A culpa morrerá solteira, Ihor já morreu

Ihor Homeniuk e a família (fotografia retirada do Diário de Notícias)

Caso SEF: MP deixa cair acusação de homicídio aos inspetores que terão agredido Ihor Homeniuk (sic)

(in Expresso, 12 de Abril de 2021)

12 de Março de 2020,

Serviço de Estrangeiros e Fronteiras,

Aeroporto Humberto Delgado,

Lisboa, Portugal.

   Há exactamente um ano e um mês, morria no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, às mãos de inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, um cidadão ucraniano, que tinha viajado para Portugal para trabalhar. Ihor Homeniuk, 40 anos de idade, ucraniano. Tinha viajado para Portugal, aterrando em Lisboa, para arranjar trabalho. Não tinha antecedentes criminais, não aparentava ser violento. Era casado e tinha uma filha. Ambas ficaram na Ucrânia. Ihor morreu em 2020, vítima de asfixia lenta. Três inspectores do SEF foram acusados de ter matado o cidadão ucraniano à pancada. Concluiu-se que Ihor agonizou durante dez horas, tendo hematomas, fracturas nas costelas e no tórax, lesões essas que o impediam de respirar convenientemente e que, aparentemente, levaram à sua morte. Alegadamente, Ihor Homeniuk terá sido espancado por inspectores do SEF durante uma hora, tendo sido deixado à sua sorte durante todo o resto do tempo. [Read more…]

Aos jovens da minha Terra

Sou o Francisco Salvador Figueiredo, tenho 21 anos, estou matriculado em Filosofia – sim, “matriculado” é a palavra certa – e estou a trabalhar em Karviná (República Checa) num projeto de voluntariado com crianças deficientes. Não, isto não é uma apresentação nos Alcoólicos Anónimos. Estejam descansados.

Nasci no Porto, vivi no centro do Porto desde os 10 anos e ainda tive uma passagem por Lisboa. Sim, faço parte dos privilegiados, seja lá o que isso for. Sempre me interessei por política. Era defensor da Marisa Matias em 2016, porque a história de vida dela e a sua qualidade em unir pessoas de várias cores políticas me fascinavam. Simpatizava com o Bloco, porque tinha 16 anos, queria igualdade, liberdade e tudo na paz. Entretanto, as minhas ideias foram caminhando para a direita e desde aí já pensei muita coisa, mas instalei-me rapidamente no Liberalismo. Atualmente, considero-me um liberal em toda a linha, focado no indivíduo e na liberdade como um bem em si mesmo. No entanto, este texto não é para falar da minha ideologia, é um texto dirigido para as pessoas da minha geração.

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Memória Fotográfica II: Lisboa – Cidade triste e alegre, as influências: Edward Steichen, William Klein e Robert Frank

Na sequência do texto anterior da rubrica Memória Fotográfica, abordaremos, desta feita, as influências estrangeiras da obra portuguesa Lisboa – Cidade triste e alegre, de Victor Palla e Costa Martins.

Na última edição, foi dito que a obra que retrata a Lisboa das décadas de 50 e 60 do século XX é percursora de uma nova forma de fotografar as cidades e quem nelas habita, sobretudo devido à influência de três autores: Edward Steichen, William Klein e Robert Frank. E as suas obras: The Family of ManNew York e Les Americains, por ordem de enunciação.

Comecemos, então, por falar de Edward Steichen e da obra The Family of Man.

The Family of Man, de Edward Steichen, 1955

Edward Steichen nasceu no Luxemburgo no ano de 1879 e foi um fotógrafo de relevo na primeira metade do século XX. Imigra, com apenas um ano de idade, com os seus pais, para os Estados Unidos da América, onde, aos vinte anos, começa a desenvolver o interesse pela arte fotográfica. [Read more…]

Próximo dia 25 de Abril: É dia da Revolta!

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Reacções ao caso Sócrates – Adaptar-me ao envelhecimento

De ano para ano, de mês para mês, de dia para dia, sinto-me a perder capacidade de compreensão do que me rodeia. De início pensava que era cansaço, depois que talvez fosse de dedicar poucas horas ao sono, até que sim, um gajo assume a consciência de que envelhece, o raciocínio vai deixando de fluir da mesma forma e a incompreensão tolhendo-nos. Envelhecer mentalmente é, afinal, ir perdendo lentamente a faculdade de adaptação ao meio. Daí o progressivo isolamento…
Escrevi lentamente, porque assim é, mas creiam que agora tudo parece ter sido num ápice, num instante, como se diz, de um momento para o outro.
Mas vem esta confissão a propósito de quê?

Da solidão que sinto apoderar-se de mim, sem estar só, entenda-se.
Consigo compreender profundas indignações com as injustiças, mas esta em particular, a que visa apenas Sócrates e Ivo Rosa, com sensibilidades assomadas de aleivosia contra duas pessoas, quando vivemos a corrupção em Democracia há quase meio século, com casos atrás de casos, com compadrios à vista de todos, com uma indecente promiscuidade entre negócios e política com a alta-finança a corromper a eito, [Read more…]

Sócrates, o multivitamínico

Não tenho instrumentos nem conhecimentos que me permitam avaliar as decisões do juiz Ivo Rosa. Não tenho grande fé na humanidade, respirando apenas uma uma leve esperança de que o confronto dialéctico da vida nos leve, por vezes, a um caminho menos injusto, menos desequilibrado.

José Sócrates representa, para mim, o pior de Portugal, o chico-esperto que finge frontalidade, mas que é só desonesto, o politicote vácuo, uma figura que fica bem numa galeria cheia de medíocres como Durão Barroso, Cavaco Silva, Passos Coelho ou António Costa, todos chefes de uma comandita que, ao mesmo tempo, mantém e corrói a democracia portuguesa, esse território habitado por praticantes de uma corrupção legal, que sobrevive à custa de incompreensíveis prescrições, constantes de leis criadas pelos amigos daqueles irão beneficiar com essas mesmas prescrições.

José Sócrates foi um dos piores primeiros-ministros de Portugal, num campeonato em que quase todos andam perto dos lugares cimeiros. Entregou a tutela da minha área profissional a Maria de Lurdes Rodrigues, uma figura amarga e sinistra, ignorante atrevida erigida em senadora da Educação. Sócrates é, ainda, uma figurinha irritante e suscita-me uma embirração que me levou ao ponto de ficar grosseiramente satisfeito por ter sido preso, quando, na realidade, me faz impressão a facilidade com se recorre à prisão preventiva. A minha intuição diz-me que Sócrates é culpado de tudo o que é acusado e apostaria que ainda há muito de que deveria ser acusado, mas não se sabe o quê. Com a sobranceria que lhe é característica, teve o atrevimento de vir considerar-se inocente, fingindo que não houve prescrições e esquecendo-se selectivamente de que ainda irá a julgamento, podendo, por isso, vir a ser condenado. [Read more…]