Black Friday – avulsos a propósito do dia das pechinchas

  1. Um dia destes, na baixa, cruzei-me com uma senhora que ia de mão dada com a filha, dos seus 10 anos, mais coisa menos coisa.
  • Mãe, o que significa consumismo?
  • Quando uma pessoa compra alguma coisa porque precisa mesmo, por exemplo como nós vamos agora comprar uns sapatos para ti porque os outros já não te servem, isso não é consumismo. Quando alguém já tem o suficiente de qualquer coisa e mesmo assim compra mais sem precisar, a isso é que se chama consumismo.

  1. Tal como vem acontecendo desde 2013 por ocasião do “Black Friday” e do “Cyber Monday”, o Sindicato Unido dos trabalhadores dos Serviços alemão Verdi apelou à greve dos trabalhadores da Amazon, reivindicando um acordo colectivo de trabalho. A Amazon recusa categoricamente negociações. Cerca de 500 trabalhadores em vários centros de distribuição aderiram à greve, mas o gigante retalhista online afirma que o impacto da greve não se fará sentir e que vai garantir as entregas previstas. Propositadamente para a época natalícia, a Amazon contratou para os seus centros de logística 13.000 trabalhadores a prazo (um número maior do que o de trabalhadores permanentes).
  2. De 10 a 13 de Dezembro terá lugar em Buenos Aires a XI Conferência Ministerial da OMC – Organização Mundial do Comércio, organismo multilateral que visa definir as regras do comércio internacional, pilar da globalização. A puxar os cordelinhos por trás dos mais de 160 países representados, estão os poderosos interesses das grandes corporações transnacionais. Em cima da mesa estão temas antigos, como o agronegócio, e novos, como o comércio electrónico. Objectivo final: reduzir a comércio todas as áreas da vida dos cidadãos e soltar as rédeas das multinacionais.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Antes de mais quero dizer-lhes que mais uma vez gostei do seu texto, sempre oportuno e pedagógico. Acima de tudo a sua temática têm sido pedagógica. E isso vale mais do que esgrimir argumentos, por vezes estéreis.
    Mas coloco uma pergunta à Ana Moreno e aos seus leitores, na qual me incluo:
    Não temos nós contribuído em grande medida com o nosso Chico Espertismo, para que essas empresas proliferem, em detrimento de um mercado regulado e com direitos para todos, trabalhadores incluídos?
    Temos. Mesmo que não o façamos por nós próprios, deixamos que os nossos filhos o façam.
    Coitadinhos agora eles já são tão poucos. Acabaram-se as famílias numerosas, e é uma pena as nossas crianças passarem por algumas privações menores, como ter que dividir e partilhar!
    Dou um exemplo simples:
    Quem não viaja nas chamadas Low Cost? Provavelmente todos. A começar pelos nossos filhos. O meu já viajou mais em vinte e dois anos de vida, do que eu, que já levo uma cinquentona de trambolhões. Já alguém se questionou se essas companhias aéreas cumprem com as regras laborais?
    Quem não utilizou a UBER? Quase todos a utilizaram pelo menos uma vez. Há pois, os taxistas, tem aquela unha grande do mindinho para coçar o auricular e dizem umas “carvalhadas”!
    Quem não compra livros na Amazon? Quase todos. E sapatilhas?
    E ir à lojinha do chinês? Das pilhas aos óculos. Aí duvido que alguém levante a mão para atirar uma sarisca que seja!
    Sim, nós queremos dizer aos amigos que compramos mais barato. Que escolhemos as melhores “lojas”. Que a nossa relação preço qualidade é que é. É uma porra! Nós somos mas é uns labregos, com a mania de que somos mais espertos do que o vizinho do lado, até ao dia em que descobrirmos que depois de ele ficar desempregado, ou fechar a sua loja, esse triste desiderato nos tocará à porta uns dias depois.
    Nessa altura, será tarde!

    Apetece-me declamar aquele poema de Vladimir Maiakovski ou se quiserem Bertold Brecht.
    “ Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
    E não dizemos nada…”

    O resto já sabem como acaba.

    • Ana Moreno says:

      Obrigada Rui por colocar essas questões com que nos defrontamos (ou pelo menos devíamos) de cada vez que diariamente fazemos escolhas … É um malabarismo constante, avançar colocando na balança o que estamos dispostos ou podemos fazer pelos nossos ideais e onde optamos por fazer compromissos.
      Fazer compromissos temos de fazer, mas pelo menos que façamos com consciência, pondo realmente na balança, e que façamos o menos possível.
      Por mim, dos exemplos que o Rui referiu, só há um compromisso que faço- o resto não faço, bem como muitas outras coisas.
      Sei que o facto de me poder permitir pagar mais para comprar uma coisa produzida de forma mais justa e mais sustentável, é um privilégio. Mas a escolha é também ter apenas uma t-shirt produzida com salários mais justos, ou ter duas ou três pechinchas. Vou pela primeira opção.
      Claro que as pessoas que vivem no limiar nem escolha têm, mas há uma boa camada que pode escolher.
      “(…) até ao dia em que descobrirmos que depois de ele ficar desempregado, ou fechar a sua loja, esse triste desiderato nos tocará à porta uns dias depois.“ É isso que me surpreende, é que não haja sinos a repicar aos ouvidos das pessoas que o mais barato resulta na maior parte do encolhimento dos salários das pessoas, do abaixamento do nível de segurança e da precariedade em que as pessoas têm de sobreviver… Pagam menos, sim, mas também recebem menos…
      Isto dá pano para mangas 🙂

      • Ana Moreno says:

        A propósito, ainda não vi, foi-me recomendado hoje e parece que pode ser interessante: https://minimalismfilm.com/ 🙂

      • Ana A. says:

        Ana, é por isso que eu, como pobre socialmente consciente me sinto duplamente violentada!

        • Ana Moreno says:

          E é mesmo Ana, o que provoca enorme revolta e exasperação. Mas se fizermos o que podemos, “a mais não somos obrigados”, o que é uma triste sentença, mas tem de servir para nos aguentarmos, porque também temos direito à felicidade possível. Nesse acto de equilíbrio, ocorre-me muitas vezes a célebre frase de Adorno, na sua Minima Moralia, “Não há vida correcta na falsa” – dizendo que, embora não possamos escapar-nos aos absurdos e às injustiças do mundo em que vivemos, pelo menos não devemos permitir que nos usurpem a capacidade de distinguir o certo do errado. E de actuar em conformidade, dentro do possível. Isto ajuda. Adicionado a coisas boas da vida 🙂

    • ….”” Apetece-me declamar aquele poema de Vladimir Maiakovski ou se quiserem Bertold Brecht.
      “ Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
      E não dizemos nada…”

      O resto já sabem como acaba. “”

      —é isso, Rui Naldinho, e aplicado igualmente a todos os aspectos da nossa vida a reflectir !

  2. Rui Naldinho says:


    Ahah pois, os taxistas…

  3. Escravo boçal existe para…

    • Ana Moreno says:

      Tá bom somos manada, concordo que é assim que nos tratam e, uns mais outros menos dependendo das possibilidades, também como nos comportamos; e então, o que propõe concretamente?

      • Sabes que já passei essa fase boçal de propor!

        E se contemplares por alguns instantes o PRESENTE chegarás à mesma conclusão que eu… penso eu!

        Ao contrário de propostas, considero que só há uma forma de resetar (versão tuga de RESET!) e que é esta.

        Ainda cheguei a ponderar se a simples visita de um CALHAU celestial seria suficiente – por forma a manter outras formas de vida, vivas – mas os contras e os riscos são enormes, pelo que aguardo, em vão, pelo EVENTO magnífico!

        Esta espécie já deu, e continua a dar provas, ao longo dos milénios que já passaram mas que estão todos condensados no AGORA, que não é capaz de EXISTIR em equilíbrio harmonioso.

        (Tirando isto apenas te posso escrever o que eu faço (e não é proposta!):
        Não ingiro restos de cadáveres de outros animais;
        Não ingiro leite e derivados de outros animais (como ainda não há mercado para leite e derivados de animal humano (mulher!), azar!);
        Não ingiro álcool;
        Não uso drogas legais/ilegais;
        Não vou a cinemas/festivais/e outras actividades que tais;
        Apesar de ainda ter veículo automóvel (com 16 anos!) faço cerca de 3/4.000 km/ano;
        Não compro nada feito com restos de outros animais (roupa/calçado/etc)
        Não compro nada sem ter efectivamente necessidade de o fazer;
        e para não chatear fico por aqui!)

        • Ana Moreno says:

          Reset retirado do filme Melancolia de Lars von Trier, certo?
          Voza0db, torna-se-me simpático por tudo o que não faz (bom, parto do princípio de que também não ingere restos de humanos, ou umanos como prefere), aliás já tinha esse pressentimento pelo conhecimento revelado nos seus comentários 🙂 Temos coisas em comum 🙂
          Quanto à associação entre propostas e boçalidade, aí os nossos caminhos separam-se até ao infinito; lamento desiludir, mas nunca chegarei à sua conclusão, quanto mais não seja porque não quero, mesmo descrente. E diga-me, não tem filhos nem ninguém que ame? É mesmo para ir tudo para o galheiro?

          • Correcto! Apesar de a palavra melancolia não ser o ideal para tal sequência de fotogramas…

            (bom, parto do princípio de que também não ingere restos de humanos, ou umanos” dado que umanos são igualmente animais… é evidente que não! E de resto a sua carne está igualmente degenerada cheia de hormonas, drogas e outras coisas boas, pelo que a diferença seria quase nenhuma.

            Não que as espécies do Reino Plantae estejam em muito melhores condições graças aos nossos queridos fitofarmacêuticos e restante poluição!

            O facto de “não quereres” não altera a REALIDADE!

            Quanto ao final… Coloco a coisa desta forma:

            Não tenho descendentes porque os AMO ∞

            Infelizmente não vai tudo para o galheiro… Iremos continuar a existir nesta infindável miséria umana.

            Sobra… 😆

    • https://taawaciclos.wordpress.com/2015/02/09/618/
      Obrigada por este link, voza0db !

  4. Ana Moreno says:

    “Não tenho descendentes porque os AMO ∞ ” até entendo muito bem, voza0db.
    Já “Infelizmente não vai tudo para o galheiro… Iremos continuar a existir nesta infindável miséria umana.”, … não percebo, pensei que o voza0db já estava certo de que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde… Entretanto, enquanto continuamos “a existir nesta infindável miséria umana”, ilumina-me o Dr. Rieux da Peste e coisas boas da vida.

    • Infelizmente a Umanidade não vai ter tal privilégio…. contemplar este grão de areia a ir contra uma pedra e… desaparecer.

      Essa fonte de luz, desconheço!

      Be 😎

      E com diz o “outro”: Keep Calm and…

      • Ana Moreno says:

        O Dr. Rieux é apenas a personagem principal do livro de Albert Camus, a Peste, que mostra a elevação humana no meio da miséria; porque até mesmo dentro desta “infindável miséria umana” há traços luminosos de solidariedade, dignidade, ou apenas uma música que nos conforta. Nada o conforta?

        • Pois! Livros… como nunca li nenhum livro – da 1ª à última página – declaro que nunca tinha sequer ouvido, ou lido, sobre tal conto!

          Sabes em que parte desse desperdício de Árvores está tal ilusão descrita?

          Quanto aquilo que realças… Parece-me que estás sempre pronta a embarcar no Barco Crença onde segue a bordo a Ilusão “afinal a humanidade existe”.

          Resta-me perguntar-te o que é para ti “Humanidade” e já agora o que é um “Ser Humano”?

          Posso facilmente comparar esta tua crença com aquela estória do bater de asas de uma borboleta!

          E porque razão deve existir algo que me conforte?
          Não necessito de tal “sensação”!

          • Ana Moreno says:

            É questão de gosto, mas ler livros bons é uma das coisas boas da vida a que me referia. Pensei que o voza0db teria lido Nietzsche, pareceu-me haver inspiração nesse sentido.
            Não preciso de acreditar/crer na Humanidade; basta-me sentir humanidade. Mas… e porque se martiriza assim? De que “sensações” necessita?

          • Já ouvi falar nesse bacano mas nunca li nada por ele escrito.

            Eu não me martirizo, da mesma forma que não busco conforto.

            Já cheguei ao estado de mera contemplação, sem qualquer espécie de tentativa de interacção.

    • E já agora… agora sim, uma proposta… se tens papel-moeda no banco proponho que o retires!

  5. ….adorei este vosso assuntar, Ana e voza0bd, quero mais !!!!

    “Não tenho descendentes porque os AMO ∞ ” ….como eu sei quanto isso é verdade, tendo-os tido !

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