Os donos do 25 de Abril e os atentados à liberdade

(João Oliveira, ex-jornalista)

Portugal celebrou no domingo o dia em que a mais longa ditadura da Europa Ocidental no século XX caiu por terra, dando lugar à liberdade e ao início da construção de um Estado livre e democrático, ideologicamente pluripartidário. Desde então, a preservação e defesa dos nossos direitos, liberdades e garantias têm sido um trabalho contínuo de todos, para todos, tanto à esquerda como à direita.

A ideia de que as celebrações do 25 de Abril possam ser tomadas como património de um só lado da barricada é não só intelectualmente desonesta, mas também ofensiva. A presunção de que a nossa liberdade só pode ser celebrada por um clube restrito é, na sua essência, uma subversão total dos valores de Abril e, na prática, um desserviço à memória dos que tanto arriscaram para que pudéssemos descer avenidas e, sem medo, cantar Grândolas e grandoladas.

Mesmo que seja historicamente notória a ausência da direita nas celebrações públicas desta data – o que invariavelmente tem concedido espaço à esquerda para tomar as rédeas na matéria –, a recusa da participação a um partido de fora da esfera da esquerda neste desfile é intolerável e inaceitável. A situação pandémica, a ser considerada como impeditiva de tais celebrações, teria que sê-lo para todos, tal como o foi em 2020. Não podem existir dois pesos e duas medidas no que a um património que é de todos os Portugueses diz respeito. A liberdade não é, nem deve ser nunca, vista como um bem passível de ser apropriado.

A liberdade conquista-se todos os dias, não tem donos, muito menos carece de autorização.

A arrogância dos pretensos donos do 25 de Abril não só insulta os que livremente pensam diferente, como degrada a própria noção de liberdade, porque dá aos que se dizem seus tutores a convicção de estarem acima do escrutínio e do debate de ideias. É essa confiança excessiva que depois forma consensos acríticos que atentam contra as liberdades individuais, por exemplo através do que parece agora ser um interminável estado de emergência, totalmente arbitrário, abusivo e desproporcional, quase sem escrutínio e com a complacência do maior partido da oposição. Um partido que conta, aliás, com um líder que, por um lado, diz publicamente estar disponível para aprovar os estados de emergência que este Governo bem entender, mas por outro não se coíbe de criticar as medidas que derivam desse autêntico cheque em branco por si passado.

Não podemos esquecer que o António Costa que usa a Constituição para tentar evitar distribuir apoios sociais a quem mais deles precisa é o mesmo que defendeu que o confinamento é para manter, “diga a Constituição o que diga [sic]”. Foi o primeiro-ministro que o disse – e não um qualquer perigoso “neoliberal” do tempo da Troika –, quando confrontado com a impossibilidade de manter o dever de recolhimento com o estado de calamidade, algo que apenas pode ser feito ao abrigo de um estado de emergência.

Isto diz muito da arbitrariedade com que este Governo tem vindo a conduzir a sua actuação na resposta à pandemia: a alternância entre estado de emergência e estado de calamidade é feita por motivos puramente políticos e ideológicos, por um executivo que já mostrou, em várias ocasiões, ter a propaganda, as sondagens e a resposta aos focus groups no topo da agenda e das prioridades, mais do que o bem e a saúde públicos.

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Hugo Miguel, Pedro Pinho e o Futebol Português entraram num bar…

Ontem, no final do jogo de futebol entre o Moreirense e o FC Porto, um repórter de imagem da TVI foi agredido pelo empresário Pedro Pinho. Sobre este empresário existem várias histórias, algumas lendas e não menos narrativas. Nunca se sabe o que é a verdade ou o que não passa de mera lenda.

Entretanto, segundo a imprensa, tornou-se empresário de futebol (sócio ou antigo sócio de Alexandre Pinto da Costa?) e foi representante de Bruno Fernandes (hoje jogador do Manchester United) e, ontem, alegadamente, agrediu um repórter de imagem da TVI.

Entre agressões a jornalistas (atire a primeira pedra o adepto de um dos três grandes…), cenas de pancadaria entre claques (atire a primeira pedra…), assassinatos de adeptos, intimidações a quem discorda, a jogadores, a treinadores ou a árbitros e dirigentes (venha de lá o calhau), o futebol português é pasto de toda a impunidade. E se uns atiram com o apito dourado, outros atiram com uma porta, a 18, um banco (o BES/BPN) e, quanto a escutas, existem para todos os gostos e feitios. E a impunidade é total. Absoluta.

E depois, depois temos o Hugo Miguel. Tanto na qualidade (sobretudo na falta dela) de árbitro ou de VAR. Depois de todos os mails que foram publicados na internet, depois dos casos denunciados por, entre outros, Rui Pinto, aconteceu alguma coisa? Alguém foi erradicado do futebol? Nada. “No pasa nada”. Citando o nosso Fernando Nabais, “a Federação não faz nada?”. Nada. Nem a federação, nem a liga, nem a justiça, nem os diferentes responsáveis políticos. Nada. “São coisas do futebol”, dizem eles. São, são. Vamos todos acreditar que é isso.

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