O episódio bizarro do anúncio de deslocalização do INFARMED para o Porto veio de novo acender a discussão estéril sobre a descentralização de poderes e recursos do Estado democrático, abrindo mais uma vez uma janela de oportunidade à demagogia fácil e ao discurso provinciano e pseudo-erudito do cacique local, cheio de razões de queixa da macrocefalia do Terreiro do Paço.
Esta refrega retórica cinge-se, normalmente, a uma berraria de sentido único, para consumo mercantil de paróquia, sendo aqui e ali polvilhada com tiradas de sociologia de feira cujo propósito é capitalizar emoções colectivas primárias, instintos de bairro mais próprios das bancadas de um estádio de futebol, do que dos fora democráticos aos quais pertence por direito a discussão séria sobre o assunto. E a discussão séria sobre o assunto não pode ser feita com dirigentes locais que tanto enchem autocarros com gente vestida de samarra, carregando chouriços e garrafões de vinho para ir cantar as janeiras a um palácio de Lisboa, como atam ao pescoço uma gravata fina e fazem discursos de Estado sobre os méritos inefáveis da Regionalização. Méritos esses sem segredos para o bom cacique, como é sabido.
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