Questa cartolina è dedicata ai miei genitori
ou seja, este postal é dedicado aos meus pais. Duvido que alguma vez o leiam. E não vou exatamente escrever sobre eles ou para eles. Mas hoje vi, com o Stefano (finalmente, depois de tantos adiamentos) um filme. Um documentário melhor dizendo, chamado exatamente ‘Genitori’** e aquilo que é relatado (de uma bela forma, diga-se desde já, muito sociológica e objetiva, sem cair na lamechice fácil) são as histórias dos pais que têm filhos ‘diferentes’. Deveria dizer, muito mais adequadamente, das mães. São elas as protagonistas. Também há homens, mas muito poucos. As ‘cuidadoras’, já o sabemos e há muitos estudos sociológicos que nos mostram isso, são as mulheres. O documentário ‘Genitori’ é de Alberto Fasulo e foi apresentado fora de competição no Festival de Locarno deste ano. Por estes dias (de 15 a 22 de setembro) Roma enche-se com os filmes (em várias salas da cidade) dos Festivais de Veneza e Locarno. Tenho pena de não poder ficar aqui mais tempo, para aproveitar esta coisa maravilhosa. Sei que a maior parte (quase todos) os filmes aqui apresentados jamais estrearão em Portugal (e quando digo Portugal, estou a dizer Lisboa, bem entendido).
Mas voltando aos pais com filhos ‘diferentes’ e ao filme-documentário e aos meus próprios pais. Não é que eu seja muito ‘diferente’, mas nasci um bocadinho ‘diferente’ e há 48 anos, em Portugal, dentro da longa noite que vivíamos, isso era motivo suficiente para que os meus pais tivessem sofrido bastante com a minha ‘diferença’. No entanto, tal como muitos pais que aparecem em ‘Genitori’, os meus pais foram fortes e andaram sempre para a frente, fazendo o que podia ser feito e o que não podia ser feito, empurrando-me sempre também para a frente. Muita da minha independência e alguma da minha ‘força’ vem deles e desse modo como souberam sempre (mesmo se nem sempre de forma muito consciente, lidar com a essa minha, mesmo se pequena, ‘diferença’. Os pais e as mães do documentário narram as suas histórias e dificuldades. Os seus receios. A sua dor. Por duas ou três vezes estive ali à beira das lágrimas. Acho que o Stefano não notou. Mas tive um nó na garganta. Não sei se há amor maior no mundo do que o dos pais pelos seus filhos. Eu não tenho filhos. Mas conheço o amor dos meus pais.
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