Em nome da Coerência

Há dois dias, o ministro do Ambiente francês demitiu-se lapidarmente: “Não quero continuar a mentir-me a mim próprio. Não quero dar a ilusão de que a minha presença no Governo significa que estamos à altura dos desafios (ambientais) e, por isso, decidi demitir-me”, anunciou Nicolas Hulot. E foi-se.

Macron, que fez da luta contra as mudanças climáticas uma das suas bandeiras, tinha prometido durante a campanha eleitoral objectivos ambientais ambiciosos, como a proibição do glifosato ou a redução para metade da produção de energia nuclear em França até 2025.

O balanço de Hulot, ao fim de pouco mais de um ano em funções, é explícito: “Já começámos a reduzir o uso de pesticidas? A resposta é não. Já começámos a fazer alguma coisa contra a perda da biodiversidade? A resposta é não. Já começámos a fazer algo para a preservação dos nossos solos? A resposta é não.”

Embora reconhecendo que a França fez muito mais pelo ambiente que outros países e que foram dados “pequenos passos” – como o abandono do projecto para a construção de um novo aeroporto nos arredores de Nantes, ou o fim da exploração de hidrocarbonetos em território francês – Hulot considera que esses “pequenos passos” não são “suficientes” para combater os enormes desafios das alterações climáticas. O mandato de Hulot foi marcado por concessões, meias vitórias e derrotas, como o adiamento da meta de redução em 50% da utilização de energia nuclear para gerar electricidade até 2025 e a entrada provisória em vigor do Acordo de Livre Comércio entre a União Europeia e o Canadá (CETA).

Para esta decisão de Hulot terão também contribuído as secas devastadoras que se registaram na Europa e noutros países ao longo do Verão às quais, mais uma vez, foram dadas respostas políticas esquivas ou nulas.

“Além do burburinho político inevitável, espero que esta decisão encoraje todos a pensar e a mudar”, escreveu Nicolas Hulot no Twitter.

Hulot exige a verdadeira mudança de paradigma de que estes governos hipócritas só falam da boca para fora. O que em Portugal se demonstra, por exemplo, com a ratificação do CETA (o acordo comercial UE- Canadá) ou a obstinação do governo, através do Ministério do Mar, em manter a licença atribuída para o furo de prospecção de petróleo em Aljezur.

O poder dos Lobbys é soberano.

 

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Depois de Sarkozy, com um mandato miserável, veio Hollande, que conseguiu ser ainda pior do que o seu antecessor. Tão pior, que se recusou candidatar, para não ser humilhado nas urnas. Chegou depois um candidato mesclado de coisa nenhuma, Macron, que só foi eleito porque era algo desconhecido face aos seus oponentes, todos eles cheios de casos.
    A França que outrora foi viveiro de utopias e causas fracturantes, tornou-se hoje numa República de “Bananas”.
    Por cá temos o socialismo à PS, que é “aquela coisa onde cabe tudo”.

    • Rui Naldinho says:

      Se a dita Social Democracia não quer discutir o capitalismo, o que até se pode aceitar nesta altura do campeonato, podia ao menos discutir as questões ambientais e a sustentabilidade do planeta, ou questionar a regulação dos mercados financeiros, que já fazia alguma coisa em prol da humanidade. Mas não, preferem assobiar para o lado, fingindo que a culpa é da globalização.

      • Paulo Marques says:

        É tudo o mesmo, Rui. Se se começa a falar em restringir a liberdade capitalista, as pessoas percebiam que o discurso da falta de poder do estado-nação caía de podre e começavam a exigir outras coisas.

    • Nascimento says:

      A sério? O tipo “era desconhecido”? Olhe que não…era aliás muiiito conhecido pelo lobby judeu: Rothschild. Trabalhou para ele. Andou em Las Vegas nos websummit a embebedar-se com as novérrimas startups e com a sua actual ministra do TRABALHO .
      Depois foi só irem buscar o Rei Sol aldrabãozeco, apoirarem-no nos ” comicios” em direto (onde aquela merda mais parecia a IURD ), fazerem uma campanha sistemática nas TELEVISÕES do sistema ( BFTM.TV) …ui, um nojo que só visto! Levaram-no num andor!
      Mas, aqule merda dos betinhos do ” en marche” não ” andava! Até que ” apareceu” um zézinho que aparece sempre nestas ocasiões : O MODEM! aquilo só vale 5% e tem á frente um peidolas, o senhor Bayrou que tem a mania ( mas os franciús adoram peidolas pitonisias…)e pensa que a Cidade Pau, é Paris, e vai daí pimba o Macronzinho ganhou fogo no rabiosque e saltou para os 22% .
      A cereja em cima do Bolo? Os PALHAÇOS QUE AGORA SE ” SENTEM ” ENGANADOS! UI, quem? o Senhor Hulot ( o TatI deve-se estar a rir..), e o senhor DOS VERDINHOS chamado Cohn Bendit … tudo a BATER PALMINHAS AO ” GRANDE REFORMADOR “MACRON E APOIÁ-LO !!! Haja memória.
      COERÊNCIA DONA ANA? ahahahahah não brinque!Não há ALMOÇOS GRÁTIS!

  2. Paulo Marques says:

    Uma dessas coisas tem a ver com as outras…

    • Paulo Marques says:

      Ops. Uma dessas coisas não tem a ver com as outras… Mas é muito mais seguro ter centrais fora do prazo com a mesma manutenção da ponte genovesa. Ou então desligam-se e usam-se velas, muito mais turístico.

  3. JgMenos says:

    Falta sempre um pormenor nestas dramáticas alocuções: onde se havia de ir buscar o dinheiro para as alterações, quais os custos acrescidos e quem os pagaria,

    Porque a cena é sempre a mesma, o resultado não muda.

    • Paulo Marques says:

      Ao que o teu patrão ganha no casino e manda para o Panamá, só para começar.
      Isso e ao mesmo sítio onde o BCE vai buscar com o QE.

    • ZE LOPES says:

      “onde se havia de ir buscar o dinheiro para as alterações, quais os custos acrescidos e quem os pagaria,”

      Não será mais correto “onde se haveria ir buscar o dinheiro (para quê? as “alterações”? altera-se o quê?).

      Fora isso, V. Exa demonstra ser um às do condicional! E não admira: apesar de vir para aqui pregar moral aos outros limita-se a raciocínio liberteiro do tipo: “eu já cá não ando mais tempo, quero lá saber de quem cá fique!

      A espósia, que s’axploda! Os filhos, que s’amanhem! Os netos, os netos, não foi V. Exa. que os fez, que s’alixem!

      Ética de direitrolla ao vivo!

    • Ana Moreno says:

      Ou seja, JgMenos, TINA à escala global e a qualquer preço, os governos estão todos atadinhos sem hipóteses e portanto, subscrevendo o Zé Lopes, “A espósia, que s’axploda! Os filhos, que s’amanhem! Os netos, os netos, não foi V. Exa. que os fez, que s’alixem!”…
      Não quero acreditar que atinja tal dimensão de egoísmo.

      • JgMenos says:

        Subscrever palhaçadas não a beneficia, mas passando por cima disso, a única solução da esquerdalhada nunca é consumir menos ou mais caro, é catar e derreter capital.

        Mas imagino que me possa iluminar quanto ao glifosato: quais as alternativas? qual o acréscimo de preço para os tomates?

        • Paulo Marques says:

          Sim, é o aumento do preço dos tomates que é o problema…
          Extraordinário como o argumento após milhares de anos de progresso e crescimento é que afinal a prosperidade não só já não existe, provavelmente nunca existiu. Salazar estaria orgulhoso.

        • ZE LOPES says:

          “qual o acréscimo de preço para os tomates?”. Preocupação deveras legítima. Vai vender os seus e dedicar-se à ópera? Refiro-me aos da sua produção, claro! Nada de confusões!

        • ZE LOPES says:

          Agora coerência, coerência, seria afirmar: “que se lixe, estou disposto a alombar com um cancro desde que os tomates continuem baratos”. Isso sim, faria de V. Exa. um direitrolla de nível superior!

        • Ana Moreno says:

          JgMenos, um pouco de humor (e mesmo uma boa dose) não faz mal a ninguém, antes pelo contrário 🙂
          Consumir menos (não desperdiçando tanto) é uma óptima opção, urgente até, se estivermos a falar de carne.
          Alternativas há várias, algumas delas indicadas aqui:
          https://drimargric.wixsite.com/glifosato/alternativas
          A agricultura biológica está a ganhar terreno; a qualidade do solo melhora e a produção também. Agricultores que não usam glifosato afirmam “não vemos qualquer problema sem o herbicida, vemos problemas é com ele”, a ver aqui: https://www.global2000.at/glyphosat-alternativen-landwirtschaft
          Enquanto não for proibido, o glifosato será usado, isso é garantido. Basta saber qual é o lobby que o garante.
          Bom fim de semana, alimentos sãos e boas gargalhadas 🙂

          • JgMenos says:

            E os preços, o vil metal?

            Vamos então lutar pela quebra do poder de compra?

          • ZE LOPES says:

            Doctor Menos: isto é mais um comentário sério? A seguir ao dos tomates?

            Que palhação da teta V. Exa me saíu! Perdão, “da treta”…

  4. A demissão acaba por ser uma coisa boa que fez, coloca o ambiente no lugar que deve estar até Trump dizer uma coisa e desdizer outra, ou até a imprensa de direita descobrir mais um assunto de “fundamental” importância civilizacional. A esmagadora maioria da boyzada não tem esta coerência, demasiado respeitinho pelos DDTs e uma um coluna vertebral brutalmente flexível…

  5. Ana Moreno says:

    JgMenos, vamos lutar por melhores alimentos, pela biodiversidade, pela saúde, pela redução de CO2 e sim, é preciso pagar um pouco mais por isso, porque os custos que a perda desses bens representa, esses não são contabilizados no modelo actual. Se fossem, já os custos da produção industrial seriam bem outros. Já viu o que significa produzir carne de porco no Canadá e trazê-la para a Europa e vendê-la ainda mais barato do que a produzida aqui? Isto não é absurdo??? Meta-lhe os custos REAIS em cima (e são a vários níveis), as externalidades, e já terá produtos caros de produção industrial. É o sistema todo que está gravemente doente e continuam a mantê-lo vivo porque interessa ao grande capital.
    Ainda a propósito de alternativas ao glifosato, este documentário é interessante:

    • JgMenos says:

      Por coerência a palavra de ordem certa deverá ser:
      ‘sacrifiquemos o nosso poder de compra para salvação da Terra’

      Isso sim, teríamos tomates biológicos.

      • Ana Moreno says:

        Deixarmos de ser consumistas é uma peça do puzzle, sim, mas se não amarramos os tentáculos às multis, de pouco serve. Ora, como toda a gente sabe, o que está a acontecer é que as multis estão cada vez mais poderosas, com a ajudinha destes governos traidores.
        Tomates biológicos já tenho hoje.

        • JgMenos says:

          Nada como as multi para justificar o impulso para o mamar ilimitado.
          As multi existem porque lhes compram os produtos.

          • ZE LOPES says:

            E os monopólios também! A EDP, por exemplo, existe porque lhe compram eletricidade! Creio que até o covil de V. Exa. é eletrificado. A água a mesma coisa. A não ser que V. Exa. ainda recorra aos aguadeiros galegos.

            E quando não chega “mamam” no consumidor! Ou seja, presumo que V. Exa. seja um dos “mamados”. A não ser que tenha uma baixada avantajada para se ligar a França. Para ser “mamado” pelos monopólios franceses. A sensação é a mesma, mas dará outro estatuto.

            Vejo que V. Exa. já abandonou o problema dos tomates.Afinal o glifosato ainda não foi proibido!Os “chatos” que se cuidem! Passou o perigo, mas o susto é compreensível!

          • Paulo Marques says:

            E as pessoas compram-lhes os productos porque fazem concorrência desleal (a começar por não pagar impostos) e não pagam ordenados que cheguem para escolher melhor.

      • ZE LOPES says:

        Tomates quê? Nada disso! ‘bora lá encher tudo de DDT! O glifosato é para meninos, quanto muito para temperar uma saladita! Ou preferem ver aquelas lagartas horríveis?

        Na verdade, não há nada como uma saladinha bem glifosada e um copinho de tinto bem radioativo para uma refeição perfeita. E ainda vai sobrar muito poder de compra para ir à República Dominicana dar uns mergulhos no plástico.

      • Paulo Marques says:

        Tivesse o Euro chegado mais cedo e andava o Menos a perguntar se as pessoas queriam mesmo casas mais caras e se não era melhor manter o amianto.

        • ZE LOPES says:

          E arrisco mais: a substância de que o Menos é feito é o feldspato. Um coração empedernido, como o dele, não engana. E refugia-se no amianto como forma de se proteger conta uma possível ignição.

          Citando o poeta: “todo o Menos é uma sanitade de pedra!”. E, por modéstia, mais não disse.

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