Talvez tenham lido a história na imprensa portuguesa, há duas ou três semanas, do dono de um motel nos EUA que espiou os clientes durante quase 30 anos. A história surgiu na revista New Yorker, contada pelo veterano repórter Gay Talese, com o título “The Voyeur’s Motel”, e merece ser lida com a atenção minuciosa, ainda que um pouco inquieta, de um voyeur.
Gerald Foos comprou um motel, na década de 1960, com a intenção de montar no edifício um sistema que lhe permitisse espiar os clientes nos quartos. Entre o primeiro andar e o telhado, mandou construir um piso que lhe permitisse caminhar sobre os quartos dos hóspedes, agachar-se no chão e espreitá-los através do que parecia apenas uma grelha de ventilação. Do seu dissimulado posto de vigia, assistiu a tudo o que se passava nos quartos: discussões, sexo, orgias, consumo de drogas, violência. Interessavam-no a nudez e, sobretudo, as práticas sexuais. Sexo conjugal, adúltero, heterossexual, homossexual, em grupo, com fetiches de todo o tipo. A sua intenção, garante, era científica: observar e registar por escrito o comportamento sexual de um conjunto tão variado quanto possível de seres humanos que, sem se saber observados, se comportariam de forma espontânea, ao contrário do que acontece com os voluntários dos estudos científicos. Reconhecia que era um voyeur, que obtinha satisfação sexual com a sua actividade, mas que não se sentia um tarado, antes um cientista, que prestava um serviço à humanidade com as suas observações e registos. [Read more…]
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