitá-lo à vontade. Porque os incêndios são apenas mais um meio para atingir um fim. E estes canalhas, cabrões e filhos da puta não olham a meios.

Comments

  1. Ana A. says:

    Estamos numa guerra civil!

    • Rui Naldinho says:

      Não, Ana. Não estamos, felizmente.
      Mas como dizia no início deste ciclo político, Francisco Louçã, chegará o dia com tanto corte e redução de deficit, em que o pano (Orçamento) não chegará para tapar o corpo todo. Alguma coisa ficará a nu.
      Ora, há funções do Estado que têm de ser cumpridas, custe o que custar. Mas contrariamente à direita, que acha que o caminho é cortar ordenados, trabalhar 12 horas, subir o IRS e descer o IRC, o Estado tem é de acabar com certas parecerias público privadas e deixar andar a dar de mamar a empresas, cujos serviços prestados, são uma valente nojeira.
      Entre numa escola pública, e pergunte aos miúdos se gostam da comida?
      Eu sei do que falo. Não por ter sido professor, mas pela experiência de ter sido dirigente de uma APEE duma escola pública, durante 3 anos. Mas duma APEE a sério, onde nos envolvíamos. Mas também por ter sido Chefe dos Serviços de Logística de um Lar da Terceira Idade, onde a Segurança era privada, a limpeza privada, o catering privado, a manutenção dos elevadores, a electricidade, a climatização, a canalização, ajardinagem,…era tudo privado, fosse fornecimento, fosse manutenção, com excepção dos 60 utentes, eu, a assistente social, o motorista e o director.
      Este país tornou-se foi num negócio para muitos. E o problema é que eles só mais do que aquilo que imaginávamos.

      • Rui Naldinho says:

        “Parcerias” e não parecerias, como por lapso está escrito.

        E o problema é que eles são mais do que aquilo que imaginávamos.

  2. José Feliciano Cunha de Sotto Mayor says:

    sem tirar nem pôr, joão mendes!

  3. camaradas says:

    É de uma grande filhaputice comparar politiquice e aproveitamento quando houve apenas 2 mortos para a actual reles situação de 107 mortos.
    Do mais reles querer comparar, é não olhar a meios, é cagar para as famílias dos mortos.

    • Paulo Barbosa says:

      Não sabia que morrer só meia dúzia era aceitável o problema é quando morre mais de cem, o medo de andar de avião é pode pode cair e morrerem 300 pessoas, dependendo do tamanho do aeroplano ou lotação, pois os milhares que morrem de automóvel como são uns de cada vez não os impede andar de carro. Qual é a moralidade?

      • Carlos Silva says:

        Felizmente é graça a este tipo de mentalidade que está a levar a uma queda da esquerda por esse mundo fora. Portugal até pode ser o ultimo enclave esquerdista da UE, mas um dia há-de ser dizimado.

        • Rui Naldinho says:

          Grande democrata!
          E logo, dizimado! Não fazes a coisa por menos.
          Há cá cada Silva, neste Blogue! Ou será o mesmo, mas travestido de Carlos?
          No Porto tínhamos o Carlinhos da Sé!

        • ZE LOPES says:

          É já prá semana! Juro! Portugal merece plenamente tal sorte! Nunca me agradou!

          A propósito, Silva: V. Exa. já tem para onde ir? O melhor é ir já na frente!

  4. joão lopes says:

    celuloses+eucaliptos+cristas+cds+canalhas.outra ideia:na zona onde vivo(interior centro,precisamente,ao contrario do que diz um canalha do cds que por aqui anda a dizer que eu não conheço o interior) conheço duas oficinas de carros,das quais ambas são de donos militantes do cds,e sei o que pagam aos empregados mas tambem sei o dinheiro que todos os dias estes canalhas levam para casa(mesmo muito lucro+fuga aos impostos).pois bem,vou iniciar uma campanha para as pessoas deixarem de utilizar essas oficinas,publicando nas redes sociais o dinheiro que esta gente ganha,com a exploração dos outros.é isso:canalhas,filhos da puta e cabrões.

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      E porque não abre antes uma oficina ao lado, e lhes mostra como é que deve ser?

      Isso é que seria de homem. O que diz querer fazer é atitude de puto invejoso.

      • joão lopes says:

        ando a aprender com a direita troglodita.não acabou o politicamente correcto? então embrulha.

        • Fernando Manuel Rodrigues says:

          Depois da sua resposta, e de a mesma ter recolhido dez gostos (a acrescer aos treze que a publicação inicial recolheu) lamento constatar que direita troglodita e esquerda troglodita são farinha do mesmo saco. Enquanto a política for vista como clubes de futebol não haverá remédio para os problemas.

          Não admira que Portugal arda, portanto.

          • joão lopes says:

            finalmente disse o que não custava nada dizer:foi criado artificialmente esta divisão esquerda/direita.ou seja,dividir para reinar.e agora? quem tem aproveitado? pense nisso.

  5. Ricardo Almeida says:

    Ok, afinal não sou só eu. Isto de ser fascinado por padrões têm destas coisas, cada vez me é mais fácil identíficá-los.
    Mas esta é daquelas vezes em que espero sinceramente não ter razão pois se for o caso, a verdade é demasiado revoltante até para o meu estômago treinado.
    Até aqui aquela conversazinha do Diabo em Setembro era muito engraçada e até dava umas piadas porreiras… até aqui. O pior é que quanto mais leio sobre o assunto, quanto mais me esponho às mentalidades doentias que por estes dias vociferam pelas redes e não só, mais acredito na possibilidade que qualquer pessoa lógica já pensou mas até têm medo de escrever ou dizer pois é simplesmente demasiado horrível.
    O nojo que abunda na “nossa direita” (obrigado Isabel Moreira por este conceito tão útil. Nem tudo no PS é mau felizmente) não surpreende ninguém mas sempre achei que nem eles eram capaz de descer tão baixo.
    Neste momento questiono-me se tudo isto foi organizado ou um conjunto de acções individuais mas motivadas pela mesma fonte. A fase da especulação terminou depois do 50º cadáver carbonizado.
    Perante uma pilha de “coincidências” (vide comentários acima) que não pára de crescer, como sujeito racional que me considero, tenho de pedir a navalha emprestada ao meu amigo Ockham, mesmo sabendo que depois de uma bela navalhada no assunto, o resultado não é nada bonito.
    Há um ano atrás a “nossa direita”, se pudesse, atirava o país para a linha do comboio das sanções da UE sem pensar duas vezes desde que alguém lhes garantisse que a seguir voltavam ao poleiro. Na altura fiquei chocado com a profundidade do poço em que a moralidade destes “senhores” se encontrava. Que inocente que eu era…
    Ao que parece, no último ano, em vez de procurar formas de regressar à superfície, a “nossa direita” dinamitou o fundo e hoje está prestes quase a chegar ao núcleo do planeta.

  6. Ausente52 says:

    Quem não alinha no meu discurso eh insultado.
    Que grandes democratas que por aqui anda. Foda-se!

  7. JgMenos says:

    Todo o canalha, cabrão e filho da puta que não quer que se fale da sua incompetência, desleixo e indiferença a deveres, reduz a censura a ‘luta politico-partidária’, e se indigna denunciando pelo uso das desgraças de que é responsável como ‘arma de arremesso político’.
    E só pede desculpa ou se declara com peso na consciência se vê que o possam tirar do poleiro.

  8. anti pafioso. says:

    Nunca foi tão apropriado ( CANALHAS ; CABRÔES E FILHOS DA PUTA .) E parasitas .

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  1. […] falar de “politiquices” e refinadas “filhadaputices”, e porque não é do meu timbre (nunca foi e muito menos seria […]

  2. […] Curiosamente, mas será a minha memória que me atraiçoa, não me lembro de nenhum destes spin masters do passismo defunto, tão activos nos últimos dias no escrutínio em tempo real de cada declaração de membros do governo envolvidos no flagelo dos fogos florestais, soltarem um “ai” indignado que fosse, na sequência das declarações do ex-ministro. Miguel Macedo afirmava, e bem, que a floresta estava ao abandono, e assim continuou enquanto por lá andou. Atirava culpas para “orografia do terreno, a elevada carga térmica da floresta e a baixa humidade que se regista neste momento, bem como as altas temperaturas que se têm feito sentir“, e os cheerleaders da altura são os mesmas que hoje rejeitam toda e qualquer justificação com base em circunstâncias de natureza meteorologica. Algum pediu a sua demissão? Claro que não. Porque na verdade é tudo jogo político, porque se estão nas tintas para a floresta e porque alguns até devem ter aberto garrafas de champanhe no fim-de-semana passado, que o Diabo tardava em chegar. E porque não têm escrúpulos. São canalhas, cabrões e filhos da puta. […]

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