PPD/PSD: 50 anos de um ADN mal resolvido

O PPD surge no pós-25 de Abril, pela mão de, entre outros, outrora liberais da Assembleia Nacional. A dita Ala Liberal tolerada pelo Estado Novo. Como se tratasse de uma irreverência bem comportada, em nada semelhante à contestação merecedora de espancamento, prisão, deportação ou mesmo assassinato.

Não foi difícil que, em pouco tempo, começassem apelidos pouco elogiosos, como “guarda-chuva dos fascistas”. Um estigma que cedo Francisco Sá Carneiro percebeu que tinha de resolver. Tanto mais que o socialismo era a palavra de ordem.

Ao tempo, ser de Esquerda era ser de vanguarda e afinava pelo diapasão dominante. E nada como a Social-Democracia, para o PPD ser legitimamente de Esquerda com o carimbo PSD que, à época, ser liberal não seria bom caminho.

Já o PPD defendia – ou dizia defender -, então, o socialismo. E até tentou entrar para a Internacional Socialista. Mas, Mário Soares não andava a dormir.

Surge, então, em Outubro de 1976, o PSD (curiosamente o mesmo nome de um partido criado por Adelino da Palma Carlos, que não seguiu caminho), que se apresenta de Esquerda, na palavra dos seus próprios fundadores.

Ficou, apenas, a proclamação de baptismo e nada mais. Porque ao longo das décadas que se seguiram, o PSD foi tudo menos socialista. Nem sequer Social-Democrata. Pois que a Social-Democracia é coisa que só o Partido Socialista, de quando em vez, foi e vai sendo, naqueles raros exercícios de socialismo que pratica. É que, ao longo da maior parte da história da democracia portuguesa, o socialismo está para o Partido Socialista, como Clark Kent está para o Super-Homem.

Mas, voltando ao PSD, desde o modelo económico traçado durante o Cavaquismo, até à doutrinação Passista do “ir além da Troika”, feitas as contas, o PSD não é de Esquerda; não é socialista; tem medo de dizer que é de Direita; balança entre o conservadorismo e o liberalismo quer na economia quer nos costumes; face à ameaça do Chega na disputa do seu eleitorado, exercita uns passes de dança entre o popularucho e o conservadorismo saudosista; diz-se reformador e é profundamente messiânico.

Quem o viu e quem o vê: está na mesma.

Comments

  1. Carlos Almeida says:

    Exactamente. Eu não diria melhor.

  2. JgMenos says:

    Quando todo o javardo se dizia revolucionário e havia um montão deles fardados e armados, até o PS proclamava a plenos pulmões ser marxista, e gritava-o pelas ruas a plenos pulmões.
    Foram-se as fardas, mas não há escassez de javardos de esquerda a alimentarem um coral de imbecilidades cujo efeito visível é a mediocridade do que se vai fazendo para eliminar a miséria e a dependência de esmolas que cedo se tornarão escassas.

    • Portanto, afinal nunca houve xuxalismo. Já sabíamos que sabia.
      E, portanto, não havendo socialismo, restam, de facto, as imbecilidades, para obedecer a capital que já nem é o português, no caminho único, não de acabar a esmolinha, mas o quinhão do trabalho.
      E nem assim lhe mijam…

  3. JoaoSemRegras says:

    Psd sempre foi um partido de fachos liberais que se limitaram a teocar de roupa. Nunca enganaram alguém, mas compraram o voto dos saudosistas da outra senhora com dinheiros do grande capital disfarçado de fundos europeus

  4. Carlos Almeida says:

    Se nós reportamos as palavras de Cavaco Silva afirmando ser .o PDD antes PPD um partido interclassista e de as compararmos com o corporativismo, a doutrina dominante de Salazar e Caetano, vemos que no essencial não existem muitas diferenças.
    Claro que nessa altura ja não estávamos em ditadura e o problema da guerra colonial e do colonialismo tinha sido resolvido, mas o ideal corporativo estava lá e o nome de Partido Social Democrata servia sim para mascarar o facto.
    Sa Carneiro que era um liberal e não era ignorante chamou o partido que criiou de PPD – Partido Popular Democrático , na área do centro direita por alguma razão.
    Neste momento a etiqueta de PSD.nao significa nada, porque qualquer pessoa que use a cabeça para pensar, sabe que o PSD nada tem a ver com a Social Democracia.

  5. Nortenho says:

    Diz o presidente do PSD na RTP

    “”Maior elogio que se pode fazer ao PSD e ao seu líder” é ligação à raiz social-democrata, afirmou Montenegro

    Ignorantes e vigaristas

    https://www.rtp.pt/noticias/lusa/maior-elogio-que-se-pode-fazer-ao-psd-e-ao-seu-lider-e-ligacao-a-raiz-social-democrata-afirmou-montenegro_n1569636

  6. JgMenos says:

    Todo o ignorante saberá que a social-democracia dos anos 74 e seguintes tinha nos países nórdicos a sua referência primeira.
    Por cá, era promovido lê-la como ‘rumo ao socialismo’ a toque-de-caixa de uma cambada de grunhos armados e em fuga das guerras.
    E ainda hoje uma cambada prossegue promovendo a mesma treta, agora a toque-de-vozerio composto das imbecilidades costumeiras.
    Entretanto, lá pelo norte, os seus povos procuram livrar-se das fantasias que lhes trouxeram as inquietudes do presente.

    • Ora bem, por isso é que era preciso livrarem-se deles, ainda a eurolândia se transformava em qualquer coisa de relevante. Lá pelo norte, de facto, transforma-se num paraíso, desde que não se olhe para as pessoas.
      E não é que, sem as tais “fantasias”, são ultrapassados por quem não segue as regras e os humilha quando vão lá chateados por isso?

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