Chega ilegalizar o Chega?

Há quem defenda que o Chega é um partido ilegal ou que é necessário ignorá-lo para não se correr o risco de lhe dar visibilidade.

Em primeiro lugar, a expressão “partido ilegal” é um paradoxo, num Estado de Direito. O Chega existe e tem um deputado na Assembleia da República. Isso chega para estar dentro da legalidade.

Mas não temos o direito a apresentar queixa, se acreditarmos que existem indícios de inconstitucionalidades no programa, nas acções ou nas declarações do Chega? Com certeza que sim, mas reduzir o combate político a isso é superficial e, portanto, perigoso, até porque não basta estar convencido de ilegalidades, é preciso prová-las. O que fazer enquanto isso não acontece ou se nunca chegar a acontecer? Relembre-se, por exemplo, que o Partido Nacional Renovador (actual Ergue-te) existe e concorre a eleições.

Mais vale acreditar que o Chega é legal, como foram e são legais partidos tenebrosos, alguns, com responsabilidades governativas, muitos, responsáveis por coisas inomináveis.

Mas o Chega não é perigoso? É muitíssimo perigoso, inimigo do Estado de Direito, praticante de um falso cristianismo elitista que despreza as classes baixas (a cruzada contra os apoios sociais é só um dos sintomas). A Quarta República do Chega é o futuro regresso ao passado. Por muito que o seu programa seja legal, as suas intenções e as suas declarações (ainda que comicamente contraditórias, como demonstra Ricardo Araújo Pereira) devem ser combatidas.

E ignorar o Chega? Faz tanto sentido como estar no meio de uma carga de elefantes e negar a própria existência dos elefantes, como se fôssemos uma espécie de zoólogos pela verdade a negar o próprio esmagamento: “Tenho os intestinos de fora, mas isso não tem relação nenhuma com o elefante imaginário com cerca de dez toneladas que está imaginariamente em cima de mim!” Perceba-se: não é possível ignorar uma carga de elefantes, nem sequer um elefante.

E se o Chega chegar a ser ilegalizado? Seria uma boa notícia, é certo, mas o verdadeiro problema é outro: o desaparecimento de um partido não significa que as ideias que defende se extingam. O problema maior, no entanto, está na normalização que a direita concede a um partido canibal, recorrendo a falsas equivalências ou pondo as culpas na esquerda (o que até tem graça: os que atribuem à esquerda responsabilidades pelo nascimentos dos chegas são os que vão casar com eles).

É difícil combater um partido destes de modo civilizado? Se já é difícil combater os partidos do arco democrático que vão alternando na corrupção do poder, imagine-se o que será combater quem ainda tem menos vergonha na cara! Não é fácil, porque ser civilizado nunca foi fácil. Mas é obrigatório.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Vamos ter de nos habituar a conviver com partidos como o Chega ou outro qualquer, que emirjam do espectro político, tal como nos EUA aconteceu com Trump, na França com Le Pen, no Brasil com Bolsonaro, na Espanha com o Vox, etc, etc.
    A alteração da relação de forças no mundo mediático, com o aparecimento das chamadas redes sociais, em contraponto ao definhamento dos órgãos de comunicação social tradicionais, a par de um processo de globalização sem regras, nas suas três vertentes, a económica, a cultural e a social(migratória), deram origem ao aparecimento destes epifenómrnos eleitorais.
    A rápida mudança tecnológica nos meios de produção, com a introdução da informática digital, a robótica e a cibernética, veio atirar para fora do mercado de trabalho uma série de personalidades que sem grande escolaridade, habituadas a uma aprendizagem repetitiva e mecanizada, se veem agora excluídas do mundo dos activos.
    Sem grandes filtros, imperando uma irracionalidade absoluta, vivendo da crítica acéfala, uma boa parte das redes sociais tornou-se num viveiro de gente sem escrúpulos, que se vão auto alimentando uns aos outros, sob o olhar de alguns instigadores, do tipo André Ventura.
    Ilegalizar o Chega não é solução. Porque a segui virá um “Basta”.

  2. Filipe Bastos says:

    Parabéns ao Nabais por reconhecer algo que costuma escapar à esquerda e à actual cancel culture: não é por se proibir algo – um partido, ideia ou facto incómodo – que isso desaparece. Pelo contrário, só reforça convicções e extrema posições.

    Tal como o Livre nasceu para dar tacho ao Rui Tavares, o Chega nasceu para dar tacho ao André Ventura. Mas porque cresce tanto? Porque ameaça já o Berloque como nº3 desta linda partidocracia, que até tende para a esquerda?

    O Ventura ataca os ciganos. Se usasse as mesmas críticas para com indianos, chineses ou finlandeses, teria o mesmo sucesso? Não, pois não? Porque acham que funciona com ciganos?

    O Ventura ataca o ‘sistema’. Claro que mama como os outros, e já faz arranjinhos com o PSD, mas tem ainda a aura ‘anti-sistema’. Porque acham que isso rende tantos votos?

    O Ventura ataca abusadores do RSI, muitos deles ciganos. Será pura invenção? Se, como diz a Sábado, há ~40.000 ciganos em Portugal e 20.000 recebem RSI… tudo normal?

    Sim, o Ventura diz muita trampa, é direitalha, canalha, etc. Mas o Nabais e seus amigos percebem que não vão ‘combater o Chega’ se continuam a negar as poucas verdades que o Chega diz?

    • Paulo Marques says:

      Se quer falar em verdades, o “cancelamento” não é para proibir, é para retirar acesso ao megafone, porque sim, não é por aí que desaparece, tanto que nada daquilo é novo – é até recauchutado de Portas e companhia.
      E já lhe perguntei, se não quer criar emprego, não quer que haja oportunidades, não quer RSI, que se faz aos Roma? Enfia-se num campo de concentração? Incluindo os que se esforçam por se integrarem?

      • Filipe Bastos says:

        Ah, ‘deplatforming’, certo? Também nada de novo: alguns regimes especializavam-se nisso. Quando não gostavam da conversa, lá ia a plataforma. E o emprego… e outras coisas.

        Faz-se aos ciganos o que se faz a qualquer criminoso. Prisão, no limite deportação. Muitos não são portugueses, nunca o foram. Nem querem ser.

        • Paulo Marques says:

          E o que é que regimes tem a ver com entidades privadas a fazerem-lo pelo lucro?
          Ok, os ciganos são todos criminosos, mesmo os que nunca cometeram um crime, nem são portugueses, mesmo os que são, não querem trabalhar, mesmo os que trabalham até haver boatos da etnia. A seguir os brasileiros, depois os negros, e os judeus, presumo.

          • Paulo Marques says:

            E que a amiga francesa do Andrézinho faça o mesmo aos preguiçosos dos tugas, só estão lá para roubar trabalho e nem franceses querem ser.

        • Filipe Bastos says:

          V. disse: retirar acesso ao megafone. É o que a sua malta faz e exige que os privados façam: calar quem discorda. E ostracizar, até despedir o infractor. Quantos já o foram por um mero tweet ou piadola?

          Só os ciganos criminosos, como julgava óbvio, devem ser presos ou deportados. A sua ‘slippery slope’ é absurda: nenhum outro grupo se auto-exclui tanto e comete proporcionalmente tantos crimes e abusos.
          Os emigrantes portugueses são o oposto. Trabalham, contribuem, cumprem as leis. Vê ou não a diferença?

          • POIS! says:

            Pois ora aqui está mais uma!

            Ó Sr. Bastos, já se viu por aqui que o seu discurso anarqueiro anti-possidentes (vulgo “chulecos”)é frequentemente traído pelo emprenhamento de discurso direitolas, até salazaresco, a que V. Exa. se submete bastamente. O rol já vai grande e só a falta de paciência me impede de lhe ir respondendo.

            Mas este não passa.

            Essa convicção de que “os que vêm de fora” não trabalham e vêm para viver de subsídios e dedicar-se ao crime, enquanto os emigrantes portugueses são uns santificados “mouros de trabalho” não tem sustentação na realidade.

            Para sua informação os portugueses estão muito bem classificados no que respeita à percentagem da população prisional do Luxemburgo, da Suiça e até de Andorra. E isto para não falarmos dos que vivem de subsídios nesses países e no Reino Unido e Irlanda do Norte. E até em Espanha.

            E também lhe recomendo um passeio pela noite de Newark ou de Ironbound, lá nos EUA, onde boa parte da população é portuguesa ou classificada como tal.

            Lembra-se do filme “Good Morning Vietnam”? O Robin Williams, a certa altura pergunta a um soldado negro acabado de chegar de onde vem. Quando ele responde “Newark” o Williams diz-lhe qualquer coisa como “se já andou por lá à noite então não vai ter dificuldades por aqui”…

            Viu os “Sopranos”? Há lá várias alusões aos portugueses. Conheci gente que trabalhou para negócios de “máfias” portuguesas nos EUA. Desde matadouros clandestinos a restaurantes onde há lugares reservados para polícias que comem e não pagam, a motéis duvidosos pejados de sul-americanas e asiáticas, uma pessoa que conheci trabalhou em tudo. E quem dirigia aquilo eram portugueses, melhor dito, luso-americanos. Esteve lá anos ilegal, servia polícias todos os dias, mas nunca teve problemas. Pudera…

          • Filipe Bastos says:

            Parabéns, POIS: descobriu que portugueses também cometem crimes. Não tenho estatísticas de quantos estão presos nesses países – comparados aos outros emigrantes – mas estou certo de que as irá partilhar.

            Apesar disso consegue ver a questão, não consegue? V. não é burro. A questão é proporcional.

            A maioria dos portugueses não é assim. A maioria dos ciganos é assim. Se há cá 40.000 e 20.000 recebem RSI, o que acha? E nunca foi a uma feira? Nunca reparou que vivem da candonga e do tráfico? Acha que pagam impostos? Acha que contribuem para a sociedade ou o país onde vivem?

            Nunca viu o que fazem às casas que lhes dão? Sim, dão: há quem trabalhe toda a vida para comprar uma, e quem seja despejado da que andou a pagar; eles recebem-nas de borla. E nunca teve uma questão com um cigano? Pois não queira ter.

            São hostis, agressivos, primitivos, egoístas, anti-sociais. Certa vez, já que estamos em anedoctes, vi em frente à Católica um par que parecia pai e filho: o pai a descansar na relva de papo pró ar, enquanto o filho de 7-8 anos ia pedir de carro em carro. É esta a formação familiar.

            Constatar isto é direitolas e salazarento? Parece-me mais a v/ ‘dissonância cognitiva’, como agora se diz, perante evidências de que não gostam.

          • Filipe Bastos says:

            E já agora, POIS: é por prezar a justiça, a igualdade, o bem comum – os valores que a esquerda devia prezar, em vez do PC a todo custo – que assim falo dos ciganos.

            Estou-me nas tintas para que sejam diferentes, que andem de preto ou vivam à parte. Até acho bem: antes isso que conformismo e carneirada.

            O problema é que se excluem só para os que lhes convém; são activa e agressivamente anti-sociais; cometem crimes e abusam das regras; rejeitam a sociedade mas querem servir-se dela.

            Já vi ciganos na urgência de Sta. Maria a destratar toda a gente e a exigir atendimento preferencial. Já os vi a ameaçar uma jovem à porta do Colombo e a polícia, a meros metros, a olhar para o lado. Porque são ciganos e ninguém se quer meter com eles.

            A direita até devia louvá-los: ganância e egoísmo é com eles. Se fossem banqueiros, o Ventura lambia-lhes o rabo. Como não são, o Ventura ataca-os. E a esquerda caviar, que nem morta viveria perto deles, passa o tempo nesta pífia virtue signalling.

          • POIS! says:

            Pois o Sr. Bastps não está “documentado”. E manda-me a mim documentá-lo. Desculpe mas o meu tempo não está há sua magnânima disposição.

            Mas isso não o impede de debitar converseta de café. Já aconteceu aqui o mesmo com outros assuntos como o dos supostos favores e privilégios de grupos sociais, a começar pelos funcionários do Estado. Não perde o Sr. Bastos .ensejo de erguer a moca para ribombar nos habituais “bombos da festa”:

            Sr. Bastos, que há problemas de convivência com alguns grupos sociais tidos sabemos. Não são precisos Venturas e Bastos para nos virem dizer supostas “verdades”. O problema é que acirrar os conflitos não resolve nada e sobretudo, sr. Bastos, faz regredir constantemente os progressos que pessoas dentro da comunidade se esforçam continuamente por realizar.

            Além do mais, Sr. Bastos, as cruzadas de perseguição a grupos sociais concretos, além de criminosas, são desastrosas sobre o ponto de vista económico. Sim, porque essas comunidades irão defender-se e, com mais ou menos polícia, a segurança e “paz social” que trouxeram a este país, na sua globalidade, uma importante vantagem comparativa no campo do Turismo, irão para o galheiro em três tempos. A não ser alguns “resorts” fortemente guardados que darão forte lucro às multinacionais, não vai ficar mais nada para os pequenos empresários.

            Quanto ao resto, Sr. Bastos, pois tá bem! Já ficámos a saber que na tal semidemocracia semidireta semirepresentativa que em breve será imposta por um golpe há mais alguns que não irão ter direito de voto, porque não existirão Bastos disponíveis para os assistir nessa função.

          • Paulo Marques says:

            Só faz sentido dizer que não querem trabalhar se não fossem fortemente discriminados na escola e no trabalho.Caso não tenha reparado, o pleno emprego foi posto na gaveta em troca de desemprego estrutural para controlar a perigosíssima inflação – ainda perdíamos poder de compra todos os anos, inimaginável! (se fossem assim as contas, que não são)
            E se acha que a diáspora lusa é diferente, o querido líder do Chega pelo menos não se importa. Só não é igual para o povo das mulheres e do vinho porque há sempre alvos mais fáceis nesses países, porque alguém tem que ficar por baixo para justificar não chegar para todos.