Há coisas que, embora escritas há muitos anos, são mais actuais do que nunca. Por exemplo esta:
“Hoje em dia, no hemisfério Norte, o ar anda gelado. Chegou a nova barbárie, com a sua imbecil exaltação do sucesso individual, da competição brutal, saudando como uma vitória do espírito o esmagamento do fraco pelo forte, a recusa triunfante de todas as formas de solidariedade. Sejam calculistas e pragmáticos. O rico tem razão, o pobre está errado. Um vício secreto explica, certamente, a sua pobreza. O pensamento da totalidade? Uma velha mania. Que apenas serve para ocupar os ócios de alguns esquerdistas atrasados. Um pensamento crítico? Nem pensem nisso. O pensamento deve atingir o melhor resultado, por conseguinte, ser funcional.
Para o homem instrumentalizado pela racionalidade mercantil existe unicamente um só pensamento “justo”: o que é, justamente, produzido pela razão instrumental. E, de resto, a “instrumentalidade” é o verdadeiro objecto da história.”
ZIEGLER, Jean; COSTA, Uriel da (1992) Até amanhã, Marx!, Lisboa: Puma Editora.
(Tradução de José Carlos Gonzalez)
E de repente lembrei-me desta passagem:
“- Todo o dinheiro é assaz imundo – disse Mister Propter – e não me consta que o do pobre Jo seja sensivelmente mais imundo que o de outro qualquer. Talvez você o ache, mas isso porque vê, pela primeira vez, o dinheiro na sua fonte – fonte pessoal e humana. Você é como uma dessas crianças acostumadas a receber o leite em garrafas esterilizadas, de um camião branco e reluzente. Quando vão ao campo vêem ser extraído de um animal enorme, gordo, malcheiroso, ficam horripiladas, enojadas. O mesmo se dá com o dinheiro. Você está acostumado a recebê-lo detrás de uma grade de bronze, ao balcão de um Banco monumental todo de mármore. Agora veio para o campo; mora no estábulo com o animal que segrega o dinheiro que recebe. E o processo não lhe parece primar pela delicadeza ou pela higiene. Mas, mesmo enquanto você não sabia, esse processo realizava-se. Se não estivesse a trabalhar para Jo Stoyle, provavelmente trabalharia para alguma universidade ou colégio. Mas, de onde sai o dinheiro das universidade e colégios? Dos ricos. Em outras palavras: de gente como Jo Stoyle. De modo que seria a mesma imundície servida em recipientes esterilizados e distribuída por cavalheiros de beca e capelo.
– Então o senhor acha bem que eu continue a ser o que sou?
– Sim – respondeu Mister Propter – entendendo-se por isto que não é escandalosamente pior que qualquer outra coisa. ”
Também o cisne morre / Aldous Huxley (1939)
Há umas terras a precisarem de serem recuperadas.
Apareça quem queira criar uma colónia de gente que despreze «a imbecil exaltação do sucesso individual, da competição brutal».
Se o cinismo pagasse imposto, o JgMenos estaria submerso em dívidas.:-(
Já ouvi falar que essas terras existem. Onde?
o JgMenos e a sua fixação salazarenta.
Sempre o preferiria à militância parva.