Latim em risco na cidade do Porto

Desde 2005, os ministros da Educação têm como única função retirar, o mais possível, o Estado da área que estão a tutelar: o que interessa, portanto, é cortar. É claro que isso é anunciado com eufemismos vários como a “optimização de recursos” ou o célebre “fazer mais com menos”, essa frase cinicamente repetida por Nuno Crato. É em nome dessa poupança criminosa (porque é evidente que há poupança virtuosa) que, entre muitas outras medidas, se aumentou o número de alunos por turma e se diminuiu o número de horas semanais atribuídas a algumas disciplinas: o único objectivo é despedir professores e funcionários.

Para além disso, há uma visão utilitarista do ensino que acaba por contribuir para o empobrecimento geral do currículo, com reflexos gravíssimos na formação integral do cidadão, que deveria estar ao alcance de todos. A coberto de palavras como “empregabilidade” e “empreendedorismo”, há áreas, como as Humanidades, que ficam transformadas em luxos acessíveis alunos cujos pais se preocupem com a referida “formação integral”.

Não é possível negar, a propósito, a importância da generalização do estudo do Latim. Assim, por um lado, se houvesse Ministério da Educação em Portugal, deveria existir um maior número de alunos a estudar Latim; por outro, o Latim, tal como outras disciplinas consideradas fundamentais, deveriam ser alvo de uma discriminação positiva que permitiria abrir turmas pequenas ou mesmo mínimas.

Na cidade do Porto, a segunda cidade do país, o Latim está em risco de desaparecer. Foi lançado um alerta para que os alunos interessados se matriculem na Escola Rodrigues de Freitas, de modo a poder-se encontrar um número mínimo que possa permitir a formação de uma turma. Realce-se, a propósito, que os professores Alexandra Azevedo e Jorge Moranguinho têm aí realizado um trabalho meritório na área do ensino do Latim, valendo, ainda, a pena lembrar que António Gil Cucu, aluno da escola, ganhou, há pouco tempo, um prémio internacional, mesmo se não mereceu apoio do Estado, ao contrário dos milionários que fazem parte da selecção nacional de futebol.

[Read more…]

Empreendedorismo, o ponto G da direita

Há cerca de um ano, um jovem de 16 anos ganhou um concurso internacional de Latim, graças ao seu próprio esforço, à competência dos professores, ao acompanhamento dos pais e apesar do desinteresse do Ministério da Educação, talvez porque o dito concurso se relacionava com um assunto estranho ao referido ministério: a Educação.

Esta semana, outro jovem ganhou notoriedade por, na opinião de muitos, ser um exemplo de empreendedorismo e por, para cúmulo, ter conseguido calar Raquel Varela, uma doutorada que acumula, ainda, o defeito de ser de esquerda.

O caso de Martim Neves, o jovem empreendedor, tem sido aproveitado por uma certa direita muito marialva para reforçar a comunicação de algumas ideias. Por outro lado, alguma esquerda distraída criticou o tom doutoral da doutorada ou a falta de oportunidade da sua intervenção. Entre defesas e contra-ataques respigados aqui e ali, foi possível assinalar as seguintes atitudes/afirmações: [Read more…]

Ainda sobre a vitória de um aluno de Latim em Itália

Jorge Moranguinho

Professor de Latim e de Português

Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas, Porto

António Gil da Silva Cucu, de 16 anos de idade, frequenta o 11.º ano de escolaridade do Curso de Línguas e Humanidades, na Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas, no Porto, e venceu, na manhã de domingo do passado dia 6 de Maio, em Venosa, o XXVI Certamen Horatianum.

Organizado, desde 1987, pelo Liceo Classico Statale “Quinto Orazio Flacco”, o prestigiado concurso decorreu nos dias 4, 5 e 6 de Maio, tendo participado 125 escolas italianas e 5 estrangeiras (da Áustria, Bulgária, Croácia, Roménia e de Portugal). Em homenagem ao poeta venusino, a competição destina-se a estudantes que frequentam o penúltimo ano de escolaridade de liceus clássicos italianos e de escolas secundárias estrangeiras que integrem, na sua oferta formativa, o ensino do latim.

A prova consiste na tradução e no comentário linguístico e histórico-literário de um ou mais extractos da obra de Horácio, um dos poetas mais notáveis da literatura latina, que, a par de Virgílio, seu contemporâneo, maior influência exerceu nas literaturas modernas, depois do século XV. [Read more…]

Aluno que venceu concurso internacional viajou a expensas próprias

Jorge Moranguinho, o professor de António Gil Cucu, teve a gentileza e a frontalidade de comentar este texto, respondendo às dúvidas sobre o contributo financeiro do Ministério da Educação para a participação do aluno num concurso internacional. Passo a citar:

Nas anteriores participações em concursos semelhantes ao Certamen Horatianum, como o Certamen Ciceronianum Arpinas ou o Certamen Ovidianum Sulmonense, os professores e os alunos portugueses foram sempre a expensas próprias. Este ano, a coisa não foi diferente. Exceptuando as despesas relativas à estada em Venosa, custeadas pela organização do concurso, todas as despesas de viagem (Porto – Roma – Porto e Roma – Venosa – Roma) e de alojamento e alimentação em Roma foram suportadas por mim e pelo aluno. Em Portugal, o escândalo nunca é de mais, a verdade é que é de menos. Talvez, um dia, o Ministério faça alguma coisa pela Educação!

 A participação de um português em representação do país em qualquer concurso internacional, independentemente do resultado, deveria merecer do Estado, no mínimo, a ponderação sobre a ajuda financeira ou sobre qualquer outro tipo de contributo. Pergunto-me, a propósito, se Cristiano Ronaldo irá pagar o alojamento, enquanto estiver ao serviço da selecção nacional.

A propósito de um prémio internacional: os contributos do Ministério da Educação

No passado dia 7, escrevi um texto em louvor de António Gil Cucu, o aluno português que venceu um prémio de tradução de Latim, em Itália. Mantenho, evidentemente, o elogio, reforçando a ideia de que tudo se deveu ao mérito individual de alguns, contra a corrente de ignorância e de incúria em que é arrastado o país. [Read more…]

Vitória em Latim: Glória a António Gil Cucu!

Num país que continua a destruir a Educação, a Cultura e, especialmente, as Humanidades, a vitória de António Gil Cucu no Certamen Horatianum deve constituir uma ocasião para dar os parabéns ao aluno, em primeiro lugar, aos pais do aluno e, também, a Alexandra Azevedo e a Jorge Moranguinho, professores de Latim. [Read more…]