25 de abril: agora e sempre, para sempre

Hoje é um dia bonito. Um dia que desde cedo compreendi a sua verdadeira importância, já que sempre fui educada para valorizar a Liberdade, essa “maluca que sabe quanto vale um beijo”.

Não tinha eu mais de 8 anos quando escrevi num diário da Barbie muito cor-de-rosa (como podem perceber, em nada cumpria a sua função de ser discreto) como havia passado aquele 25 de abril, que provavelmente seria de 2009 ou 2010. Descrevi-o como um dia feliz, não só porque tinha ido buscar limões com o meu pai a casa da minha avó e feito limonada, mas também porque aquele era o dia que tanto me ensinavam na escola e que muito carinhosamente me explicavam, também em casa, todos os seus contornos que, para aquela criança curiosa e apaixonada por História que eu era, era uma delícia e me fazia sentir dona da verdade daquela época.

Apesar de já não me achar dona de verdade nenhuma, continuo a sentir o 25 de abril como se fosse meu. Por senti-lo tão meu, é que me faz confusão quando o tentam comparar ao 25 de novembro. Atrevimento é de imediato a palavra em que penso sempre que vejo alguém a ter esse discurso, quase que me fazendo lembrar uma pessoa extremamente inconveniente e com a extrema necessidade de achar que faz tudo igual aos outros, mas que fá-lo bem melhor. Ora, abril é abril e novembro é novembro. Deixe-se para abril as celebrações que lhe pertencem e somente essas. Vão ouvir José Mário Branco e, sei lá, não me chateiem.

Devo dizer que também me deixa desconfortável quem se tenta fazer dono da Liberdade dentro de uma Democracia. E é mesmo impressionante como, desde 1974, as tensões entre esquerda e direita ainda são as mesmas, quase como se fossem todos herdeiros de um pensamento bafiento reacionário ou revolucionário (dependendo do espectro) com o qual não se pode/deve discutir. É para ser tudo discutido, mas sempre com o respeito que a Liberdade exige.

25 de abril: agora e para sempre, sempre!

Comments

  1. António de Almeida says:

    Venham mais posts, Matilde.
    Viva a Liberdade!

  2. JgMenos says:

    Estamos nisto!
    Nem sabem o porquê de Abril, nem sabem o porquê de Novembro.
    Sabem que Abril é Abril e Novembro é Novembro, o que já é alguma coisinha.

    • POIS! says:

      Pois é um mistério!

      Que alguém como V. Exa, que evidencia uma tão tamanha sabedoria, tenha tido tanta dificuldade em fazer a 4ª classe.

      E outros que até são licenciados…é uma vergonha!

  3. estevesayres says:

    25 de Abril – em tempo de balanço impõe-se a visão autónoma do proletariado!

    O discurso que Marcelo Rebelo de Sousa proferiu na Assembleia da República, no âmbito das “comemorações” dos 47 anos sobre o golpe militar ocorrido a 25 de Abril de 1974, mereceu a unanimidade de TODOS os partidos do “arco parlamentar”.

    Apesar de este facto parecer traduzir a derrota definitiva do proletariado revolucionário, bem pelo contrário, traduz um passo vitorioso para a Revolução comunista. Isto porque, é cada vez mais clara a aliança explícita e implícita entre todos os partidos que têm assento na Assembleia da República, no momento presente. Não haverá, como no passado recente, mais margem de manobra para toda a falsa esquerda escamotear as sucessivas traições que protagonizou contra os interesses da classe operária e seus aliados, nem poderão mais dizer que o seu objectivo é combater a burguesia, o capitalismo ou, mesmo, o imperialismo.

    Os campos estão cada vez mais claros! De um lado da barricada – TODOS os partidos do “arco parlamentar” – que representam os interesses dos diferentes sectores da burguesia que, perante o colapso do sistema capitalista e imperialista, a braços com uma profunda e sistémica crise económica – agravada por uma crise pandémica – se sentem impelidos a uma espécie de “união nacional”, numa vã tentativa de preservarem as suas mordomias, obtidas à custa da venda a pataco do país e da brutal exploração dos operários e demais trabalhadores assalariados.

    Do outro lado da barricada, o proletariado revolucionário e o seu Partido, os marxistas, que lutam por uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem, da fome, da miséria, da humilhação, livre do imperialismo e das guerras e genocídio que provoca para saquear as riquezas planetárias, exaurindo os recursos e provocando danos irreversíveis à situação climática e à biodiversidade

    Nem mesmo o espectáculo em torno da participação do partido de extrema-direita – o Iniciativa Liberal – na marcha fúnebre do 25 de Abril, que ocorreu hoje, e uma vez mais, na Av. Da Liberdade, alterou, de alguma forma, a questão principal – a de que, após várias fases, durante as quais, fruto da traição miserável da falsa esquerda, a revolução se foi extinguindo e a classe operária viu cada vez mais as suas conquistas serem despedaçadas, entrámos na fase final do sistema capitalista, obsoleta e prenunciadora da sua morte.
    O 25 de Abril de 1974 caracterizou-se por ser um golpe de estado que visava dar resposta a reclamações corporativas por parte da baixa oficialagem – capitães, sobretudo – que se consideravam prejudicados pelos facto de, aos oficiais milicianos serem proporcionadas as mesmas condições salariais – e não só – que a eles próprios.

    Hoje, qualquer um percebe que, só pelo facto de naquele dia, há 47 anos, e contrariando as ordens do MFA, os operários e as massas populares, terem vindo para a rua, é que aquilo que inicialmente foi desenhado como um golpe que pretendia mudar um governo de um sector da burguesia mais reaccionário e brutal, por outro governo burguês que afivelasse uma máscara de “democrata”, não teve sucesso.

    A onda revolucionária que se gerou naquele dia, frustrou os intentos iniciais dos golpistas. Ainda assim, virtude da traição miserável de revisionistas, neo-revisionistas e demais oportunistas, o sector da pequena-burguesia que se opôs ao golpe social-fascista em 25 de Novembro de 1975, criou as condições para que o projecto inicialmente gizado pelo MFA, fosse retomado e prosseguido.
    Tal como os verdadeiros comunistas sempre o denunciaram, sendo a natureza de classe do golpe militar burguesa, bem como a sua agenda política, os sucessivos Pactos Partidos/MFA só serviram para alterar, a favor da burguesia, as relações de força que, fruto da onda revolucionária que se gerou logo no dia 25 de Abril de 1974, estavam, então, a favor dos interesses da classe operária e restantes trabalhadores assalariados.

    Os marxistas sempre afirmaram – e a história mundial comprova-o com exemplos dramáticos – que nenhum golpe de estado gera o impulso revolucionário necessário para que uma classe derrube outra e, ao fazê-lo, destrua um modo de produção para o substituir por outro. E foi exactamente isso que aconteceu a 25 de Abril de 1974. O modo de produção continuou a ser capitalista, o Estado herdou, em muitos aspectos – sobretudo no plano jurídico e judicial – a sua natureza fascista.

    Foram os revisionistas, os neo-revisionistas e demais oportunistas – ditos de esquerda – que “arrefeceram” o momento revolucionário que se gerou então e permitiram que a burguesia, de forma paulatina mas crescente e consolidada, reforçasse um poder que nunca, na realidade, perdeu.

    Hoje, a classe operária e os demais trabalhadores assalariados, devem retirar uma lição deste passado que os conduziu à derrota. E essa lição é a de que uma sublevação popular como aquela que ocorreu a 25 de Abril de 1974 tem de ter uma direcção operária, uma estratégia autónoma dos interesses da burguesia, e deve ter por objectivo estratégico último a destruição do modo de produção capitalista e a consequente construção do modo de produção comunista, para que o proletariado não sirva mais de tropa de choque de um sector da burguesia contra outro sector dessa classe exploradora.

    Para que, em vez de um novo 25 de Abril, a classe operária afirme o seu 1º de Maio!

    Publicada por Que o Silêncio dos Justos Não Mate Inocentes