O PPM foi um partido com tradição no panorama político português, tendo inclusivamente integrado dois governos constitucionais. Até agora mereceu o respeito mesmo dos que discordavam do seu programa, tão legítimo quanto qualquer outro em democracia. Presta-se agora ao triste papel de barriga de aluguer para projectos políticos que apostaram tudo nas redes sociais, mas que não conseguiram até ao presente a necessária legalização no Tribunal Constitucional, que lhes permitiria disputar eleições.
Factos são factos, existem muitos eleitores que se situam à direita do PS e que pelas mais variadas razões, não se revêm ou não confiam no PSD ou CDS. Durante a presente legislatura foram várias as correntes que se movimentaram no sentido de formar novos partidos, mas por agora, apenas a Aliança de Pedro Santana Lopes e a Iniciativa Liberal alcançaram o objectivo. Os movimentos Democracia 21 e Chega ainda não são partidos políticos, porventura sê-lo-ão um dia, mas hoje ainda não o são e com o prazo para apresentar candidatura às eleições europeias a esgotar-se, eis que o PPM decidiu integrar André Ventura nos seus candidatos às eleições europeias, o mesmo acontecerá com o D21.
Lembram-se do que aconteceu ao MPT quando apostou em Marinho e Pinto? O PPM acaba de abrir o caminho à sua extinção, o D21 que forçosamente ocupará um lugar subalterno face aos parceiros dificilmente alcançará o estatuto de partido político e será André Ventura quem irá a votos. O sucesso ou insucesso eleitoral do comentador televisivo é outra questão, será até interessante de ver face à dificuldade na obtenção das assinaturas que permitiriam a legalização, qual o resultado que conseguirá alcançar, se estamos perante algo que veio para ficar, ou se pelo contrário será um fenómeno efémero.
Se o PPM aceitou ser barriga de aluguer é porque do casamento entre o “Chega” e a “D21” vai nascer uma linda princesa. É comovente esta sigela e desinteressada ajuda motivada pelas contrariedades da natureza!
(no comentário anterior, obviamente é “singela”)
Mas há um problema: é que para ser barriga de aluguer, o PPM terá de mudar de sexo, passando a chamar-se Partida Popular Monárquica (será, inclusivamente, o primeiro partido a mudar de sexo na história da democracia).
A mudança é fácil já que, como se diz para aí, estamos num país onde se muda de sexo todos os dias e a toda a hora. O problema é que o Partido Pró-Vida, agora Cidadania e Democracia Cristã (que também entra nesta chégada), é capaz de não concordar.
Retiro da exposição uma frase sua sobre André Ventura:
“(…) O sucesso ou insucesso eleitoral do comentador televisivo é outra questão (…)”
para dizer que a questão de fundo é exactamente esta, mas ligada ao facto do personagem ser um “comentador televisivo”.
É a fórmula estafada do populismo que, num passado recente, Marcelo Rebelo de Sousa usou e abusou e da qual Marcelo Rebelo de Sousa usa e abusa, tendo sempre opinião para tudo e sobre tudo, esquema que o eleitor, na sua maioria, acha adaptada.
Esta questão vai muito fundo que a aparição de uma qualquer pessoa a dizer ou comentar baboseiras. Vejo-a como um verdadeiro atestado de menoridade passado ao futuro eleitor.
Exactamente ao mesmo nível, estão as eleições americanas e o facto de ver por aí muito “papagaio” dito jornalista e comentador, afirmar que Trump ganhou porque foi executada uma propaganda que passava justamente por “fake news”. Em suma, para essas sumidades, os eleitores são, todos, gente menor e debilitada cujo sentido de escolha é desviado por notícias, cochichos, má língua, …
Mas uma coisa é evidente: André Ventura, em suma, faz o que Marcelo faz, havendo muita gente que apara o jogo.
Dito isto, sou forçado a concluir que quando uma população mais que esmifrada, vota nos que os esmifram e continuarão a esmifrar, o referido atestado de menoridade faz todo o sentido.
Basta que nos lembremos dessa mole de “indecisos” que a cada acto eleitoral fazem o papel da “tola Maria no meio da ponte”… mas caem sempre para o mesmo lado.
A experiência, muitas vezes, tem que ser muito dolorosa para que os preguiçosos acordem. Felizmente que têm depois o Facebook para vir chorar “baba e ranho” …