Voyeurs

©Rear Window

©Rear Window

Talvez tenham lido a história na imprensa portuguesa, há duas ou três semanas, do dono de um motel nos EUA que espiou os clientes durante quase 30 anos. A história surgiu na revista New Yorker, contada pelo veterano repórter Gay Talese, com o título “The Voyeur’s Motel”, e merece ser lida com a atenção minuciosa, ainda que um pouco inquieta, de um voyeur.

Gerald Foos comprou um motel, na década de 1960, com a intenção de montar no edifício um sistema que lhe permitisse espiar os clientes nos quartos. Entre o primeiro andar e o telhado, mandou construir um piso que lhe permitisse caminhar sobre os quartos dos hóspedes, agachar-se no chão e espreitá-los através do que parecia apenas uma grelha de ventilação. Do seu dissimulado posto de vigia, assistiu a tudo o que se passava nos quartos: discussões, sexo, orgias, consumo de drogas, violência. Interessavam-no a nudez e, sobretudo, as práticas sexuais. Sexo conjugal, adúltero, heterossexual, homossexual, em grupo, com fetiches de todo o tipo. A sua intenção, garante, era científica: observar e registar por escrito o comportamento sexual de um conjunto tão variado quanto possível de seres humanos que, sem se saber observados, se comportariam de forma espontânea, ao contrário do que acontece com os voluntários dos estudos científicos. Reconhecia que era um voyeur, que obtinha satisfação sexual com a sua actividade, mas que não se sentia um tarado, antes um cientista, que prestava um serviço à humanidade com as suas observações e registos. [Read more…]

Malvados fofinhos

Há umas semanas, aterrorizei o meu filho. Disse-lhe que íamos ver um filme emocionante, em que talvez houvesse um crime e, consequentemente, um criminoso, mas que era um grande mistério. Adorou a ideia. O filme era “A Janela Indiscreta” e ele viu-o com fascínio até à última cena. Não terá entendido grande coisa daquilo que no filme é também uma profunda reflexão sobre a solidão ou o voyeurismo, mas vibrou com a trama policial. Vibrou e assustou-se terrivelmente. Tanto que nessa noite teve dificuldades em adormecer porque só pensava no assassino que poderia entrar pela porta. Ou pela janela. Ou pelo telhado. Que barulho foi este?

Agora já não tem medo nenhum mas ainda se lembra dos nomes dos protagonistas e de muitos detalhes da trama. Esse Hitchcock tem mais filmes? [Read more…]

O retrato de Jennie

Aquele conselho tonto – não voltes aos sítios onde foste feliz –  não é para levar a sério, a gente aprende isso, mas de tanto ouvi-lo por vezes acreditámos nele, e traçamos curvas no caminho e até andamos às arrecuas para evitar o desencanto, como se pudéssemos fugir dele. Por isso andei eu anos a fio a fugir de um filme que me deixou enredada numa espécie de encantamento quando era criança, com medo de agora achá-lo indigno desse encantamento. A desculpa oficial é que o filme nunca me aparecia em DVD, jamais o apanhava nas televisões, e na internet apenas encontrava fragmentos, que tampouco queria ver, porque, justificava-me, só queria vê-lo íntegro, como no passado. Claro que eu podia ter procurado mais se não fosse o medo de macular a sua existência perfeita na minha memória. “Foste feliz ali, não queiras regressar”, uma parvoíce.

Nestes primeiros dias do ano, decidida a corrigir falhas várias, e a gente tem sempre de começar por algum lado nesses ingénuos propósitos de início de ano, lembrei-me dele e encontrei-o, agora sim, de ponta a ponta, na internet, e sentei-me por fim a rever o que já não recordava e a descobrir que alguns farrapos de memória, de origem incerta, provinham daí. O filme tinha deixado a sua semente na minha imaginação e essa semente germinara de uma forma surpreendente. Descobri que uma ideia que há muito me atormenta e sobre a qual queria escrever é, de forma metafórica, a premissa do filme. Talvez eu não tivesse idade para compreender o filme, na época em que o vi, e por isso o tenha visto com os olhos do coração, e isso explique porque, não o recordando bem, ele me acompanhou por tanto tempo. [Read more…]

Hoje dá na net: Notorious

Notorious, obra do mestre Alfred Hitchcock, com Cary Grant e Ingrid Bergman.

Pedem a Alicia Huberman para espiar os amigos nazis do próprio pai, que operam a partir do Rio de Janeiro… (Página IMBD)

Em inglês, sem legendas.

Hoje dá na net: Os 39 degraus

Filme realizado por Alfred Hitchcock, em 1935, com Robert Donat, Madeleine Carroll, Lucie Mannheim, Peggy Ashcroft and John Laurie. O argumento baseou-se num romance de John Buchan: um homem é injustamente acusado de homicídio e é obrigado a fugir para provar a sua inocência. Um dos primeiros filmes do mestre do suspense, filmado ainda em Inglaterra. Sem legendas. Para além do interesse cinéfilo, é especialmente aconselhado a todos os que queiram deslocar-se ao Pequeno Auditório do Teatro Rivoli, no Porto: até 24 de Março, está em cena uma comédia baseada no filme.