Quem são os Coletes Amarelos em Portugal

No que respeita movimentações colectivas, sendo importante conhecer quais são os objectivos declarados, perceber quem as está a promover pode ajudar a avaliar a autenticidade das posições defendidas. Uma forma de o fazer consiste em procurar saber quem tem sido os promotores dos protestos dos Coletes Amarelos Portugal e que dimensão têm estes movimentos.

Não é fácil encontrar informação, sendo o Facebook a maior das fontes. Nele podem-se encontrar diversos grupos, cada um com alguns milhares elementos (cerca de 16000 no maior deles). Sem surpresa, encontram-se grupos claramente populistas, com diversos elementos activos em fóruns da extrema-direita, páginas geridas por perfis falsos e, também, páginas sem outro objectivo que não o de demonstrar a indignação quanto ao presente status quo.

Todos estes grupos declaram que o seu objectivo é mostrar insatisfação perante os diversos problemas da actualidade, tais como impostos demasiado altos (IVA, IRC, ISP, etc.), aumento do salário mínimo nacional, melhores pensões e reformas e combate eficaz à corrupção. E, igualmente, todos se demarcam da extrema-direita.

O relato da comunicação social remete para baixa adesão aos protestos, reforçando o truísmo de os manifestantes virtuais não saltarem do sofá para as ruas.

Enumeram-se, a seguir, alguns destes grupos dos coletes amarelos. Se o(a) leitor(a) quiser, pode sugerir outros na caixa de comentários.

 

Movimento Coletes Amarelos Portugal

  • Composto por um grupo público por uma página, ambos no Facebook (é o mais estruturado entre os aqui analisados)
  • 6292 seguidores na página e 15523 membros no grupo
  • Grupo e página administrados por
    • Ricardo Pereira, identificável na sua página
    • Melvin Oliveira (ligado ao grupo “Movimento Armilar Lusitano”, com várias publicações de cariz xenófobo, extremista e racista.). Este perfil tem características de perfil falso.
  • Objectivos: “Movimento pacifico apartidario de União e apoio a todos os grupos e indivíduos vulgo “colete amarelo” que estejam insatisfeitos com os variados problemas da actualidade” que estejam insatisfeitos com os variados problemas” (texto ipsis verbis, copiado da respectiva página)
  • Manifesto, publicado por alguém que assina António Martinho, disponível em PDF na página (alternativa para quem não tiver conta no Facebook)

Vamos Parar Portugal

  • Grupo fechado (é preciso pedir adesão), criado há cerca de 3 anos
  • Mudou o nome para “Vamos parar Portugal” em 18/12/2018
  • 15832 membros no Facebook, dos quais 3 812 aderiram nos últimos 30 dias (é o mais numeroso entre os aqui analisados)
  • Administradores: Gonçalo Dias
  • Moderadores: Miguel Fernandez (a foto usada para perfil é falsa – é de Matthew Mahone)
  • Ambos os perfis têm características de perfis falsos
  • Os objectivos do grupo não são públicos

Vamos Parar Portugal Como Forma de Protesto

  • Grupo público criado a 10 de Dezembro de 2018
  • 13814 membros no Facebook
  • Os administradores e moderadores estão devidamente identificados na página
  • Objectivos da página: “Somos um dos paises de recebe menos, e paga mais imposto etc etc, e ficamos caladinhos como sempre Temos países a receber o dobro de nós, assim que existe algo que nao agrade, reclamam, exigem, protestam até serem ouvidos, e NOS PORTUGUESES??? […]”  (texto ipsis verbis, copiado da respectiva página)

Coletes Amarelos Portugal

  • Página criada a 19 de Novembro de 2018, com o lema “Chega de sermos explorados”
  • 7696 seguidores no Facebook
  • Não é público quem criou a página (o(s) administrador(es) optou(optaram) por não activar esta informação)
  • Objectivos da página: “Saiamos à rua e paremos o País, reclamemos contra os aumentos dos preços do combustível, da luz, das portagens e do aumento dos Impostos.”

 

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Em Portugal, os únicos coletes amarelos que eu conheço e respeito, são de facto aquelas pessoas azaradas, que num infeliz dia das suas vidas, tiveram de saltar do assento do seu veículo, vestir um colete de cor amarelada à pressa, quiçá cor de laranja, obrigatório por lei, por ficarem empanadas na via pública, seja por culpa própria ou de terceiros.
    Tudo o resto são plágios do neo romantismo operário burguês, vindo das terras de Jean Jacques Rousseau.
    Que isto de revoluções, já foi chão que deu uvas.

  2. Rui Naldinho says:

    … de cor amarelada, à pressa, quiçá, cor de laranja, …


  3. De manhã, a caminho do trabalho, passei por um grupo desses. Pensei que era uma manifestação mas afinal não. Eram só uns cantoneiros que andavam de roçadoras a limpar as beiras das estradas junto ao Estádio Jorge Sampaio.

    Portugal é um país de macacos de imitação. Ninguém tira nada da cabeça. Aliás, historicamente, sempre imitamos os franceses, da República ao hino. São os recordes do Guiness e os desfiles de Pais Natal; são os lenços brancos nos estádios que só apareceram por cá há meia dúzia de anos depois de os verem em Espanha; são as feiras medievais que se propagaram como cogumelos por todo o lado mesmo em terras sem castelo depois do sucesso da Feira, uma das melhores do mundo; são os patrimónios imateriais depois do cante alentejano, etc etc.

    Portugal é um país de macacos e trazer para cá os coletes verde fluorescente (deve andar tudo daltónico para chamar aquilo amarelo!) foi só mais uma imitação.

  4. Fernando says:

    Não será Putin o administrador dessas páginas de Facebook?


  5. Eu só reconheci o famoso “Emplastro” que até veio do Porto a Lisboa.
    A que Grupo pertencerá?


  6. …a quem interessar ler esta análise inteligente :

    José Pacheco Pereira no Público:

    «A manifestação “Vamos parar Portugal” é o primeiro sinal exterior de um populismo larvar que medra pelas redes sociais fora e que era só uma questão de tempo até querer sair delas para a rua. Saiu agora e mostrou a enorme diferença entre os apoios mais ou menos incendiários “dentro” e a escassez de apoios “fora”.

    O que se passou com a manifestação dos chamados “coletes amarelos” portugueses é disso um verdadeiro exemplo. Deixemos a parte de leão que têm as malfeitorias dos deputados, dos governantes, dos políticos activos, desde o pequeno truque para ganhar mais uns tostões no fim do mês até à corrupção da pesada. É grave, mas o seu papel não é único, nem tão decisivo como parece.

    Há também uma indústria da denúncia da corrupção, verdadeira ou falsa, exagerada quase sempre, que vai desde políticos propriamente ditos que fazem da “luta contra a corrupção” um instrumento de existência e de vantagem eleitoral, muitas vezes com enorme duplicidade entre os “nossos” que são desculpados e os “deles” que são atacados por sistema, até à imprensa e televisão tablóide que é hoje predominante. Os mecanismos de cobertura dos eventos são cada vez menos jornalísticos, “notícias” inverificadas, obsessão pela “culpa”, muitas vezes antes de se saber se ela existe, menosprezo pela descrição dos eventos a favor do comentário conspirativo, tudo isso acentua o discurso populista.

    Voltemos ao “Vamos parar Portugal”. Esta manifestação teve excepcionais condições de propaganda para sair de fora do casulo das redes sociais. A ideia de que estas manifestações vivem essencialmente dos apelos nas redes sociais é, para não dizer mais, enganadora. E é claramente um dos mitos actuais, subsidiário do deslumbramento tecnológico, que se repete sem escrutínio desde a “Primavera árabe”, como atestam todos os estudos, mostrando que as redes sociais estão longe de ter o papel que se lhes atribui. Não adianta, é um mito urbano, logo tem pernas para andar.

    Esse mito oculta que as manifestações com algum sucesso que nasceram nas redes sociais só ganham dimensão quando passam para as páginas dos jornais e os noticiários da televisão, ou seja, para os media convencionais. Esta é a segunda manifestação em Portugal que tudo deve ao modo como a comunicação social resolveu tratar este tipo de protestos. A primeira foi a manifestação do “Que se lixe a troika”, que beneficiou de uma grande simpatia dos jornalistas (correlativa da antipatia no tratamento das manifestações sindicais), e a segunda foi esta, que suscitou sentimentos contraditórios entre o desejo de que houvesse pancadaria, porque isso dá boa televisão, anima a política e “chateia o Costa”, até à exploração do medo.

    Aliás, é interessante ver como foi evoluindo o contínuo media-redes sociais e alguns sectores políticos da direita que não disfarçavam a expectativa da contestação para contrariar a “ditadura” de Costa e da “geringonça”, até à extrema-direita (o PNR teve uma presença importante entre os manifestantes) e a fina alt-right do Observador, que passou do alarmismo para o “fiasco”. Mas faça-se justiça ao Observador, que não esteve sozinho: a cobertura mediática anterior à manifestação foi de muito má qualidade, exagerada, alarmista, desproporcionada e mostrando muito pouco conhecimento sobre o que se passava, sugerindo muitas vezes que da passividade sonâmbula e hipnótica da “geringonça” se iria passar para um país a ferro e fogo.

    Esta atitude foi também a do Presidente da República e do Governo, ambos alimentando um alarmismo exagerado, com gestos que seriam completamente contraproducentes, caso existisse mesmo o perigo de as coisas descambarem. O que eles fizeram com passeios “apaziguadores” com camionistas, que pelos vistos não tiveram nenhuma presença destacada no “Vamos parar Portugal”, ou com avisos de que se estava num “alerta vermelho”, foi a melhor propaganda que se poderia fazer para um movimento que nunca deixou de ser débil. O “Vamos parar Portugal” não falhou por falta de propaganda, falhou por falta de pessoas.

    O alarmismo irresponsável das autoridades mostra também que não há “inteligência” sobre estes grupos, ou que, se existe, é de muito má qualidade – ou seja, ou não sabiam de nada do que se ia passar, ou então resolveram fazer uma actuação exemplar com antecedência para dissuadir o que se possa vir a passar um dia futuro. Seja como for, é brincar com o fogo.

    Eu ouvi um dos “organizadores” dizer que iriam para a rua um milhão de pessoas, o que nos dá a medida da ilusão. Mas seria uma ilusão ainda maior ignorar que há muita gente zangada, há cada vez mais gente que já não pensa em termos democráticos, mas em termos de “nós” (o povo) e “eles” (os políticos) – a essência do populismo, para simplificar – e que o combustível para a zanga e para as ideias que nascem da zanga é cada vez mais abundante. Como é igualmente abundante a completa irresponsabilidade com que se alimenta essa fogueira escondida, como se viu a pretexto destes protestos que nunca pararam Portugal, mas parecem ter parado a cabeça a muita gente.»

    ,


  7. ….e ainda, que tudo isto é divertido apesar de assustador :

    …” Por terem ficado mais em casa do que saíram à rua, bastou à organização dizer que se tratou de uma greve e nessa medida nunca se viu uma adesão desta ordem….”

    ( Zé Pedro Silva ) : )

Trackbacks


  1. […] sem violência ou outros incidentes, o que é bom. Uma manifestação que se dizia apartidária, apesar de ter entre os seus organizadores, alguns deles fake, adeptos de Trump, Bolsonaro e Salazar, o que é sempre um péssimo indicador. Uma manifestação que ainda assim colocou o dedo na […]